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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

TRIBUNAL DA SANTA INQUISIÇÃO



                Como já sabemos, com a queda do Império Romano, a Igreja Católica Apostólica Romana foi a herdeira natural do poder, inclusive militar. Essa herança se refletiu por longos séculos e  com isso tanto a violência como as guerras fizeram parte dos papados mais radicais. 
                  A Inquisitiom Haereticae Privitatis Sanctum Officium foi o nome, em latim, da Santa Inquisição criada pela Igreja para combater o sincretismo religioso dos chamados infiéis. Foi intitulada numa época em que a igreja exercia grande poder sobre os reinos europeus. 
                Os objetivos iniciais eram estritamente religiosos, mas se tornou um instrumento político e econômico usado tanto pela igreja como por diversos soberanos que seguiam as orientações do Santo Ofício. Ela permitia que pessoas e até mesmo populações inteiras fossem acusadas de práticas indevidas e executadas de forma arbitrária, sem direito à defesa, em benefício de uma minoria de poderosos. 
                 Em nome de Deus, com interpretações particulares de alguns textos considerados sagrados, a Inquisição levou pessoas a matar cruelmente aqueles que não seguissem o mesmo ponto de vista. Na verdade, era uma forma justificada de tirar a vida daqueles que poderiam se tornar uma ameaça futura para a igreja, como também para os poderosos. 
                  Muito antes da Inquisição existir, o Cristianismo pregado pela Igreja já era imposto através da força. Evidentemente, esta postura, nada tem a ver com o humilde pregador do amor e da paz chamado Jesus de Nazaré. Uma delas foi a sistemática perseguição de judeus. 
                   Em 1215, o Quarto Concílio de Latrão, estabeleceu que todos os judeus em terras católicas deveriam usar emblemas ou roupas que os diferenciassem dos outros. Foram confinados em guetos, tornando-os em uma classe odiosa em boa parte da Europa. Essa atitude nos torna impossível deixar de lembrar da Segunda Guerra Mundial com semelhantes atrocidades cometidas nos anos 1940.
                 Também as Cruzadas, que duraram do século 11 ao século 14, e tiveram a participação de grandes reis como Ricardo I e Luiz IX, além do grande chefe e guia muçulmano Saladino, tinham nítidos objetivos econômicos e políticos. Não passaram de um conflito em que os europeus representantes da Igreja Católica saqueavam as mesquitas e matavam os seguidores de Alá sob a alegação de impor a religião católica a todos. Saladino tornou-se governador do Egito em 1169, o mais importante soberano do mundo muçulmano, e então planejou a união dos estados islâmicos para uma contraofensiva aos cristãos.  
               Já no final do século 4, em Trier, na Alemanha, diversos bispos executaram Prisciliano (Priscillian) e seus seguidores por  questionarem a Trindade e a Ressurreição. Ele foi a primeira pessoa a ser executada por heresia contra o Cristianismo pregado pela Igreja de então. Outro caso interessante se deu no ano  415 quando a cientista Hypatia, chefe da Biblioteca de Alexandria, foi espancada até a morte junto com outros seguidores de São Cirilo. 
                Na época de inquisição a maioria da população européia era católica e se submetia à Igreja com perigoso fanatismo religioso e, portanto, era facilmente manipulada. 
                   O termo heresia foi usado por cristãos para designar idéias contrárias às da Igreja oficial e consideradas falsas doutrinas. Matar hereges significava purificar o Cristianismo. A partir de então, uma verdadeira guerra santa foi realizada contra os seguidores de outras crenças ou religiões. Em nome de Deus, qualquer um poderia ser acusado de heresia e ser mandado vivo para a fogueira. 
             Em nosso dias essas histórias podem parecer  extremas, mas na época eram responsáveis por diversas acusações que resultaram na morte de muitos inocentes. 
            " Aqui abro um parênteses para dizer porque trouxe este assunto para este livro. Meu objetivo maior é transmitir aos leitores o pouco de conhecimento que tenho a respeito das religiões que ajudaram a moldar o mundo em que vivemos. Portanto, é importante que todos aqueles que professam uma determinada religião ou crença, saibam como ela se desenvolveu ao longo dos séculos. Mas, todas essas informações, em nada diminuem a essência benéfica de uma religião ou seita que procura ajudar e dar mais conforto às pessoas de boa fé. "
                Em 1022, o rei Roberto de Orleans, matou 13 hereges na fogueira. Em 1051, cristãos da comunidade alemã Goslar foram condenadas à forca por se recusarem a matar galinhas. 
