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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A REFORMA PROTESTANTE

           

                 O Renascimento trouxe consigo o reflorescimento da inteligência humana, porém não pode escapar ao perigo que traz consigo uma espécie de eclosão, que é o progressivo alheamento das aspirações profundas, primitivas e puras do coração. Muitos pensadores, aproveitando-se daquele momento, desejavam que os verdadeiros anseios se fundissem num funesto materialismo. 
                 Enquanto Carlos V e Francisco I  batalhavam pela glória da própria coroa e pela posse de algum pedaço de território, conservando o mundo em armas e saqueando as pacíficas cidades da Itália e de Flandres, outra tempestade, e muito mais grave, se adensava sobre a Europa; uma guerra curialesca e togada, combatida por homens mais afeitos à pena e o papel do que à espada, mas anunciadora de grandes e sangrentos eventos. 
                Entre o mundo germânico e o latino, jamais houvera muita amizade, mesmo no campo religioso; muitos bispos alemães mal toleravam a autoridade de Roma, seja por cego nacionalismo seja por contrastados interesses políticos. O fausto da corte pontifícia irritava a muitos, que viam nisso uma evidente discordância dos preceitos evangélicos; a rigidez dogmática do catolicismo, ainda não liberto de idéias medievais; o absoluto princípio de obediência e de hierarquia, que constitui a inabalável estrutura da Igreja, pareciam algo incômodo a quem da própria Igreja não lhe sentia íntima grandeza. Todos esses fatores e outros de caráter mais pessoal, agiram quase que inconscientemente  sobre aquele obscuro monge agostiniano, Martinho Lutero, um jovem de trinta e cinco anos, de quem, improvisadamente, se começou a falar em fins de 1517. 
                 Quem realmente quiser  compreender a reforma protestante ou reforma luterana e calvinista, é indispensável, antes entender a crise cristã e o seu desenvolvimento durante o papado de Leão X. 
                Martinho Lutero, desde muito tempo, antes das suas proposições heterodoxas, havia suscitado algumas apreensões entre seus superiores. Em sua viagem a Roma em 1510, tinha experimentado a indiferença, a frivolidade dos sacerdotes, e os vícios da corte pontífice. Contudo, Lutero não tinha, a princípio, idéias de reformas; queria endireitar, corrigir, suprimir os abusos,  porque, na origem desses abusos, pensa encontrar um erro, um "pecado espiritual", a doutrina maldita da salvação pelas obras. Por essa doutrina, diz ele, a igreja impõe fardos arrasadores sobre os ombros de seus fiéis, e como estes não podem suportá-los, lhe propõe a substituição desses fardos por obras impossíveis; mentiras para convencer os fiéis a suportarem tudo silenciosamente as tradicionais mordomias e ambições do clero. É esta mentira que Lutero denunciará no primeiro grande fato da reforma luterana; o negócio das indulgências. 
               Este comércio começou em 1515. Apesar de toda a costumeira extorsão que a Igreja impunha a seus fiéis, a ambição papal agigantou-se e necessitava de muito mais dinheiro; a construção da Igreja de São Pedro era um dragão a devorar as finanças da Igreja. Para pagar essa enorme construção, o Papa Leão X organizara, especialmente na rica Alemanha, pátria de Lutero, a venda de "indulgências plenárias" que asseguravam aos compradores o perdão de todos os seus pecados e das penas temporais por esses pecados; a absolvição, uma vez na vida, e em caso de morte, de qualquer espécie de pecado; a redução de pena para as almas no purgatório. Sobre esta frutífera venda, alguns príncipes alemães cobravam comissão. Lutero, como sacerdote, pudera constatar no confessionário, o perigo espiritual que trazia esse mercado; discutia e duvidava da legitimidade da doutrina de salvação em que tal comércio implicava. 
                 Lutero não suportava mais os abusos cometidos por alguns pregadores dominicanos, atacou publicamente a doutrina das indulgências papais, estendendo aos poucos suas críticas a outros dogmas e anunciando princípios que sacudiam as próprias bases do edifício católico. Em 31 de outubro de 1517, sobre a porta da capela do castelo de Wittenberg, apareceu afixado um amplo manifesto; eram as "95 teses", que resumiam a doutrina do monge rebelde, suficientes para fazer acusar de heresia seu autor.
                A reação das autoridades eclesiásticas e do próprio Pontífice, logo informado do acontecimento, foi rápida e decidida; Lutero foi chamado a retratar em bloco suas posições. Mas, por detrás de Lutero, alinhavam-se os poderosos senhores que tinham a intenção de apoderar-se dos bens eclesiásticos; também o povo se exaltava com aquela vaga aura e socialismo que pairava nas doutrinas luteranas, muitos estudiosos e teólogos alemães, a quem pesava a dependência espiritual da Igreja Romana. 
                Martinho Lutero tinha, física e moralmente, o estofo inconfundível de chefe e de combatente; maciço de corpo, sanguíneo, egocêntrico, eloquente  e até mesmo presunçoso, tão poderoso no ataque quanto agudo e genial na discussão; o monge rebelde sentiu-se perfeitamente à vontade no papel de reformador. Quando Leão X o ameaçou de excomunhão, caso não se retratasse de suas afirmações, ele queimou o documento pontífice na presença do povo. Esse ato teve um incalculável alcance; o cisma estava declarado e o ex-herege tornou-se mito e fundador de uma nova religião (ou seita) que já contava com numerosos adeptos, em toda a Alemanha. Acenar aqui e acolá, ainda que superficialmente, à substância teológica da doutrina não é, naturalmente, possível; basta dizer que ela negava a autoridade da Igreja romana sobre textos sagrados, confiando a interpretação ao leitor (na realidade, Lutero impunha sua interpretação). seduzia os sacramentos, a liturgia, a veneração pelos santos a simples superstição, afirmava unicamente que a fé em Cristo bastava para garantir o "Paraíso", mesmo ao mais impenitente e calejado pecador. "Seja pecador e peque fortemente, mas creia fortemente", escrevia Lutero ao seu discípulo Melantone. A perturbação das consciências, entre essas teorias, era enorme; já o próprio Imperador Carlos V, embora ameaçado, não pode assumir uma atitude decidida, visto que grande parte de seus súditos estava contra a Igreja, com interesses pessoais. Muitos príncipes, que ate tinham abraçado as novas doutrinas, "protestaram" publicamente em 1524 contra o edito, daí veio o nome de "Protestantes" dado aos Luteranos. 
                  Martinho Lutero estava, no entanto, muito ocupado em esclarecer seus pensamentos (o que, na realidade, jamais conseguia); escrevia volumes e opúsculos eficazmente polêmicos, embora persuasivos, e dedicava-se àquela esplêndida tradução da Bíblia, que foi a base de toda a literatura alemã, até então praticamente inexistente. Além de ter sido o criador da literatura, Lutero foi autor de muitos belos cânticos religiosos.  
                 Uma grande voz cristã acabara de se levantar. Falava de Deus, de seu amor, da salvação, da Igreja, de uma maneira diferente, que não lançava as almas numa angústia invencível e eterna. Aquela voz, como poderia ser diferente, provocou ecos em toda a vida religiosa cristã. 
                        É a fé de Lutero que temos de conhecer se quisermos conhecê-lo. 
                 Nos últimos anos, Lutero viveu pacificamente, sempre escrevendo e pregando, rodeado de filhos (casara-se em 13 de janeiro de 1525) e de discípulos, protegido pelas armas e pelo prestígio do "leitor" da saxônia. Morreu em 1546, em Eisleben; um ano antes, Paulo II instalara o Concílio de Trento, que, além de reconduzir a Igreja a uma vida mais consentânea com os princípios do Cristianismo, iria opor uma válida defesa para aqueles que ficou conhecida como heresia luterana. Infelizmente, porém, a unidade dos católicos fora irremediavelmente partida e o protestantismo crescia a olhos vistos.  
               A originalidade de Lutero é seu protestantismo, isto é, a decisão de colocar o problema humano do destino em função apenas de Deus; isto é, não apenas a decisão de colocá-lo nestes termos, com inflexível rigor contra o humanismo puro do Renascimento e o humanismo desvitalizado do catolicismo; é a convicção crua, firme, mantida ante todos os  crentes e entre si mesmo, de que esse problema único está resolvido plenamente no Evangelho de Jesus Cristo, alcançado apenas pela fé do crente. 
                Hoje, a igreja que leva seu nome, no mundo inteiro, com milhões de fiéis, e todos os cristãos que pertencem a qualquer uma das correntes religiosas oriundas da Reforma sabem quanto devem a esse genial iniciador. Nisso concordam tanto aqueles que tentam denegri-lo como aqueles que o exaltam. Não se pode duvidar de que os objetivos de Lutero era o bem de todos, baseado nos reais princípios do Cristianismo. Infelizmente, a igreja Protestante (evangélicas), no decorrer de seu desenvolvimento, foi absorvendo pessoas inescrupulosas, verdadeiros estelionatários (vendilhões do tempo), cujos objetivos são unicamente explorar os menos favorecidos intelectual e financeiramente. 
                    A Igreja Protestante ou evangélica não tem a organização da Igreja Católica com um centro de poder e normas para criação de novos templos (igrejas). Milhares de igrejas, que se denominam Protestantes ou Evangélicas, estão espalhadas pelo mundo todo, e muitas praticando toda a espécie de atitudes frontalmente contrárias aos princípios cristãos. Mas precisamos ser sábios para separar o "joio do trigo". Muitas são aquelas que procuram conduzir seus fiéis, sem explorá-los, nos princípio que Cristo pregava sem lhes cobrar dízimos. Cabe aqui lembrar que foi justamente contra atitudes como essa que resultou na cisão da igreja católica provocada por Lutero. 


