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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A MORAL DA RELIGIÃO

           

                 Ao longo do história a religião se tornou um mito cheio de tabus, e é através deles que suporta a moralidade, impondo a seus seguidores suas medievais ideologias que já não convencem. 
              O mito cria a fé sobrenatural de que decorrem as sanções para normas e condutas socialmente e  sacerdotalmente desejáveis; as esperanças do céu e os terrores do inferno levam o indivíduo a tolerar as restrições que lhe são impostas pelos seus dominantes ou pelo grupo. 
                 A função moral da religião é conservar os valores estabelecidos, não criá-los.
                  Os polinésios criaram a palavra tabu para proibições sancionadas pela religião.                        Nas sociedades primitivas de maior desenvolvimento esses tabus tomavam o lugar do que, sob a civilização, passou a tornar-se lei.
                 O ser humano, por natureza, não é dócil e obediente e muito menos casto, mas a religião insiste em dominá-los pelo medo. 
                 As instituições de propriedade e do casamento, que sempre foram o principal foco das religiões, passaram a ser sancionadas por elas. Mas sempre deixam de ter importância quando sobrevêm a cultura ou  incredulidade do fiel. 
                 Certos atos e objetos eram - e em muitas religiões ainda são - declarados sagrados ou impuros, portanto mitos e tabus que sugerem o mesmo aviso são coisas intocáveis. Por essa rasão a Arca da Aliança dos judeus era um tabu e também mito.   
             Nas sociedades primitivas muita coisa era tabu; certas palavras nunca podiam ser pronunciadas, e, também, certos dias e estações eram tabus para o trabalho.  Preceitos de alimentação expressavam-se pelo mesmo sistema; a higiene era mais imposta pela religião à força de tabus, do que pela ciência ou a medicina secular. 
               O poder dos chefes primitivos era aumentado com os recursos da magia e da feitiçaria; e mesmo os governos atuais continuam tirando alguma santidade dos tabus em benefício do poder que estiverem exercendo. É muito comum ver políticos Ateus participando de missas ao lado de suas esposas. 
          O principal objetivo dos tabus sempre foram as mulheres. Uma infinidade de superstições, de quando em quanto, faziam-nas intocáveis, perigosas e impuras. Os maridos dessas mulheres sempre foram coniventes com esses absurdos; admitiam - e muitos ainda pensam assim - que a mulher é realmente impura e, portanto, a raiz de todos os males. Esta sempre foi a opinião sagrada, não só da tradição judia e cristã, com também das mitologias pagãs. 
             O mais rigoroso dos primitivos tabus foi lançado sobre as mulheres menstruadas; qualquer homem ou coisa que nesse período as tocasse perdia a virtude ou a utilidade. Os Macúsis da Guiana Inglesa proibiram-lhes banhos nessa época, com medo de que elas pudessem envenenar as águas; e proibiam-lhes de entrar nas florestas para não serem mordidas por serpentes apaixonadas. Até mesmo o parto era considerado "impuro"; depois dele a mulher tinha de purificar-se por meio de complicados ritos. Em muitos povos as relações sexuais tornavam-se tabus quando a mulher estava menstruada, ou grávida, ou amamentando. De certa forma isso era interessante para as mulheres, e até é possível que elas mesmas tenham sido as criadoras desses tabus. Tanto o falso pudor como também o senso de pecado (impureza) atribuída ao sexo, o ascetismo, o celibato clerical e a sujeição da mulher foram criados por interesse do clero dominador.
                É evidente que a religião não é base de moral, mas muitas até ajudam piorar com as práticas sexuais dos seus lideres que frequentemente aparecem nas páginas policiais, principalmente por abuso de crianças; a moral pode existir sem religião sim, e muitas vezes tem progredido nas sociedades de nossos dias e aparece completamente desatrelada da religião; essa apenas fica ligada à magia, que cumpre os seus "deveres religiosos" e financia o sacerdotalismo. A religião não sanciona nenhum bem absoluto, mas sim as normas de conduta que criaram e a sustentam financeiramente. Tanto a lei como a religião, por conveniência, estão sempre atrasadas em relação às rápidas mudanças da sociedade e com elas da moral.  
              Os gregos condenavam moralmente o incesto, mas a sua mitologia ainda honrava os deuses incestuosos; os cristãos praticavam a monogamia, ao mesmo tempo que juravam sobre a autoridade dum livro legalizador da poligamia: a Bíblia; também a escravidão já estava abolida, apesar de ser justificada por esse mesmo livro sagrado. Em nossos dias a Igreja luta heroicamente pela manutenção dum código que já foi destruído pela Revolução Industrial. Por esse motivo surge a tensão entre a Igreja e a sociedade nos estágios mais altos da civilização. A religião perde-se na história e continua oferecendo ajuda mágica ao homem cada dia mais civilizado; continua dando ao povo aquela unidade de moral e crenças que tanto favorece o governo e às suas próprias finanças. Dessa forma ela está lutando inutilmente pela causa perdida do passado. 
                A ciência e o conhecimento em geral, continuam crescendo e choca-se de encontro à mitologia e à teologia, que mudam com lentidão geológica. A história da intelectualidade humana assume o aspecto dum conflito entre religião e ciência. As instituições, que a principio estavam nas mãos do clero, como a lei e os castigos, a educação e a moral, o casamento e o divórcio, tendem a fugir desse controle e torna-se impossível alinhar os avanços científicos e sociais com as práticas medievais, e até mesmo profanas, de moral e crença.
                   As classes intelectuais abandonam a velha teologia e também, depois de alguma excitação, o código moral por ela apoiado; a literatura e a filosofia tornam-se anticlericais. O movimento de libertação expande-se numa exuberante adoração à razão, e por fim cai numa paralisante desilusão de todos os dogmas e de todas as idéias. A conduta privada dos seus esteios morais, rola para um caos epicurista; e a própria vida, podada da fé consoladora, se torna uma carga, tanto para a pobreza consciente como para a riqueza saciada. No fim, a sociedade e sua religião tendem a cair juntas, como corpo sem alma, numa prematura morte. 