              Pela postura da própria Igreja, os movimentos heréticos se expandiram pelo continente europeu. Os Papas, tal como os imperadores romanos, e o clero em geral só se preocupavam com riquezas matriais e acumulo de poder.  Foi esta postura, que certamente jamais seria permitida por Jesus Cristo, que provocou o descontentamento de muitos cristãos e propiciou o surgimento de diversas seitas consideradas heréticas, que buscavam pela verdadeira doutrina de Cristo. Nessa ocasião os cátaros foram dizimados por defenderem conceitos diferentes dos dogmas da Igreja. Os Waldensanos, seguidores leigos de Peter Waldo de Lyon, também foram alvo de acusações de heresia por mais de cinco séculos. Eles realizavam sermões nas ruas e, segundo as normas da Igreja, apenas os sacerdotes tinham esse direito. Finalmente, em 1487, o Papa Inocêncio VIII declarou uma cruzada contra os Waldensianos em Savóia, na França, resolvendo definitivamente o "problema"...
               A mais conhecida heresia da história da Igreja é a caça aos Cavaleiros Templários. Eram guerreiros de uma ordem que teve origem durante as Cruzadas. Foram acusados de cuspir em crucifixos e adorar o demônio. Torturados barbaramente, alguns confessaram e outros 70 foram queimados vivos. 
               No início do século 13, os bispos ganharam o poder de identificar, julgar e punir os que fossem considerados hereges, mas não deu certo. Então, a Igreja Romana começou a mandar inquisidores papais itinerantes para formar e conduzir os tribunais. Qualquer pessoa podia ser acusada de heresia, ser aprisionada sem poder ver a família e sem saber o nome do acusador. Se não confessava seus supostos delitos era torturada impiedosamente. (lembremos aqui a mártir francesa Joana D'Arc.) Tudo era feito com o consentimento do Papa Inocêncio IV, que autorizou a tortura em 1252. Além de serem obrigadas a se confessar hereges, as vítimas da Inquisição eram forçadas a denunciar familiares e amigos, para que eles também fossem submetidos aos processos de tortura. Aqueles que confessavam rapidamente recebiam penalidades mais leves. Entretanto, alguns réus recebiam penas graves, tornando-se prisioneiros perpétuos e tendo todos os seus bens confiscados pela Igreja. O patrimônio de cada herege podia determinar qual pena seria mais interessante para os objetivos da Igreja.
                Em 1231, um estatuto papal determinou que a fogueira fosse a punição-padrão para hereges. Mas, para disfarçar e não sujar tanto o nome da Igreja, as execuções deveriam ser realizadas por civis. 
              Por ocasião da peste bubônica, que tomou conta da Europa em 1348, espalhou-se a notícia de que os responsáveis pela doença eram os judeus que estavam envenenando os poços de água para contaminar toda a população. Esse boato hediondo resultou no massacre de judeus em mais de 300 cidades. Em 1349, em Mainz (Alemanha), cerca de seis mil judeus foram mortos de uma só vez. Em algumas regiões da Alemanha os judeus foram confinados em suas casas até morrerem de fome. Durante os três anos da Peste Negra, cerca de 350 grandes massacres foram realizados contra o povo judeu. É inacreditável a resistência desse povo que vem sofrendo a tantos séculos, sem nunca desistir de esperar que algum dia a cultura humana vença a ignorância e o preconceito.
                A Igreja Católica Apostólica Romana sempre teve um enorme poder. As pessoas que discordavam de alguns aspectos do Cristianismo passaram a ser consideradas bruxas.  Somente na caça às bruxas, a Santa Inquisição levou à morte, possivelmente, dois milhões de vítimas. Muitas mulheres e alguns homens foram torturados e morreram sob acusação de que voavam pelo céu e mantinham relações sexuais com Satã. As mulheres passaram a ser tratadas como seres traiçoeiros e desprezíveis, e milhares foram condenadas à morte simplesmente por ser mulher. Foi a partir de relatos desse tipo que a imagem feminina passou a ser associada ao demônio. 
                 As pessoas consideradas bruxas eram conhecedoras de sabedorias antigas e, portanto, tronavam-se uma ameaça para a soberania da Igreja. Na maioria das vezes eram condenadas à morte. O Papa Gregório IX já havia autorizado oficialmente a morte de bruxas na século 12, mas a "moda" só pegou mesmo no século 15. Em 1484, o Papa Inocêncio VII emitiu um boletim que enfatizava a existência de bruxas e dizia que os que pensassem ao contrário poderiam ser condenados por heresia. Como consequência houve grande aumento de condenações e suicídios humanos; um único inquisidor mandou, de uma só vez, 41 mulheres para a fogueira, acusadas de bruxaria. 
                Os civis encarregados de levar as pessoas á fogueira se tornaram populares e, ao mesmo tempo, temidos por toda a comunidade européia. Isto não estava nos planos da Igreja. O carrasco Robert Le Bourge ficou famoso por matar 183 pessoas na fogueira em uma só semana. Outro carrasco de destaque foi Bernardo Gui que condenou e confiscou todos os bens de 970 pessoas. Dessas, um terço foi conduzida para a prisão e 42 para a fogueira. 