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No Brasil, onde as igrejas ainda tem isenção fiscal, muitas são utilizadas para a sonegação; Hoje facilmente encontramos, casas comuns, estacionamentos, depósitos etc. com uma placa de "Igreja", cujos nomes são os mais estranhos. É um problema de difícil solução porque o poder também está dominado por supostos religiosos que usam a igreja para se elegeram, tanto que existe "bancadas evangélicas" até mesmo em câmaras municipais.
Qualquer pessoa pode criar uma pseudo "igreja" que, teoricamente, é "sem fins lucrativos", mas que na verdade esconde interesses financeiros e de poder dos espertalhões. São falsas igrejas religiosas que exploram seus fiéis de maneira a fazer inveja ao próprio Papa Leão X.




AS IGREJAS REFORMADAS



                      Um frade agostiniano, Martinho Lutero, nascido em Eisleben, na Alemanha, em 1483, posicionou-se asperamente contra a concessão de indulgências feita pelo Papa Leão X, com a finalidade de arrecadar dinheiro para a construção do Igreja de São Pedro, em Roma, chegando mesmo a negar a doutrina das indulgências.  Às disputas e às representações dos superiores, ele respondeu negando intransigentemente o valor do culto aos santos, aos votos sacros e contestando a primazia do Pontífice, atacando todo o sistema doutrinal do Catolicismo. 
                    As teses de Lutero encontraram logo apoio, porque, nos Estados Germânicos daquele tempo, a corrupção do clero tinha atingido níveis alarmantes, ao passo que o povo vivia em em um larvado paganismo e jazia na miséria; também os príncipes, ciosos dos privilégios eclesiásticos e das propriedades da Igreja, esperavam que uma reforma conduzisse ao confisco dos bens, dos quais eles poderiam apropriar-se. 
                 Nessas propícias condições, o movimento luterano estendeu-se tanto que o imperador Carlos V, como bom católico, pôs fora da lei o frade herege. Mas, bem depressa, os Reformistas se separaram definitivamente da Igreja Romana, e a Igreja Luterana constitui hoje, ainda, a seita (ou igreja) protestante mais numerosa.
                  Igreja Anglicana ou Igreja da Inglaterra - Tem sua origem no cisma de Henrique VIII, que, em 1533, assumindo a supremacia da Igreja Nacional, separou-se da de Roma. 
                    Igreja Presbiteriana - Nascida cerca de 1550, deriva, historicamente, da reforma de João Calvino, um intelectual francês que aderira à doutrina evangélica. Após fugir para a Suíça, ele deu ao Protestantismo coerência teológica, baseando sua doutrina no absoluto domínio de Deus, na onipotência de sua irrevogável condição e na nulidade do homem,  que considerava absolutamente incapaz de realizar sozinho a própria "salvação". 
                     A cisão da Igreja Romana, causada pelas posições de Lutero, espalhou-se rapidamente por todo o mundo civilizado.
                     Igreja Batista - Deriva da reforma luterana, rejeita o batismo das crianças e batiza somente os adultos, com inteira submersão do corpo. 
                    Outras Igreja reformadas, que contam com um número mais ou menos notável de fiéis, são a Metodista, a Congregacionista, a Igreja dos Adventistas, e a dos Testemunhas de Jeová e a dos Quaquers
                     Apesar das cisões e dos contrastes doutrinários, milhões de pessoas no mundo sempre adoram o mesmo Deus, uno e trino, e têm por sinal a mesma Cruz, símbolo visível da Cristandade. Dizer-se cristão é importante para qualquer religião que queira expandir-se e angariar benesses e poder; isto acontece sempre porque a marca Jesus Cristo e a Cruz se tornaram muito poderosos e arrastam multidões de fiéis.
                     Antes da cisão o domínio total era exclusividade da Igreja Oficial (Católica Apostólica Romana) e depois desse evento de Lutero tudo mudou. Tornou-se muito fácil criar uma nova igreja dizendo-se Protestante ou Evangélico. Numa mesma rua podemos encontrar várias igrejas que, no Brasil, proliferam mais do que farmácias e mercadinhos. 

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Um dos mais importantes Concílios da Igreja Cristã foi o de Trento, promovido pelo Papa Paulo II, que durou 18 anos (1545 x 1563), durante os quais foram debatidos e estabelecidos, com muita clareza, vários pontos da doutrina católica. 
   Depois do Concílio de Trento, de que nasceu a "Contra Reforma", foi fundada, por Santo Inácio de Loiola, a Companhia de Jesus, destinada a defender a Igreja e o Papa, e a promover a "salvação das almas". 

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A MORAL DA RELIGIÃO

           

                 Ao longo do história a religião se tornou um mito cheio de tabus, e é através deles que suporta a moralidade, impondo a seus seguidores suas medievais ideologias que já não convencem. 
              O mito cria a fé sobrenatural de que decorrem as sanções para normas e condutas socialmente e  sacerdotalmente desejáveis; as esperanças do céu e os terrores do inferno levam o indivíduo a tolerar as restrições que lhe são impostas pelos seus dominantes ou pelo grupo. 
                 A função moral da religião é conservar os valores estabelecidos, não criá-los.
                  Os polinésios criaram a palavra tabu para proibições sancionadas pela religião.                        Nas sociedades primitivas de maior desenvolvimento esses tabus tomavam o lugar do que, sob a civilização, passou a tornar-se lei.
                 O ser humano, por natureza, não é dócil e obediente e muito menos casto, mas a religião insiste em dominá-los pelo medo. 
                 As instituições de propriedade e do casamento, que sempre foram o principal foco das religiões, passaram a ser sancionadas por elas. Mas sempre deixam de ter importância quando sobrevêm a cultura ou  incredulidade do fiel. 
                 Certos atos e objetos eram - e em muitas religiões ainda são - declarados sagrados ou impuros, portanto mitos e tabus que sugerem o mesmo aviso são coisas intocáveis. Por essa rasão a Arca da Aliança dos judeus era um tabu e também mito.   
             Nas sociedades primitivas muita coisa era tabu; certas palavras nunca podiam ser pronunciadas, e, também, certos dias e estações eram tabus para o trabalho.  Preceitos de alimentação expressavam-se pelo mesmo sistema; a higiene era mais imposta pela religião à força de tabus, do que pela ciência ou a medicina secular. 
               O poder dos chefes primitivos era aumentado com os recursos da magia e da feitiçaria; e mesmo os governos atuais continuam tirando alguma santidade dos tabus em benefício do poder que estiverem exercendo. É muito comum ver políticos Ateus participando de missas ao lado de suas esposas. 
          O principal objetivo dos tabus sempre foram as mulheres. Uma infinidade de superstições, de quando em quanto, faziam-nas intocáveis, perigosas e impuras. Os maridos dessas mulheres sempre foram coniventes com esses absurdos; admitiam - e muitos ainda pensam assim - que a mulher é realmente impura e, portanto, a raiz de todos os males. Esta sempre foi a opinião sagrada, não só da tradição judia e cristã, com também das mitologias pagãs. 
             O mais rigoroso dos primitivos tabus foi lançado sobre as mulheres menstruadas; qualquer homem ou coisa que nesse período as tocasse perdia a virtude ou a utilidade. Os Macúsis da Guiana Inglesa proibiram-lhes banhos nessa época, com medo de que elas pudessem envenenar as águas; e proibiam-lhes de entrar nas florestas para não serem mordidas por serpentes apaixonadas. Até mesmo o parto era considerado "impuro"; depois dele a mulher tinha de purificar-se por meio de complicados ritos. Em muitos povos as relações sexuais tornavam-se tabus quando a mulher estava menstruada, ou grávida, ou amamentando. De certa forma isso era interessante para as mulheres, e até é possível que elas mesmas tenham sido as criadoras desses tabus. Tanto o falso pudor como também o senso de pecado (impureza) atribuída ao sexo, o ascetismo, o celibato clerical e a sujeição da mulher foram criados por interesse do clero dominador.
                É evidente que a religião não é base de moral, mas muitas até ajudam piorar com as práticas sexuais dos seus lideres que frequentemente aparecem nas páginas policiais, principalmente por abuso de crianças; a moral pode existir sem religião sim, e muitas vezes tem progredido nas sociedades de nossos dias e aparece completamente desatrelada da religião; essa apenas fica ligada à magia, que cumpre os seus "deveres religiosos" e financia o sacerdotalismo. A religião não sanciona nenhum bem absoluto, mas sim as normas de conduta que criaram e a sustentam financeiramente. Tanto a lei como a religião, por conveniência, estão sempre atrasadas em relação às rápidas mudanças da sociedade e com elas da moral.  
              Os gregos condenavam moralmente o incesto, mas a sua mitologia ainda honrava os deuses incestuosos; os cristãos praticavam a monogamia, ao mesmo tempo que juravam sobre a autoridade dum livro legalizador da poligamia: a Bíblia; também a escravidão já estava abolida, apesar de ser justificada por esse mesmo livro sagrado. Em nossos dias a Igreja luta heroicamente pela manutenção dum código que já foi destruído pela Revolução Industrial. Por esse motivo surge a tensão entre a Igreja e a sociedade nos estágios mais altos da civilização. A religião perde-se na história e continua oferecendo ajuda mágica ao homem cada dia mais civilizado; continua dando ao povo aquela unidade de moral e crenças que tanto favorece o governo e às suas próprias finanças. Dessa forma ela está lutando inutilmente pela causa perdida do passado. 
                A ciência e o conhecimento em geral, continuam crescendo e choca-se de encontro à mitologia e à teologia, que mudam com lentidão geológica. A história da intelectualidade humana assume o aspecto dum conflito entre religião e ciência. As instituições, que a principio estavam nas mãos do clero, como a lei e os castigos, a educação e a moral, o casamento e o divórcio, tendem a fugir desse controle e torna-se impossível alinhar os avanços científicos e sociais com as práticas medievais, e até mesmo profanas, de moral e crença.
                   As classes intelectuais abandonam a velha teologia e também, depois de alguma excitação, o código moral por ela apoiado; a literatura e a filosofia tornam-se anticlericais. O movimento de libertação expande-se numa exuberante adoração à razão, e por fim cai numa paralisante desilusão de todos os dogmas e de todas as idéias. A conduta privada dos seus esteios morais, rola para um caos epicurista; e a própria vida, podada da fé consoladora, se torna uma carga, tanto para a pobreza consciente como para a riqueza saciada. No fim, a sociedade e sua religião tendem a cair juntas, como corpo sem alma, numa prematura morte. 