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Epicurismo é o sistema filosófico que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos.

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                 Quando pesquisamos a religião dos tempos mais remotos fica evidente que sempre foi utilizada para garantir poder e dinheiro, tanto para o clero como para os governos.
                   Na Suméria, o Rei Urengur proclamou seu código de leis em nome do grande deus Shamash, porque naquele tempo o governo já havia descoberto a grande utilidade política do céu. Como os deuses se mostravam úteis, começaram a proliferar; cada cidade ou estado, cada atividade humana, tinha o seu patrono. A adoração do sol já seria velhíssima, quando a Suméria começou seu culto a Shamash.  Uruk adorava especialmente a virgem deusa da Terra, Innini, conhecida dos semitas de Acab com Ishtar - a versátil Afrodite - Deméter do Oriente Próximo. O espaço vivia cheio de espíritos, anjos protetores de cada sumeriano e demônios procuravam sobrepujar os anjos e tomar posse do corpo e da alma das criaturas. 
                  A maior parte dos deuses vivia nos templos, onde recebiam oferendas de alimentos e mulheres. As tabletas de Gudea trazem a lista das oferendas preferidas pelos deuses ; bois, carneiros, pombos, galinhas, marrecos, peixe, tâmaras, figos, pepinos, manteiga, azeite e bolos. esta lista nos mostra a excelente cozinha de que dispunham os sumerianos ricos. Muitos acreditavam que os deuses preferiam carne humana, mas os seus "legítimos" representantes aqui na terra os convenceram a aceitar a dos animais. Foi até encontrada uma tableta litúrgica que diz, estranha advertência teológica: "O carneiro é o substituto da humanidade; pelo homem o carneiro deu sua vida." Graças a essas beneficências, os padres se tornaram a mais rica e poderosa classe das cidades sumerianas. Tinham tanto poder que muitas vezes se tornava difícil identificar quem era o rei e quem era o padre. 
                 Tal como Lutero, Urukagina levantou-se contra as arrecadações de tributos dos sacerdotes, denunciou-lhes a voracidade, acusou-os de suborno e fixou as taxas a seres pagas aos templos; dessa forma ele protegeu os fracos conta a extorsão clerical. Mas ele estava velho e morreria logo em seguida.  Com a morte desse rei os padres recobraram o poder e voltaram às suas costumeiras explorações, sempre em nome de Deus. 
                  Também no Egito os homens não discutiam o preço da mitologia. Eram usados os mesmos pagamentos ao clero reinante. Lá houve um tempo em que o rei Ikanaton teve a mesma atitude do rei da Pérsia Urikagina, mas depois de sua morte tudo voltou a ser como antes. 
                  No Egito, ao modo dos gregos, as extorsões eram muito frutíferas e sem contestação porque convenciam os fiéis de que se não obedecessem, depois de mortos poderiam ir para a morada das sombras (inferno) para onde iriam indiscriminadamente todos os infiéis quando morriam. 
                 Nessa época a religião ainda não tinha concebido a distinção entre o céu como recompensa ou o inferno como castigo eterno. As orações eram feitas para a "vida eterna, mas para coisas tangíveis  da Terra. 
                Dessa época há uma lenda sobre o dilúvio. Narra como os deuses tinham criado o homem para a felicidade; e diz que por livre vontade o homem pegou e foi punido com o dilúvio, do qual apenas um se salvou, Tagtug; A mesma lenda conta também que Tagtug perdeu o direito à longevidade por ter desobedecido e comido o fruto duma árvore proibida. Observem a semelhança com as orientações das igrejas atuais quando se manifestam sobre o dilúvio e Adão e Eva. 
                 Os padres transmitiam a educação juntamente com a mitologia, sempre orientados pelos interesse de classe.  Os templos possuíam escolas anexas, onde as crianças aprendiam ler e escrever, rudimentos de matemática e formavam seus hábitos de patriotismo e piedade; algumas eram preparadas para a alta profissão de escriba. 
                      Havia mulheres vinculadas aos templos, algumas como servas, outras na qualidade de concubinas dos deuses, ou de seus representantes na Terra.  Servir a religião desse modo não era desonra para nenhuma mulher da Suméria; os pais sentiam-se orgulhosos de que os encantos das filhas contribuíssem para aliviar o monótono viver divino, e celebravam-lhes a admissão no templo com grandes cerimônias e a entrega do dote aos padres. 

