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quinta-feira, 23 de agosto de 2018

O CELIBATO CLERICAL E A PEDOFILIA NA IGREJA




                O celibato já existia no século I, entre os eremitas e monges. Naquela época era considerado um estilo de vida opcional alternativo. Foram os políticos medievais que deram origem à disciplina do celibato clerical obrigatório na igreja.
                      O primeiro celibato obrigatório da Igreja Católica foi decretado pelo Concílio de Elvira (295 x 302), Elvira era uma simples província romana e por isso essa decisão não foi cumprida por toda a igreja. Já o Concílio de Nicéia (323), do Imperador Constantino, decretou que "todos os membros do clero estão proibidos de morar com qualquer mulher, com exceção da mãe, irmã ou tia". 
              Foi no ano 313 d. C. que o imperador romano Constantino legalizou o  Cristianismo dentro do império e, dando continuidade a seu plano de poder, construiu muitos templos e igrejas mais simples por todo o império romano, permitindo assim o seu crescimento em grande escala. 
                Com a legalização,  no ano 380 d. C., sob o governo de Teodósio, a igreja primitiva mudou de um grupo de pequenas comunidades perseguidas na fé para um poder mundial. A partir de então, muitas coisas mudaram para os cristãos. Seus líderes deixaram de se esconder e passaram a receber pagamento pelos seus trabalhos eclesiásticos com privilégios especiais na sociedade romana. Esses privilégios atraíram os membros da elite que eram homens treinados na vida pública. Foi então que surgiram os primeiros padres sem nenhum embasamento bíblico. Com a elite política usufruindo das benesses da igreja institucional, emergiu uma espécie de imitação do governo romano dentro da Igreja Católica. Governantes e súditos começaram a substituir as pequenas comunidades embasadas na família, às quais eram servidas por um sacerdócio local casado. Com o passar dos anos os novos padres romanos agiram, nas pequenas comunidades, no sentido de retirar a autoridade dos padres que eram casados a fim de consolidar o poder político ao seu redor. Assim, com a assistência do império romano, a liderança da igreja tornou-se uma hierarquia afastada das origens familiares. Criou-se a mentalidade de que essa classe governante estava acima do povo, e que eram representantes oficiais de deus na terra. 
                Com o passar dos anos, diversas mudanças aconteceram retirando os direitos do povo em favor dos políticos romanos. Instituiu-se a prática de que somente homens tivessem autoridade institucional. A Igreja Romana desviou-se dos costumes incentivados pelo Senhor Jesus Cristo, que sempre exaltava o papel da mulher na família e na sociedade. Elas tiveram sua condição rebaixada e, assim, criou-se o celibato clerical. Não demorou para este passasse a ser defendido como essencial, uma vez que celibatários eram mais livres e disponíveis. Com o tempo, o novo clero regular foi se destacando em relação ao clero secular familiar. Mas, nas "Sagradas Escrituras" não há nenhuma determinação a esse respeito. 
               Ao longo do tempo, para ampliar poderes políticos e econômicos, o celibato adquiriu  o status de espiritualidade especial, começando a denegrir a santidade matrimonial e a vida familiar. 
                 A antiga prática romana de abster-se das relações conjugais, para conservar energia antes de uma batalha ou de um evento esportivo, encontrou seu caminho na pratica litúrgica. Aos padres casados foi ordenado absterem-se de intimidade sexual com suas esposas na véspera da celebração das missas. O celibato tornou-se outra oportunidade politica nas mãos dos padres e bispos ambiciosos. Os oportunistas, que eram celibatários, usavam sua condição como ferramenta no sentido de diminuir a influência dos padres casados, criando desconfiança sobre suas reais abstinências sexuais. Com essa nova atitude negativa em direção às mulheres, a abstinência sexual começou a emergir na hierarquia, a qual se colocou em árduo contraste à saudável perspectiva familiar pregada por Cristo, que era objetivo central da igreja primitiva. O celibato foi então definitivamente estabelecido como o mais elevado estado de santidade e consequente supressão do sacerdócio casado. 
                 No ano 366, o Papa Damásio começou a perseguir o sacerdócio casado quando declarou que os padres podiam continuar a casar, porém ficavam proibidos de praticar sexo com suas esposas. Tanto os padres como o povo cristão rejeitaram essa nova lei. No ano 384, o Bispo de Roma  Sirício, abandonou a própria esposa e os filhos a fim de ascender à posição papal. Ao subir ao poder, imediatamente decretou que nenhum dos padres poderia continuar casado, porém, até hoje, não conseguiu obediência à sua lei. 
                   Essa preocupação desmedida com a sexualidade clerical sempre foi contrária à relações normais do ser humano e fora do andamento natural da vida, conforme reconhecido por todas as religiões e seitas como algo estabelecido por Deus. No ano 401, Santo Agostinho escreveu: "Nada tão poderoso para neutralizar o espírito de um homem como a carícia de uma mulher". 