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Epicurismo é o sistema filosófico que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos.

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                 Quando pesquisamos a religião dos tempos mais remotos fica evidente que sempre foi utilizada para garantir poder e dinheiro, tanto para o clero como para os governos.
                   Na Suméria, o Rei Urengur proclamou seu código de leis em nome do grande deus Shamash, porque naquele tempo o governo já havia descoberto a grande utilidade política do céu. Como os deuses se mostravam úteis, começaram a proliferar; cada cidade ou estado, cada atividade humana, tinha o seu patrono. A adoração do sol já seria velhíssima, quando a Suméria começou seu culto a Shamash.  Uruk adorava especialmente a virgem deusa da Terra, Innini, conhecida dos semitas de Acab com Ishtar - a versátil Afrodite - Deméter do Oriente Próximo. O espaço vivia cheio de espíritos, anjos protetores de cada sumeriano e demônios procuravam sobrepujar os anjos e tomar posse do corpo e da alma das criaturas. 
                  A maior parte dos deuses vivia nos templos, onde recebiam oferendas de alimentos e mulheres. As tabletas de Gudea trazem a lista das oferendas preferidas pelos deuses ; bois, carneiros, pombos, galinhas, marrecos, peixe, tâmaras, figos, pepinos, manteiga, azeite e bolos. esta lista nos mostra a excelente cozinha de que dispunham os sumerianos ricos. Muitos acreditavam que os deuses preferiam carne humana, mas os seus "legítimos" representantes aqui na terra os convenceram a aceitar a dos animais. Foi até encontrada uma tableta litúrgica que diz, estranha advertência teológica: "O carneiro é o substituto da humanidade; pelo homem o carneiro deu sua vida." Graças a essas beneficências, os padres se tornaram a mais rica e poderosa classe das cidades sumerianas. Tinham tanto poder que muitas vezes se tornava difícil identificar quem era o rei e quem era o padre. 
                 Tal como Lutero, Urukagina levantou-se contra as arrecadações de tributos dos sacerdotes, denunciou-lhes a voracidade, acusou-os de suborno e fixou as taxas a seres pagas aos templos; dessa forma ele protegeu os fracos conta a extorsão clerical. Mas ele estava velho e morreria logo em seguida.  Com a morte desse rei os padres recobraram o poder e voltaram às suas costumeiras explorações, sempre em nome de Deus. 
                  Também no Egito os homens não discutiam o preço da mitologia. Eram usados os mesmos pagamentos ao clero reinante. Lá houve um tempo em que o rei Ikanaton teve a mesma atitude do rei da Pérsia Urikagina, mas depois de sua morte tudo voltou a ser como antes. 
                  No Egito, ao modo dos gregos, as extorsões eram muito frutíferas e sem contestação porque convenciam os fiéis de que se não obedecessem, depois de mortos poderiam ir para a morada das sombras (inferno) para onde iriam indiscriminadamente todos os infiéis quando morriam. 
                 Nessa época a religião ainda não tinha concebido a distinção entre o céu como recompensa ou o inferno como castigo eterno. As orações eram feitas para a "vida eterna, mas para coisas tangíveis  da Terra. 
                Dessa época há uma lenda sobre o dilúvio. Narra como os deuses tinham criado o homem para a felicidade; e diz que por livre vontade o homem pegou e foi punido com o dilúvio, do qual apenas um se salvou, Tagtug; A mesma lenda conta também que Tagtug perdeu o direito à longevidade por ter desobedecido e comido o fruto duma árvore proibida. Observem a semelhança com as orientações das igrejas atuais quando se manifestam sobre o dilúvio e Adão e Eva. 
                 Os padres transmitiam a educação juntamente com a mitologia, sempre orientados pelos interesse de classe.  Os templos possuíam escolas anexas, onde as crianças aprendiam ler e escrever, rudimentos de matemática e formavam seus hábitos de patriotismo e piedade; algumas eram preparadas para a alta profissão de escriba. 
                      Havia mulheres vinculadas aos templos, algumas como servas, outras na qualidade de concubinas dos deuses, ou de seus representantes na Terra.  Servir a religião desse modo não era desonra para nenhuma mulher da Suméria; os pais sentiam-se orgulhosos de que os encantos das filhas contribuíssem para aliviar o monótono viver divino, e celebravam-lhes a admissão no templo com grandes cerimônias e a entrega do dote aos padres. 

                    No Egito, a prostituição religiosa ocorreu em pequena escala; pelo tempo da ocupação romana, as mais belas moças das famílias nobres de Tebas iam para o templo consagrado a Amon. Chegadas à idade de não mais satisfazerem os deuses e seus representantes, recebiam honrosa aposentadoria, casavam-se e passavam a frequentar os mais altos círculos. 
                 Entretanto, em tempos mais remotos havia os animais-deuses; eram tão numerosos que faziam do panteão egípcio um verdadeiro jardim zoológico. Os egípcios adoram o boi, o crocodilo, o gato, o falcão, o ganso, o bode, o carneiro, o cão, a galinha, andorinha, o chacal, a serpente; a essas criaturas era permitido frequentar os templos, com a mesmo liberdade da vaca sagrada da Índia de hoje. 
                 Quando os deuses se tornaram humanos, ainda retinham seus duplos animais e símbolos. Amon era representado como ganso ou carneiro. Ra como gafanhoto ou boi, Osiris como boi ou carneiro, Horus como falcão, Ator como vaca, e Thoth, deus da sabedoria, como macaco. Ofertavam-se mulheres como companheiras sexuais desses deuses, e o boi em particular, como encarnação de Osiris, estava afeito a essa honra; em Mendes, diz Plutarco, as mais belas mulheres realizavam o coito com o bode divino. Esse totemismo permaneceu como elemento essencial da religião egípcia; Os deuses humanos chegaram muito mais tarde, provavelmente como um dom da Ásia. 
                       Sinais de adoração sexual aparecem nas pinturas e relevos dos templos, em que figuram os órgãos (falos) eretos, como também na crux ansata -uma cruz com cabo - signo da união sexual e da vida vigorosa. 
                  Finalmente os deuses se tornaram humanos - ou, alguns humanos se tornaram deuses. Tal como as deidades da Grécia, os deuses humanos do Egito eram superiores aos homens e às mulheres; sempre de  carne e osso, mas em moldes heroicos; tinham fome, comiam, bebiam, amavam e se acasalavam, odiavam, matavam, envelheciam e morriam. 
                     A morte e ressurreição de Osíris eram celebrados todos os anos como símbolo da enchente e da vasão do Nilo. 
                   Ísis era adorada com especial ternura e a ela eram erguidas imagens. Era considerada a Mãe de Deus; Seus sacerdotes exaltavam-na em celebrações e sonoros rituais. No meio do inverno, coincidente com a anual ressurreição do sol, nos templos de Horus, seu divino filho e deus do sol, era mostrada num estábulo, amamentando um bebê miraculosamente concebido. Essas lendas poético-filosóficas afetaram profundamente a teologia e o ritual do Cristianismo. Os primitivos cristãos costumavam curvar-se diante das estátuas de Ísis com o infante ao seio, vendo nelas outra forma do velho e nobre mito pelo qual a mulher (isto é, o princípio feminino), criando todas as coisas e, assim, tornando-se a Mãe de Deus. 
                  O rei era o sacerdote supremo da fé e caminhava à frente das grandes procissões religiosas. Foi graças a essa associação com os deuses que os faraós dominaram tanto tempo a massa popular no Egito e sempre com tão pouco uso de força.
                 Os sacerdotes sempre foram fundamentais para a manutenção do poder no Egito; eram o sustentáculo do trono e, ao mesmo tempo, a polícia secreta da ordem social. Eram indispensável ponte ligadora dos homens aos deuses. O cargo sacerdotal passava de pais para filhos.
                    