                    No Egito, a prostituição religiosa ocorreu em pequena escala; pelo tempo da ocupação romana, as mais belas moças das famílias nobres de Tebas iam para o templo consagrado a Amon. Chegadas à idade de não mais satisfazerem os deuses e seus representantes, recebiam honrosa aposentadoria, casavam-se e passavam a frequentar os mais altos círculos. 
                 Entretanto, em tempos mais remotos havia os animais-deuses; eram tão numerosos que faziam do panteão egípcio um verdadeiro jardim zoológico. Os egípcios adoram o boi, o crocodilo, o gato, o falcão, o ganso, o bode, o carneiro, o cão, a galinha, andorinha, o chacal, a serpente; a essas criaturas era permitido frequentar os templos, com a mesmo liberdade da vaca sagrada da Índia de hoje. 
                 Quando os deuses se tornaram humanos, ainda retinham seus duplos animais e símbolos. Amon era representado como ganso ou carneiro. Ra como gafanhoto ou boi, Osiris como boi ou carneiro, Horus como falcão, Ator como vaca, e Thoth, deus da sabedoria, como macaco. Ofertavam-se mulheres como companheiras sexuais desses deuses, e o boi em particular, como encarnação de Osiris, estava afeito a essa honra; em Mendes, diz Plutarco, as mais belas mulheres realizavam o coito com o bode divino. Esse totemismo permaneceu como elemento essencial da religião egípcia; Os deuses humanos chegaram muito mais tarde, provavelmente como um dom da Ásia. 
                       Sinais de adoração sexual aparecem nas pinturas e relevos dos templos, em que figuram os órgãos (falos) eretos, como também na crux ansata -uma cruz com cabo - signo da união sexual e da vida vigorosa. 
                  Finalmente os deuses se tornaram humanos - ou, alguns humanos se tornaram deuses. Tal como as deidades da Grécia, os deuses humanos do Egito eram superiores aos homens e às mulheres; sempre de  carne e osso, mas em moldes heroicos; tinham fome, comiam, bebiam, amavam e se acasalavam, odiavam, matavam, envelheciam e morriam. 
                     A morte e ressurreição de Osíris eram celebrados todos os anos como símbolo da enchente e da vasão do Nilo. 
                   Ísis era adorada com especial ternura e a ela eram erguidas imagens. Era considerada a Mãe de Deus; Seus sacerdotes exaltavam-na em celebrações e sonoros rituais. No meio do inverno, coincidente com a anual ressurreição do sol, nos templos de Horus, seu divino filho e deus do sol, era mostrada num estábulo, amamentando um bebê miraculosamente concebido. Essas lendas poético-filosóficas afetaram profundamente a teologia e o ritual do Cristianismo. Os primitivos cristãos costumavam curvar-se diante das estátuas de Ísis com o infante ao seio, vendo nelas outra forma do velho e nobre mito pelo qual a mulher (isto é, o princípio feminino), criando todas as coisas e, assim, tornando-se a Mãe de Deus. 
                  O rei era o sacerdote supremo da fé e caminhava à frente das grandes procissões religiosas. Foi graças a essa associação com os deuses que os faraós dominaram tanto tempo a massa popular no Egito e sempre com tão pouco uso de força.
                 Os sacerdotes sempre foram fundamentais para a manutenção do poder no Egito; eram o sustentáculo do trono e, ao mesmo tempo, a polícia secreta da ordem social. Eram indispensável ponte ligadora dos homens aos deuses. O cargo sacerdotal passava de pais para filhos.
                    
              


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