                A crescente atitude contra a sexualidade e as mulheres foi a odiosa forma encontrada para controlar os aspectos íntimos da vida das pessoas e essa prática prossegue até os nossos dias. 
                 Não foi por obediência às "escrituras", mas por conveniência política que a Igreja Católica Romana se colocou contra o divórcio. A hierarquia da igreja medieval estava em luta com muitas monarquias e famílias reais através da Europa. Com a capacidade de controlar os casamentos reais, a igreja percebeu que poderia influenciar as alianças políticas e manipular os assuntos de Estado. Proibiu o divórcio e um segundo casamento, e quem não observasse suas novas ordens seria punido com a privação de sacramentos da instituição. 
                  No século XI, os ataques contra os padres casados aumentaram de intensidade. Em 1074, o Papa Gregório VII legislou que qualquer homem que fosse ordenado padre deveria, antes, declarar o celibato. Prosseguindo seus ataques contra as mulheres e à sexualidade, Gregório declarou publicamente que "a Igreja não pode escapar das garras do laicato, a não ser que padres escapem das garras de suas esposas". Em 1095 houve uma escalada de violência contra os padres casados e suas famílias. O Papa Urbano II ordenou que os padres casados que ignorassem a lei do celibato fossem aprisionados para o bem de suas almas. Em seguida, ordenou que as esposas e seus filhos fossem vendidos como escravos, que os bens da família fossem desapropriados, e que o dinheiro apurado fosse levado aos cofres da Igreja. 
                 Os esforços para consolidar o poder na hierarquia medieval com a desapropriação dos bens e das terras das famílias dos padres casados alcançaram o ápice em 1139. 
                  O celibato clerical, tal como é hoje, foi definitivamente oficializado, com legislação específica, no Concílio de Latrão, sob o papado de Inocêncio II. A motivação das leis foi adquirir terrar, com despropriações, em toda a Europa, fortalecendo assim o poder do papado e da Igreja.
                  Usando uma linguagem convincente, a lei do celibato falava em pureza e santidade, mas o seu verdadeiro objetivo era consolidar o controle sobre o clero mais baixo e eliminar qualquer confrontação aos objetivos políticos na hierarquia da Igreja medieval. Com isso a respeitável tradição do sacerdócio casado foi virtualmente diluída pelo celibato forçado. 
                 A maioria dos atuais problemas em relação à vida sexual dos padres e bispos, casados ou não, tem origem no passado histórico da própria igreja. Nos últimos anos, mais de 100 mil padres católicos, no mundo inteiro, casaram e continuaram a praticar discretamente o sacerdócio. Nos estados Unidos, atualmente, em cada três padres um é casado e esse número continua crescendo. É interessante observar que esses novos padres praticam um sacerdócio com uma compaixão mais profunda pelas pessoas e não se consideram seres inferiores ao clero oficial. Os padres casados entendem as necessidades especiais dos católicos divorciados que desejam contrair um segundo matrimônio com cerimônias cristãs. Principalmente as mulheres se mostram profundamente comovidas pela honestidade e respeito demonstrados por esses padres às suas esposas e pela sensibilidade que demonstram diante dos problemas femininos. 
                  Uma pesquisa recente, feita nos Estados Unidos, indicou que 70 % dos americanos aprovam o casamento dos padres. Entretanto, o Vaticano continua irreversível. Quando um padre celibatário resolve casar, não lhe é dada opção alguma que não seja a de assinar enorme quantidade de papeis dizendo que não tem vocação para o sacerdócio e que é psicologicamente instável e moralmente fraco. Um verdadeiro retrocesso aos hábitos medievais.
              Cada lei celibatária é referida como Cânon. O Cânon 290 determina a indissolubilidade do sacerdócio quando diz: "Após ter sido recebida validamente a ordenação, ela jamais poderá ser invalidada". Portanto, para os cristãos, esta lei confirma que os sacramentos dados aos fiéis pelas padres casados são tão válidos como os dos celibatários. 
                   O celibato obrigatório é uma lei feita pelo homem medieval que tem trazido enormes problemas, com relação ao sexo, para as igrejas católicas no mundo todo. O corajoso bispo Ulrich de Imola argumentou que a igreja não tinha o direito de proibir o casamento dos padres e aconselhou os bispos a não abandonarem suas famílias. Ele disse: "Quando o celibato é imposto, os padres cometem pecados muito maiores do que fornicação". O grande número de prisões de padres e outros religiosos envolvidos em má conduta sexual, principalmente a pedofilia, tem comprovado o quanto ele estava certo. As evidências criminais comprovam que o celibato obrigatório está diretamente ligado aos diversos abusos sexuais cometidos pelos religiosos.
                 As saudáveis origens da família, do amor entre homem e mulher, pregado por Cristo, foram desperdiçados com a supressão do sacerdócio casado, principalmente com a desvalorização das mulheres pela igreja.