              


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A REPRESSÃO SEXUAL DA IGREJA



         Desde os primeiros anos do cristianismo ocidental, a mulher é considerada como "impura" e constitui, então, para o homem, um obstáculo no caminho da santidade. Essa visão da "pecadora" não nos foi dada por Cristo; foi proposta por São Paulo, que pregava a nova religião numa sociedade de costumes particularmente corrompidos. 
               Historicamente a Igreja Católica Romana sempre desprezou o sexo. Santo Agostinho, o mais célebre dos Padres da Igreja, considerava incompatíveis com Deus e a Natureza, numa perspectiva sobrenatural. Essa atitude profundamente arraigada torna difícil a adaptação da Igreja à nova sociedade que, após ter reabilitado a sexualidade, a liberta e exalta. 
                A aspiração a uma revisão dos valores, a uma reabilitação dos princípios de prazer, surgiu num Ocidente próspero. Foi engendrada pela própria prosperidade. Entretanto, esse tema ainda é tratado com superficialidade, tanto nas pesquisas como nas discussões, por grande número de pais, professores e responsáveis pela nossa sociedade. 
                  Duas idéias governam os textos bíblicos que tratam da sexualidade: a primeira é que o sexo é um mistério que é preciso cercar de respeito; a segunda é que o casamento é a forma desejada por Deus para as relações sexuais. Entretanto, os judeus das origens do cristianismo aceitavam que os prazeres da vida fossem vividos plenamente. Tanto que, no Antigo Testamento não existe nenhuma proibição às relações sexuais antes do casamento, como também, nenhum trecho da bíblia rebaixa a mulher para exaltar o homem. Foi apenas depois do exílio que o povo judeu desenvolveu a ideia de que os prazeres, particularmente o prazer sexual, deviam ser condenados. 
                 A igreja considera o corpo, especialmente da mulher, como instrumento privilegiado da tentação. A incessante exaltação do celibato por São Paulo, revela seus profundos problemas pessoais em relação à sexualidade. Alguns religiosos, apaixonados por psicanálises, acreditam ver em seus propósitos uma homossexualidade latente e reprimida. São Paulo marca o ponto de transição entre a atitude sadia e positiva para o corpo, que caracterizava o Antigo Testamento e o próprio Jesus, e a atitude dualista e negativa que não parou de se expandir no Ocidente. Ele aconselhava os cristãos preocupados com a saúde a seguirem seu exemplo e não se ligarem a nenhuma mulher. 
              A moral cristã foi, aos poucos, se edificando em volta da convicção de que a sexualidade devia ser evitada como o "mal essencial", à exceção do mínimo necessário para manter viva a raça humana. A prática sexual só foi desculpável na procriação. Com isso a Igreja considerava que tinha encontrado o ponto de equilíbrio declarando que o ato sexual em si não era condenável, que condenável era o prazer que dele tiravam os indivíduos. 
                Os moralistas escolásticos editaram um código que regulamentava, no menor detalhe, a vida sexual dos fiéis. A confissão obrigatória veio facilitar essa odiosa atitude. Dele, em nenhuma estágio, o pecado é totalmente excluído, pois que a paixão necessária para desencadear o ato criador constitui um pecado, mas a gradação do pecado atinge o extremo. Para homens e mulheres casados criou-se camisas especiais que permitiam conceber com um contato reduzido entre os corpos. Entretanto, as poluções noturnas involuntárias são classificadas como pecados. Fazer amor em sonhos, durante o sono, ainda é considerado crime que deve ser declarado no confessionário. É na sombra dos confessionários que os padres escutam as consciências e, como policiais, interrogam aquilo que consideram pecados da carne. O absurdo da confissão ainda é utilizado pelos padres de nossos dias; é a forma mais confortável para saber tudo sobre as fraquezas, hábitos e práticas dos fiéis.
         Historicamente, pode-se provar que a decadência dos povos latinos, geralmente dominados pelo clero, começou logo após a queda do Império Romano, quando a hierarquia eclesiástica se apoderou das consciências humanas através de uma ditadura físico-espiritual. 
               Do século IV até o século XVI a Europa inteira foi dominada pela teologia escravizante da Igreja Católica Romana. 
                  O Catolicismo romano é visceralmente ritualista-sacramental, e não ético-espiritual. O clero inventou uma espécie de moral para seu uso interno. O que ele quer, acima de tudo, é firmar o prestígio social da sua classe, fazer triunfar a sua política e aumentar as suas finanças. 
          Os católicos, ignorantes e obedientes, continuam a crer piamente que seus chefes espirituais fazem de tudo pela maior glória de Deus e salvação de suas almas. 
                Para manter o povo nessa permanente ilusão, cerca-se o clero de todas as medidas de precaução, com as mais diversas formas de ameaças, que sempre são expressadas como ofensa a Deus. O cérebro do fiel é capturado e psicologicamente sugestionado ao bel prazer dos clero.
            Segundo o Evangelho, deve o homem evitar o pecado. Porém, a teologia clerical procurou facilitar o perdão automático dos maiores pecados e crimes através de uma simples confissão e cumprimento de uma sentença, de preferência financeira. 
               O homem é naturalmente adepto da lei do menor esforço. Ora, se uma confissão rápida e fácil o exime da necessidade de uma passagem difícil e prolongada no "purgatório", ele escolhe a primeira opção. E assim, vai a moral do clero criando um perigosíssimo círculo vicioso e imoral onde se pode pecar-confessar, pecar-confessar, pecar-confessar.
                   O Brasil, proclamado como sendo a maior nação católica do mundo, esteve quase 400 anos nas mãos exclusivas do clero romano; por lei, nenhum outro culto público era permitido. E depois do advento da República, a despeito da igualdade de cultos garantida pela Constituição, o clero continua a ser imensamente favorecido pelos poderes e cofres públicos. Esse tipo de legislação fez forçosamente surgir duas classes de cristãos: os exploradores e os explorados. (Aqui não estou falando apenas da Igreja Católica Apostólica Romana, mas de todas as seitas e religiões que se utilizam do nome de Cristo para benefício próprio.)
                  A Igreja, cuja criação foi atribuída ao pobre Nazareno, acabou milionária! Na Idade Média chegou a ser a maior e quase a única potência mundial, nomeando reis, depondo monarcas, marchando á frente de poderosos exércitos e dispondo da alma e dos corpos de todos. Em nossos dias, continua sendo uma potência política e financeira global. O dinheiro flui com grande facilidade das igrejas espalhadas pelo mundo todo; onde existe uma pequena cidade, lá está um pároco local que administra as arrecadações que garantem a boa vida e os luxos de todo o clero.
                  Toda essa organização politica, financeira, diplomática, jurídica e militar, iniciou-se com a fraude do Imperador Constantino quando se disse convertido ao Cristianismo. Desde esse tempo a igreja cristã, livre e respeitada, ganhou imenso poder.
                Entretanto, devemos considerar que os princípios cristãs são realmente de grande valor. Também temos de considerar que existem pregadores sérios, que realmente divulgam, de maneira honesta e sincera os ensinamentos do humilde Nazareno; dessa forma beneficiam seus seguidores com palavras de amor e esperança. Como Jesus diria: "é preciso separar o joio do trigo."