             O medo das atrocidades fazia com que muitos acuados se convertessem ao Cristianismo. Como resultado, milhares de judeus e muçulmanos da Espanha se converteram. Mas logo foram acusados de não serem sinceros e de praticar suas religiões originais na clandestinidade. Os chamados "falsos cristãos" eram um novo alvo da Igreja e sua caça perdurou por longo tempo com a colaboração do rei Ferdinando e da rainha Isabel da Espanha. A partir de 1498, eles foram autorizados pelo Papa a reviverem a Inquisição contra os judeus e muçulmanos acusados de praticas religiosas secretas. Nessa etapa, conhecida como Inquisição Espanhola, o frei dominicano Tomás de Torquemada foi nomeado inquisidor geral, matando mais de duas mil pessoas na fogueira e tornando-se símbolo de crueldade cristã. Devemos sempre lembrar que Jesus Cristo era judeu.
               Em 1542, o Papa Paulo II resolveu acabar com a influência protestante na Itália. Surgiu, então, a Inquisição Romana espalhando terror e matando hereges por qualquer tipo de suspeita ou acusação. Foi nessa ocasião que figuras famosas como o filósofo e cientista Giordano Bruno e outros morreram sob acusações heréticas. A partir de então a Inquisição se espalhou por diversas partes do mundo. 
                A caça ás bruxas se espalhou por toda a Europa. Alemanha, Espanha, Suíça, Itália, França, Suécia, Inglaterra, Escócia e até mesmo a colônia norte-americana de Massachusetts se empenharam nas mais diversas perseguições. Nas colônias americanas, em nome de Deus, muitos nativos foram dizimados.  Qualquer um poderia ser considerado suspeito, aprisionado e torturado até confessar seus supostos "crimes" e denunciar seus "comparsas de bruxaria".
               Segundo os pesquisadores, a perseguição da Igreja Católica aos muçulmanos, judeus e hereges era uma luta em nome do Deus cristão, mas, também em nome da fé, além disso, muitas atrocidades foram cometidas por puro sadismo sexual e mundano. As mulheres recebiam tratamento diferenciado. Para serem torturadas, eram desnudas e tinham todos os pelos do corpo raspados. Isso evidencia que a verdadeira intenção era, também, satisfazer os instintos e as sádicas fantasias sexuais dos inquisidores. Elas, quase sempre, eram condenadas a esse tipo de tratamento que podia ser assistido publicamente. As mais belas e excêntricas eram as preferidas dos acusadores e suas execuções reuniam multidões, especialmente de poderosos senhores do clero. 
                As torturas das mulheres eram mais demoradas que a dos homens. Elas tinham as unhas arrancadas enquanto tenazes incandescentes (especie de alicate ou torques de ferro) eram aplicadas em seus seios. Diante de tanto sofrimento, a maioria acabava fazendo algum tipo de confissão e sua condenação era de acordo com ela. Na verdade, a Igreja sempre demonstrou seu total despreza às mulheres. Não se sabe ao certo quantas sofreram este tipo de tratamento, pois os registros desapareceram dos aquivos da Igreja, mas não há dúvida de que milhares delas foram condenadas a torturas até a morte. Segundo consta em poucos registros preservados, 5.000 mulheres foram mortas na província de Alsácia, 900 em Bamberg, 2.000 na Bavária, 311 em Vaud, 167 em Grenoble, 157em Wurzburg, sendo 133 em um único dia. 
                A igreja Católica tem feito um grande esforço no sentido de apagar a memória de um período tão sangrento de sua história. Mas, um currículo desses não se consegue apagar nem por "milagre".
               Em 15 de março de 2.000, o Papa João Paulo II, no documento "Memória e Reconciliação: a Igreja e as culpas do Passado", listou as incorreções e os pecados cometidos pela Igreja Católica no passado, quando, levada pelo seu crescente poder temporal, foi intolerante, opressora e até corrupta, mas isso é crime contra a humanidade. Aqui me vem a memória o grande assassino Hitler; poderia ele pedir perdão aos judeus e ser perdoado?
                 Com mais de 90 páginas, o documento de João Paulo II, se tornou a maior demonstração de expiação pública da história do catolicismo. Por meio dele, o Papa, em nome da Igreja, pediu perdão pela série de pecados cometidos desde sua origem. 
              É oportuno lembrar que muitos cristãos, inclusive do clero, eram radicalmente contra as práticas da Igreja naquela época, mas sentiam-se intimidados e não tinham como reagir diante do enorme poder que estava nas mãos dos seus principais dirigentes. 
               As igrejas sempre tiveram e, infelizmente, ainda tem grande domínio sobre a mente dos seus membros, que acreditam e acatam qualquer ordem vinda dos líderes religioso. Hoje, os objetivos continuam sendo dinheiro e poder político, mas felizmente já não se pratica crimes como na época da Santa Inquisição. As superstições só serão vencidas no dia em que prevalecer o conhecimento e a educação, que nunca interessaram às igrejas e tampouco aos políticos; eles preferem a massa humana ignorante e submissa. Por outro lado, não podemos generalizar, pois sempre existe membros com verdadeiro espírito cristão. O espírito pregado por Jesus de Nazaré.


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A história de cada um é um currículo de vida que não pode ser mudado, mas é também uma experiência que serve para iluminar o futuro.


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