            Recentemente o Papa João Paulo II declarou que o celibato não é essencial ao sacerdócio. O movimento começa a ganhar espaço entre os fiéis mais conscientes, e algumas mudanças da igreja têm acontecido através de iniciativas do povo.
                   Como herdeira natural do poder imperial romano, a Igreja Católica Cristã ampliou muito seu poder econômico e político, tornando-se uma poderosa organização milenar que congrega fiéis em todo o mundo. Esse poder é bem visível se observarmos que em qualquer comunidade, ou pequena cidade, há sempre uma paróquia ao lado de uma igreja católica. Mas, em pleno século XXI, ela não poderá continuar parada no tempo medieval, sob pena de ver seu poder minguar significativamente. A escassez de padres celibatários está causando o fechamento de paróquias e ameaçando a disponibilidade de missas,  dos sacramentos, que são atividades essenciais da comunidade cristã. Os estudos feitos, inclusive pela própria Igreja, sobre essa crise - a falta de padres ativos - demonstra claramente que o problema vai piorar nos próximos anos. A maioria dos atuais padres celibatários é idosa e não tem condições de atender ao crescente número de católicos, e, portanto, etá em estado de emergência. 
                  O sexo é uma necessidade biológica e um instinto natural de todos os seres vivos. O homem moderno evoluiu muito, mas seus hormônios continuam na era ancestral. 


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A pedofilia na igreja não é algo recente. Alguns historiadores consideram que ela sempre existiu, mas aumentou muito depois que a igreja oficializou o celibato como obrigatório. 
Nesse momento a igreja está sendo sacudida por uma enorme quantidade de escândalos envolvendo altos líderes católicos com abusos sexuais, contra crianças e adolescentes, em todo o mundo. 
Nos Estados Unidos, em agosto de 2018, um relatório de 884 paginas do grande juri, foi divulgado depois de dois anos de investigações coordenadas pelo procurador-geral Josh Shapiro. Ele trás à tona graves denúncias de que a Igreja Católica, há muitos anos, vem encobrindo a costumeira prática de abuso sexual envolvendo crianças e adolescentes em seis das oito dioceses da Pensilvânia. Somente nesta cidade, segundo o grande juri, 301 padres abusaram sexualmente de mais de mil crianças e adolescentes. Os casos que vieram a tona se referem a 70 anos de tais práticas e foram encobertos por bispos e outras autoridades da Igreja. Assim se manifestou o grande juri: " Sacerdotes estupravam meninos e meninas, e os homens de Deus que eram responsáveis por eles não apenas não faziam nada, como esconderam tudo. Por décadas."
Além disso o júri acrescentou que os integrantes da Igreja, mencionados no relatório, foram protegidos e alguns até mesmo promovidos.
O documento alerta que o número real de vítimas é bem maior, chegando à casa dos milhares; muitos documentos sumiram, além disso,  grande número de vítimas, por vergonha ou por medo de denunciar os padres, nunca falaram. Possivelmente em breve surgirão novos capítulos de mais essa história de  horror no seio  da Igreja, uma vez que a partir de então o FBI assumiu as investigações. É bom lembrar que tudo isso aconteceu na Pensilvânia e que a Igreja é mundial.
  O relatório do grande júri, diz ainda: "O principal não era ajudar as crianças, mas, evitar o escândalo. Essa não era a nossa palavra, mas a deles. Aparece repetidamente nos documentos que recuperamos".
Os abusadores eram orientados : "Evite o escândalo. Use eufemismos. Faça perguntas inadequadas. Tranque as denúncias em um arquivo secreto. E, acima de tudo, não conte à polícia."  "É como um manual para esconder a verdade". A ordem da Igreja era clara: " Se a conduta de um predador se tornar conhecida da comunidade, não o remova do sacerdócio para garantir que não haja mais crianças vitimadas. Em vez disso, transfira-o para um novo local onde ninguém saiba que ele é um abusador de crianças."   Todas essa informações constam dos documentos que instruem o processo criminal nos Estados Unidos. 
Recentemente, foi anunciado o fechamento de um número considerável de paróquias católicas no estado de Connecticut, Estados Unidos. Isso é somente parte do problema que está vivendo a Igreja na nação americana, especialmente nas dioceses do norte.
O rápido enfraquecimento da fé cristã na Europa resultou no fechamento de muitas igrejas, que por estarem vazias, tiveram de ser vendidas. Locais de adoração a Deus se tornaram academias, supermercados, lojas e bares.
O grave problema da pedofilia na Igreja resultou no pagamento de 2,2 bilhões de dólares a 100 mil vítimas apenas nos Estados Unidos.
É muito triste ver que o bem que poderiam estar fazendo nos próximos anos, nunca será feito por causa de dinheiro, do tempo e do esforço já gastos e que continuarão sendo gastos, para enfrentar a crise da má conduta sexual.



                    
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