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Muitos cristãos desconhecem que Santa Helena era a mãe do Imperador Constantino (primeiro Papa). Conhecido como o benfeitor do cristianismo - que até certo ponto foi mesmo - na medida em que diminuiu a violência contra os cristãos. 
Entretanto, passados mais de dezesseis seculos, olhamos toda a história dessa religião e fica bem evidente que ele, na verdade foi um desastre incomparavelmente maior do que haviam sido Nero e Diocleciano, porque estes, alimentando a tempestade da perseguição, aumentavam cada vez mais a divina incandescência dos discípulos do Nazareno. Ele era um guerreiro tão sagaz que usou o próprio batismo para fazer política, protelando o quanto pode.
Espero que o meu caro leitor entenda que aqui estou apenas tratando de fatos objetivos, históricos. A meu ver, com suas medidas governamentais, Constantino Magno iniciou a decadência espiritual e moral do Cristianismo. 
       Isso pode facilmente ser percebido já nas primeiras medidas do "Imperador cristão". Realmente concedeu plena liberdade à prática do cristianismo, mas cumulou de honras os chefes espirituais da jovem igreja, confiou-lhes elevados cargos na política e na administração do império, entregou-lhes as chaves para grandes fortunas, e, assim, estava lançado o germe da corrupção interna, não do Cristianismo em si mesmo, que é incorruptível, mas de numerosos cristãos que tinham nas mãos os destinos históricos dos princípios cristãos - aqueles verdadeiramente pregados por Cristo.
Já naqueles tempos, os chefes da igreja trocaram a força do espírito pelos espírito da força. Serviram ao mundo um Cristianismo falsificado, afirmando ser aquilo o Cristianismo puro e integral.
O humilde Nazareno e suas legítimas pregações  em nada tem a ver com a forma que passou a  ser utilizada pelos chefes daquela igreja nascente.
Jesus Cristo foi, de todos os homens, o mais incompatível com o mundo, e, quanto mais cristão é um homem, tanto mais o mundo o considera corpo estranho.




quinta-feira, 23 de agosto de 2018

O CELIBATO CLERICAL E A PEDOFILIA NA IGREJA




                O celibato já existia no século I, entre os eremitas e monges. Naquela época era considerado um estilo de vida opcional alternativo. Foram os políticos medievais que deram origem à disciplina do celibato clerical obrigatório na igreja.
                      O primeiro celibato obrigatório da Igreja Católica foi decretado pelo Concílio de Elvira (295 x 302), Elvira era uma simples província romana e por isso essa decisão não foi cumprida por toda a igreja. Já o Concílio de Nicéia (323), do Imperador Constantino, decretou que "todos os membros do clero estão proibidos de morar com qualquer mulher, com exceção da mãe, irmã ou tia". 
              Foi no ano 313 d. C. que o imperador romano Constantino legalizou o  Cristianismo dentro do império e, dando continuidade a seu plano de poder, construiu muitos templos e igrejas mais simples por todo o império romano, permitindo assim o seu crescimento em grande escala. 
                Com a legalização,  no ano 380 d. C., sob o governo de Teodósio, a igreja primitiva mudou de um grupo de pequenas comunidades perseguidas na fé para um poder mundial. A partir de então, muitas coisas mudaram para os cristãos. Seus líderes deixaram de se esconder e passaram a receber pagamento pelos seus trabalhos eclesiásticos com privilégios especiais na sociedade romana. Esses privilégios atraíram os membros da elite que eram homens treinados na vida pública. Foi então que surgiram os primeiros padres sem nenhum embasamento bíblico. Com a elite política usufruindo das benesses da igreja institucional, emergiu uma espécie de imitação do governo romano dentro da Igreja Católica. Governantes e súditos começaram a substituir as pequenas comunidades embasadas na família, às quais eram servidas por um sacerdócio local casado. Com o passar dos anos os novos padres romanos agiram, nas pequenas comunidades, no sentido de retirar a autoridade dos padres que eram casados a fim de consolidar o poder político ao seu redor. Assim, com a assistência do império romano, a liderança da igreja tornou-se uma hierarquia afastada das origens familiares. Criou-se a mentalidade de que essa classe governante estava acima do povo, e que eram representantes oficiais de deus na terra. 
                Com o passar dos anos, diversas mudanças aconteceram retirando os direitos do povo em favor dos políticos romanos. Instituiu-se a prática de que somente homens tivessem autoridade institucional. A Igreja Romana desviou-se dos costumes incentivados pelo Senhor Jesus Cristo, que sempre exaltava o papel da mulher na família e na sociedade. Elas tiveram sua condição rebaixada e, assim, criou-se o celibato clerical. Não demorou para este passasse a ser defendido como essencial, uma vez que celibatários eram mais livres e disponíveis. Com o tempo, o novo clero regular foi se destacando em relação ao clero secular familiar. Mas, nas "Sagradas Escrituras" não há nenhuma determinação a esse respeito. 
               Ao longo do tempo, para ampliar poderes políticos e econômicos, o celibato adquiriu  o status de espiritualidade especial, começando a denegrir a santidade matrimonial e a vida familiar. 
                 A antiga prática romana de abster-se das relações conjugais, para conservar energia antes de uma batalha ou de um evento esportivo, encontrou seu caminho na pratica litúrgica. Aos padres casados foi ordenado absterem-se de intimidade sexual com suas esposas na véspera da celebração das missas. O celibato tornou-se outra oportunidade politica nas mãos dos padres e bispos ambiciosos. Os oportunistas, que eram celibatários, usavam sua condição como ferramenta no sentido de diminuir a influência dos padres casados, criando desconfiança sobre suas reais abstinências sexuais. Com essa nova atitude negativa em direção às mulheres, a abstinência sexual começou a emergir na hierarquia, a qual se colocou em árduo contraste à saudável perspectiva familiar pregada por Cristo, que era objetivo central da igreja primitiva. O celibato foi então definitivamente estabelecido como o mais elevado estado de santidade e consequente supressão do sacerdócio casado. 
                 No ano 366, o Papa Damásio começou a perseguir o sacerdócio casado quando declarou que os padres podiam continuar a casar, porém ficavam proibidos de praticar sexo com suas esposas. Tanto os padres como o povo cristão rejeitaram essa nova lei. No ano 384, o Bispo de Roma  Sirício, abandonou a própria esposa e os filhos a fim de ascender à posição papal. Ao subir ao poder, imediatamente decretou que nenhum dos padres poderia continuar casado, porém, até hoje, não conseguiu obediência à sua lei. 
                   Essa preocupação desmedida com a sexualidade clerical sempre foi contrária à relações normais do ser humano e fora do andamento natural da vida, conforme reconhecido por todas as religiões e seitas como algo estabelecido por Deus. No ano 401, Santo Agostinho escreveu: "Nada tão poderoso para neutralizar o espírito de um homem como a carícia de uma mulher". 
                A crescente atitude contra a sexualidade e as mulheres foi a odiosa forma encontrada para controlar os aspectos íntimos da vida das pessoas e essa prática prossegue até os nossos dias. 
                 Não foi por obediência às "escrituras", mas por conveniência política que a Igreja Católica Romana se colocou contra o divórcio. A hierarquia da igreja medieval estava em luta com muitas monarquias e famílias reais através da Europa. Com a capacidade de controlar os casamentos reais, a igreja percebeu que poderia influenciar as alianças políticas e manipular os assuntos de Estado. Proibiu o divórcio e um segundo casamento, e quem não observasse suas novas ordens seria punido com a privação de sacramentos da instituição. 
                  No século XI, os ataques contra os padres casados aumentaram de intensidade. Em 1074, o Papa Gregório VII legislou que qualquer homem que fosse ordenado padre deveria, antes, declarar o celibato. Prosseguindo seus ataques contra as mulheres e à sexualidade, Gregório declarou publicamente que "a Igreja não pode escapar das garras do laicato, a não ser que padres escapem das garras de suas esposas". Em 1095 houve uma escalada de violência contra os padres casados e suas famílias. O Papa Urbano II ordenou que os padres casados que ignorassem a lei do celibato fossem aprisionados para o bem de suas almas. Em seguida, ordenou que as esposas e seus filhos fossem vendidos como escravos, que os bens da família fossem desapropriados, e que o dinheiro apurado fosse levado aos cofres da Igreja. 
                 Os esforços para consolidar o poder na hierarquia medieval com a desapropriação dos bens e das terras das famílias dos padres casados alcançaram o ápice em 1139. 
                  O celibato clerical, tal como é hoje, foi definitivamente oficializado, com legislação específica, no Concílio de Latrão, sob o papado de Inocêncio II. A motivação das leis foi adquirir terrar, com despropriações, em toda a Europa, fortalecendo assim o poder do papado e da Igreja.
                  Usando uma linguagem convincente, a lei do celibato falava em pureza e santidade, mas o seu verdadeiro objetivo era consolidar o controle sobre o clero mais baixo e eliminar qualquer confrontação aos objetivos políticos na hierarquia da Igreja medieval. Com isso a respeitável tradição do sacerdócio casado foi virtualmente diluída pelo celibato forçado. 
                 A maioria dos atuais problemas em relação à vida sexual dos padres e bispos, casados ou não, tem origem no passado histórico da própria igreja. Nos últimos anos, mais de 100 mil padres católicos, no mundo inteiro, casaram e continuaram a praticar discretamente o sacerdócio. Nos estados Unidos, atualmente, em cada três padres um é casado e esse número continua crescendo. É interessante observar que esses novos padres praticam um sacerdócio com uma compaixão mais profunda pelas pessoas e não se consideram seres inferiores ao clero oficial. Os padres casados entendem as necessidades especiais dos católicos divorciados que desejam contrair um segundo matrimônio com cerimônias cristãs. Principalmente as mulheres se mostram profundamente comovidas pela honestidade e respeito demonstrados por esses padres às suas esposas e pela sensibilidade que demonstram diante dos problemas femininos. 
                  Uma pesquisa recente, feita nos Estados Unidos, indicou que 70 % dos americanos aprovam o casamento dos padres. Entretanto, o Vaticano continua irreversível. Quando um padre celibatário resolve casar, não lhe é dada opção alguma que não seja a de assinar enorme quantidade de papeis dizendo que não tem vocação para o sacerdócio e que é psicologicamente instável e moralmente fraco. Um verdadeiro retrocesso aos hábitos medievais.
              Cada lei celibatária é referida como Cânon. O Cânon 290 determina a indissolubilidade do sacerdócio quando diz: "Após ter sido recebida validamente a ordenação, ela jamais poderá ser invalidada". Portanto, para os cristãos, esta lei confirma que os sacramentos dados aos fiéis pelas padres casados são tão válidos como os dos celibatários. 
                   O celibato obrigatório é uma lei feita pelo homem medieval que tem trazido enormes problemas, com relação ao sexo, para as igrejas católicas no mundo todo. O corajoso bispo Ulrich de Imola argumentou que a igreja não tinha o direito de proibir o casamento dos padres e aconselhou os bispos a não abandonarem suas famílias. Ele disse: "Quando o celibato é imposto, os padres cometem pecados muito maiores do que fornicação". O grande número de prisões de padres e outros religiosos envolvidos em má conduta sexual, principalmente a pedofilia, tem comprovado o quanto ele estava certo. As evidências criminais comprovam que o celibato obrigatório está diretamente ligado aos diversos abusos sexuais cometidos pelos religiosos.
                 As saudáveis origens da família, do amor entre homem e mulher, pregado por Cristo, foram desperdiçados com a supressão do sacerdócio casado, principalmente com a desvalorização das mulheres pela igreja.
            Recentemente o Papa João Paulo II declarou que o celibato não é essencial ao sacerdócio. O movimento começa a ganhar espaço entre os fiéis mais conscientes, e algumas mudanças da igreja têm acontecido através de iniciativas do povo.
                   Como herdeira natural do poder imperial romano, a Igreja Católica Cristã ampliou muito seu poder econômico e político, tornando-se uma poderosa organização milenar que congrega fiéis em todo o mundo. Esse poder é bem visível se observarmos que em qualquer comunidade, ou pequena cidade, há sempre uma paróquia ao lado de uma igreja católica. Mas, em pleno século XXI, ela não poderá continuar parada no tempo medieval, sob pena de ver seu poder minguar significativamente. A escassez de padres celibatários está causando o fechamento de paróquias e ameaçando a disponibilidade de missas,  dos sacramentos, que são atividades essenciais da comunidade cristã. Os estudos feitos, inclusive pela própria Igreja, sobre essa crise - a falta de padres ativos - demonstra claramente que o problema vai piorar nos próximos anos. A maioria dos atuais padres celibatários é idosa e não tem condições de atender ao crescente número de católicos, e, portanto, etá em estado de emergência. 
                  O sexo é uma necessidade biológica e um instinto natural de todos os seres vivos. O homem moderno evoluiu muito, mas seus hormônios continuam na era ancestral. 


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A pedofilia na igreja não é algo recente. Alguns historiadores consideram que ela sempre existiu, mas aumentou muito depois que a igreja oficializou o celibato como obrigatório. 
Nesse momento a igreja está sendo sacudida por uma enorme quantidade de escândalos envolvendo altos líderes católicos com abusos sexuais, contra crianças e adolescentes, em todo o mundo. 
Nos Estados Unidos, em agosto de 2018, um relatório de 884 paginas do grande juri, foi divulgado depois de dois anos de investigações coordenadas pelo procurador-geral Josh Shapiro. Ele trás à tona graves denúncias de que a Igreja Católica, há muitos anos, vem encobrindo a costumeira prática de abuso sexual envolvendo crianças e adolescentes em seis das oito dioceses da Pensilvânia. Somente nesta cidade, segundo o grande juri, 301 padres abusaram sexualmente de mais de mil crianças e adolescentes. Os casos que vieram a tona se referem a 70 anos de tais práticas e foram encobertos por bispos e outras autoridades da Igreja. Assim se manifestou o grande juri: " Sacerdotes estupravam meninos e meninas, e os homens de Deus que eram responsáveis por eles não apenas não faziam nada, como esconderam tudo. Por décadas."
Além disso o júri acrescentou que os integrantes da Igreja, mencionados no relatório, foram protegidos e alguns até mesmo promovidos.
O documento alerta que o número real de vítimas é bem maior, chegando à casa dos milhares; muitos documentos sumiram, além disso,  grande número de vítimas, por vergonha ou por medo de denunciar os padres, nunca falaram. Possivelmente em breve surgirão novos capítulos de mais essa história de  horror no seio  da Igreja, uma vez que a partir de então o FBI assumiu as investigações. É bom lembrar que tudo isso aconteceu na Pensilvânia e que a Igreja é mundial.
  O relatório do grande júri, diz ainda: "O principal não era ajudar as crianças, mas, evitar o escândalo. Essa não era a nossa palavra, mas a deles. Aparece repetidamente nos documentos que recuperamos".
Os abusadores eram orientados : "Evite o escândalo. Use eufemismos. Faça perguntas inadequadas. Tranque as denúncias em um arquivo secreto. E, acima de tudo, não conte à polícia."  "É como um manual para esconder a verdade". A ordem da Igreja era clara: " Se a conduta de um predador se tornar conhecida da comunidade, não o remova do sacerdócio para garantir que não haja mais crianças vitimadas. Em vez disso, transfira-o para um novo local onde ninguém saiba que ele é um abusador de crianças."   Todas essa informações constam dos documentos que instruem o processo criminal nos Estados Unidos. 
Recentemente, foi anunciado o fechamento de um número considerável de paróquias católicas no estado de Connecticut, Estados Unidos. Isso é somente parte do problema que está vivendo a Igreja na nação americana, especialmente nas dioceses do norte.
O rápido enfraquecimento da fé cristã na Europa resultou no fechamento de muitas igrejas, que por estarem vazias, tiveram de ser vendidas. Locais de adoração a Deus se tornaram academias, supermercados, lojas e bares.
O grave problema da pedofilia na Igreja resultou no pagamento de 2,2 bilhões de dólares a 100 mil vítimas apenas nos Estados Unidos.
É muito triste ver que o bem que poderiam estar fazendo nos próximos anos, nunca será feito por causa de dinheiro, do tempo e do esforço já gastos e que continuarão sendo gastos, para enfrentar a crise da má conduta sexual.



                    
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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

TRIBUNAL DA SANTA INQUISIÇÃO



                Como já sabemos, com a queda do Império Romano, a Igreja Católica Apostólica Romana foi a herdeira natural do poder, inclusive militar. Essa herança se refletiu por longos séculos e  com isso tanto a violência como as guerras fizeram parte dos papados mais radicais. 
                  A Inquisitiom Haereticae Privitatis Sanctum Officium foi o nome, em latim, da Santa Inquisição criada pela Igreja para combater o sincretismo religioso dos chamados infiéis. Foi intitulada numa época em que a igreja exercia grande poder sobre os reinos europeus. 
                Os objetivos iniciais eram estritamente religiosos, mas se tornou um instrumento político e econômico usado tanto pela igreja como por diversos soberanos que seguiam as orientações do Santo Ofício. Ela permitia que pessoas e até mesmo populações inteiras fossem acusadas de práticas indevidas e executadas de forma arbitrária, sem direito à defesa, em benefício de uma minoria de poderosos. 
                 Em nome de Deus, com interpretações particulares de alguns textos considerados sagrados, a Inquisição levou pessoas a matar cruelmente aqueles que não seguissem o mesmo ponto de vista. Na verdade, era uma forma justificada de tirar a vida daqueles que poderiam se tornar uma ameaça futura para a igreja, como também para os poderosos. 
                  Muito antes da Inquisição existir, o Cristianismo pregado pela Igreja já era imposto através da força. Evidentemente, esta postura, nada tem a ver com o humilde pregador do amor e da paz chamado Jesus de Nazaré. Uma delas foi a sistemática perseguição de judeus. 
                   Em 1215, o Quarto Concílio de Latrão, estabeleceu que todos os judeus em terras católicas deveriam usar emblemas ou roupas que os diferenciassem dos outros. Foram confinados em guetos, tornando-os em uma classe odiosa em boa parte da Europa. Essa atitude nos torna impossível deixar de lembrar da Segunda Guerra Mundial com semelhantes atrocidades cometidas nos anos 1940.
                 Também as Cruzadas, que duraram do século 11 ao século 14, e tiveram a participação de grandes reis como Ricardo I e Luiz IX, além do grande chefe e guia muçulmano Saladino, tinham nítidos objetivos econômicos e políticos. Não passaram de um conflito em que os europeus representantes da Igreja Católica saqueavam as mesquitas e matavam os seguidores de Alá sob a alegação de impor a religião católica a todos. Saladino tornou-se governador do Egito em 1169, o mais importante soberano do mundo muçulmano, e então planejou a união dos estados islâmicos para uma contraofensiva aos cristãos.  
               Já no final do século 4, em Trier, na Alemanha, diversos bispos executaram Prisciliano (Priscillian) e seus seguidores por  questionarem a Trindade e a Ressurreição. Ele foi a primeira pessoa a ser executada por heresia contra o Cristianismo pregado pela Igreja de então. Outro caso interessante se deu no ano  415 quando a cientista Hypatia, chefe da Biblioteca de Alexandria, foi espancada até a morte junto com outros seguidores de São Cirilo. 
                Na época de inquisição a maioria da população européia era católica e se submetia à Igreja com perigoso fanatismo religioso e, portanto, era facilmente manipulada. 
                   O termo heresia foi usado por cristãos para designar idéias contrárias às da Igreja oficial e consideradas falsas doutrinas. Matar hereges significava purificar o Cristianismo. A partir de então, uma verdadeira guerra santa foi realizada contra os seguidores de outras crenças ou religiões. Em nome de Deus, qualquer um poderia ser acusado de heresia e ser mandado vivo para a fogueira. 
             Em nosso dias essas histórias podem parecer  extremas, mas na época eram responsáveis por diversas acusações que resultaram na morte de muitos inocentes. 
            " Aqui abro um parênteses para dizer porque trouxe este assunto para este livro. Meu objetivo maior é transmitir aos leitores o pouco de conhecimento que tenho a respeito das religiões que ajudaram a moldar o mundo em que vivemos. Portanto, é importante que todos aqueles que professam uma determinada religião ou crença, saibam como ela se desenvolveu ao longo dos séculos. Mas, todas essas informações, em nada diminuem a essência benéfica de uma religião ou seita que procura ajudar e dar mais conforto às pessoas de boa fé. "
                Em 1022, o rei Roberto de Orleans, matou 13 hereges na fogueira. Em 1051, cristãos da comunidade alemã Goslar foram condenadas à forca por se recusarem a matar galinhas. 
              Pela postura da própria Igreja, os movimentos heréticos se expandiram pelo continente europeu. Os Papas, tal como os imperadores romanos, e o clero em geral só se preocupavam com riquezas matriais e acumulo de poder.  Foi esta postura, que certamente jamais seria permitida por Jesus Cristo, que provocou o descontentamento de muitos cristãos e propiciou o surgimento de diversas seitas consideradas heréticas, que buscavam pela verdadeira doutrina de Cristo. Nessa ocasião os cátaros foram dizimados por defenderem conceitos diferentes dos dogmas da Igreja. Os Waldensanos, seguidores leigos de Peter Waldo de Lyon, também foram alvo de acusações de heresia por mais de cinco séculos. Eles realizavam sermões nas ruas e, segundo as normas da Igreja, apenas os sacerdotes tinham esse direito. Finalmente, em 1487, o Papa Inocêncio VIII declarou uma cruzada contra os Waldensianos em Savóia, na França, resolvendo definitivamente o "problema"...
               A mais conhecida heresia da história da Igreja é a caça aos Cavaleiros Templários. Eram guerreiros de uma ordem que teve origem durante as Cruzadas. Foram acusados de cuspir em crucifixos e adorar o demônio. Torturados barbaramente, alguns confessaram e outros 70 foram queimados vivos. 
               No início do século 13, os bispos ganharam o poder de identificar, julgar e punir os que fossem considerados hereges, mas não deu certo. Então, a Igreja Romana começou a mandar inquisidores papais itinerantes para formar e conduzir os tribunais. Qualquer pessoa podia ser acusada de heresia, ser aprisionada sem poder ver a família e sem saber o nome do acusador. Se não confessava seus supostos delitos era torturada impiedosamente. (lembremos aqui a mártir francesa Joana D'Arc.) Tudo era feito com o consentimento do Papa Inocêncio IV, que autorizou a tortura em 1252. Além de serem obrigadas a se confessar hereges, as vítimas da Inquisição eram forçadas a denunciar familiares e amigos, para que eles também fossem submetidos aos processos de tortura. Aqueles que confessavam rapidamente recebiam penalidades mais leves. Entretanto, alguns réus recebiam penas graves, tornando-se prisioneiros perpétuos e tendo todos os seus bens confiscados pela Igreja. O patrimônio de cada herege podia determinar qual pena seria mais interessante para os objetivos da Igreja.
                Em 1231, um estatuto papal determinou que a fogueira fosse a punição-padrão para hereges. Mas, para disfarçar e não sujar tanto o nome da Igreja, as execuções deveriam ser realizadas por civis. 
              Por ocasião da peste bubônica, que tomou conta da Europa em 1348, espalhou-se a notícia de que os responsáveis pela doença eram os judeus que estavam envenenando os poços de água para contaminar toda a população. Esse boato hediondo resultou no massacre de judeus em mais de 300 cidades. Em 1349, em Mainz (Alemanha), cerca de seis mil judeus foram mortos de uma só vez. Em algumas regiões da Alemanha os judeus foram confinados em suas casas até morrerem de fome. Durante os três anos da Peste Negra, cerca de 350 grandes massacres foram realizados contra o povo judeu. É inacreditável a resistência desse povo que vem sofrendo a tantos séculos, sem nunca desistir de esperar que algum dia a cultura humana vença a ignorância e o preconceito.
                A Igreja Católica Apostólica Romana sempre teve um enorme poder. As pessoas que discordavam de alguns aspectos do Cristianismo passaram a ser consideradas bruxas.  Somente na caça às bruxas, a Santa Inquisição levou à morte, possivelmente, dois milhões de vítimas. Muitas mulheres e alguns homens foram torturados e morreram sob acusação de que voavam pelo céu e mantinham relações sexuais com Satã. As mulheres passaram a ser tratadas como seres traiçoeiros e desprezíveis, e milhares foram condenadas à morte simplesmente por ser mulher. Foi a partir de relatos desse tipo que a imagem feminina passou a ser associada ao demônio. 
                 As pessoas consideradas bruxas eram conhecedoras de sabedorias antigas e, portanto, tronavam-se uma ameaça para a soberania da Igreja. Na maioria das vezes eram condenadas à morte. O Papa Gregório IX já havia autorizado oficialmente a morte de bruxas na século 12, mas a "moda" só pegou mesmo no século 15. Em 1484, o Papa Inocêncio VII emitiu um boletim que enfatizava a existência de bruxas e dizia que os que pensassem ao contrário poderiam ser condenados por heresia. Como consequência houve grande aumento de condenações e suicídios humanos; um único inquisidor mandou, de uma só vez, 41 mulheres para a fogueira, acusadas de bruxaria. 
                Os civis encarregados de levar as pessoas á fogueira se tornaram populares e, ao mesmo tempo, temidos por toda a comunidade européia. Isto não estava nos planos da Igreja. O carrasco Robert Le Bourge ficou famoso por matar 183 pessoas na fogueira em uma só semana. Outro carrasco de destaque foi Bernardo Gui que condenou e confiscou todos os bens de 970 pessoas. Dessas, um terço foi conduzida para a prisão e 42 para a fogueira. 
             O medo das atrocidades fazia com que muitos acuados se convertessem ao Cristianismo. Como resultado, milhares de judeus e muçulmanos da Espanha se converteram. Mas logo foram acusados de não serem sinceros e de praticar suas religiões originais na clandestinidade. Os chamados "falsos cristãos" eram um novo alvo da Igreja e sua caça perdurou por longo tempo com a colaboração do rei Ferdinando e da rainha Isabel da Espanha. A partir de 1498, eles foram autorizados pelo Papa a reviverem a Inquisição contra os judeus e muçulmanos acusados de praticas religiosas secretas. Nessa etapa, conhecida como Inquisição Espanhola, o frei dominicano Tomás de Torquemada foi nomeado inquisidor geral, matando mais de duas mil pessoas na fogueira e tornando-se símbolo de crueldade cristã. Devemos sempre lembrar que Jesus Cristo era judeu.
               Em 1542, o Papa Paulo II resolveu acabar com a influência protestante na Itália. Surgiu, então, a Inquisição Romana espalhando terror e matando hereges por qualquer tipo de suspeita ou acusação. Foi nessa ocasião que figuras famosas como o filósofo e cientista Giordano Bruno e outros morreram sob acusações heréticas. A partir de então a Inquisição se espalhou por diversas partes do mundo. 
                A caça ás bruxas se espalhou por toda a Europa. Alemanha, Espanha, Suíça, Itália, França, Suécia, Inglaterra, Escócia e até mesmo a colônia norte-americana de Massachusetts se empenharam nas mais diversas perseguições. Nas colônias americanas, em nome de Deus, muitos nativos foram dizimados.  Qualquer um poderia ser considerado suspeito, aprisionado e torturado até confessar seus supostos "crimes" e denunciar seus "comparsas de bruxaria".
               Segundo os pesquisadores, a perseguição da Igreja Católica aos muçulmanos, judeus e hereges era uma luta em nome do Deus cristão, mas, também em nome da fé, além disso, muitas atrocidades foram cometidas por puro sadismo sexual e mundano. As mulheres recebiam tratamento diferenciado. Para serem torturadas, eram desnudas e tinham todos os pelos do corpo raspados. Isso evidencia que a verdadeira intenção era, também, satisfazer os instintos e as sádicas fantasias sexuais dos inquisidores. Elas, quase sempre, eram condenadas a esse tipo de tratamento que podia ser assistido publicamente. As mais belas e excêntricas eram as preferidas dos acusadores e suas execuções reuniam multidões, especialmente de poderosos senhores do clero. 
                As torturas das mulheres eram mais demoradas que a dos homens. Elas tinham as unhas arrancadas enquanto tenazes incandescentes (especie de alicate ou torques de ferro) eram aplicadas em seus seios. Diante de tanto sofrimento, a maioria acabava fazendo algum tipo de confissão e sua condenação era de acordo com ela. Na verdade, a Igreja sempre demonstrou seu total despreza às mulheres. Não se sabe ao certo quantas sofreram este tipo de tratamento, pois os registros desapareceram dos aquivos da Igreja, mas não há dúvida de que milhares delas foram condenadas a torturas até a morte. Segundo consta em poucos registros preservados, 5.000 mulheres foram mortas na província de Alsácia, 900 em Bamberg, 2.000 na Bavária, 311 em Vaud, 167 em Grenoble, 157em Wurzburg, sendo 133 em um único dia. 
                A igreja Católica tem feito um grande esforço no sentido de apagar a memória de um período tão sangrento de sua história. Mas, um currículo desses não se consegue apagar nem por "milagre".
               Em 15 de março de 2.000, o Papa João Paulo II, no documento "Memória e Reconciliação: a Igreja e as culpas do Passado", listou as incorreções e os pecados cometidos pela Igreja Católica no passado, quando, levada pelo seu crescente poder temporal, foi intolerante, opressora e até corrupta, mas isso é crime contra a humanidade. Aqui me vem a memória o grande assassino Hitler; poderia ele pedir perdão aos judeus e ser perdoado?
                 Com mais de 90 páginas, o documento de João Paulo II, se tornou a maior demonstração de expiação pública da história do catolicismo. Por meio dele, o Papa, em nome da Igreja, pediu perdão pela série de pecados cometidos desde sua origem. 
              É oportuno lembrar que muitos cristãos, inclusive do clero, eram radicalmente contra as práticas da Igreja naquela época, mas sentiam-se intimidados e não tinham como reagir diante do enorme poder que estava nas mãos dos seus principais dirigentes. 
               As igrejas sempre tiveram e, infelizmente, ainda tem grande domínio sobre a mente dos seus membros, que acreditam e acatam qualquer ordem vinda dos líderes religioso. Hoje, os objetivos continuam sendo dinheiro e poder político, mas felizmente já não se pratica crimes como na época da Santa Inquisição. As superstições só serão vencidas no dia em que prevalecer o conhecimento e a educação, que nunca interessaram às igrejas e tampouco aos políticos; eles preferem a massa humana ignorante e submissa. Por outro lado, não podemos generalizar, pois sempre existe membros com verdadeiro espírito cristão. O espírito pregado por Jesus de Nazaré.


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A história de cada um é um currículo de vida que não pode ser mudado, mas é também uma experiência que serve para iluminar o futuro.


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AS CRUZADAS E A CONQUISTA DO SANTO SEPULCRO



                No ano de 1095, sacudida pelo incitamento do Papa Urbano II, e instigada também pela predicação de Pedro, o Eremita, que conduziu pessoalmente os primeiros cruzados até Constantinopla, a Europa armou-se para sua grande expedição, a maior depois da queda do Império Romano. O objetivo era resgatar, dos muçulmanos, os lugares Santos da Palestina. Esse grande movimento chamou-se Cruzadas.
                 Jerusalém, Belém e outros lugares ligados à vida de Cristo e que constituíam objeto de especial devoção e de peregrinação entre os cristãos, haviam caído sob o domínio árabe no século VII. ´Para resgatá-los foram realizadas expedições militares, por  parte dos cristãos da Europa Ocidental. Além da causa principal, outras houveram, como a intolerância religiosa dos turcos seldjúcidas, desde que passaram do califado de Bagada; o desejo do Papa de reunir os cristãos desde o Cisma do oriente; a expansão turca na Ásia Menor, privando o império Bizantino de  sua principal peça de defesa; a fé religiosa e a existência, no Oriente europeu, de uma classe militar, a cavalaria, cuja finalidade máxima era a defesa da fé. Eram conseguidos graças e privilégios aos expedicionários das diversas regiões europeias, que deveriam concentrar-se em Constantinopla, para um avanço em massa contra os muçulmanos. 
               No Oriente, os Turcos, sucedidos aos califas árabes no trono de Bagdá (em 1055, o Emir Togrul-Beg, da dinastia de Seljuke, assumira o título de Sultão) oprimiram os postos avançados da Cristandade, ocupando a Síria, a Palestina, a Armênia e os domínios bizantinos da Anatólia. De Constantinopla, os Imperadores - Romano IV Diógenes e Aleixo Comneno - imploravam socorro. O Papa, então, promoveu a união das forças ocidentais contra a ameaça asiática que iniciou-se em 1096. 
                   Atendendo aos apelos e também pela ambição, de todas as cidades, dos castelos da Europa, partiram homens armados, trazendo, em suas couraças e escudos, o símbolo de uma cruz vermelha em campo branco; cavaleiros isolados, senhores feudatários, seguidos por seus vassalos, todos animados por ambição ou enorme impulso de fé. Aos posto de chamada, aguardavam os chefes: Hugo de Vermandois, Roberto de Normandia, Godofredo de Bolhão, Boemundo de Tranto, Raimundo de Tolosa, os maiores senhores da Cristandade, que conduziam, por vias diversas, o grosso das tropas até Constantinopla. 
                Com a ajuda do imperador Aleixo Comneno, o exército cruzado seguiu para a Ásia Menor, transpôs, com muita dificuldade e com grandes perdas, a cadeia de Tauro e baixou sobre Odessa e Antioquia. Após vários choques, rebeliões e dissídios entre os chefes, o exército cruzado, agora sob o comando de Godofredo de Bolhão, duque de Lorena, move-se rumo a Jerusalém e sitia-a. Em 15 de julho de 1099, já com quatro anos de campanha, com as novas máquinas de guerra e catapultas construídas por Guilherme Embriaco, chefe dos cruzados genoveses, uma avalanche de pedras e de fogo grego foi despejada sobre as muralhas da cidade. Através das brechas, irromperam os soldados de Godofredo de Bolhão, em vão combatidos pelos muçulmanos. Cumprindo sua promessa, os chefes cristãos ofereceram a Godofredo a coroa de Jerusalém, mas este recusou, aceitando unicamente o título de "Defensor do Santo Sepulcro".
                  A primeira cruzada terminou naquele mesmo dia, com uma esmagadora vitória dos Europeus, mas os resultados não foram duradouros. O pequeno reino de Jerusalém, fundado após a conquista, teve vida efêmera. Cinquenta anos mais tarde, em 1147, foi necessário organizar-se, para defendê-lo, uma segunda Cruzada, que, aliás, não teve êxito, e, em 1187, a Cidade Santa caía em poder do Sultão do Egito, o famoso Saladino, que derrotara e aprisionara o rei Guido de Lusignano. 
                A terceira Cruzada, em 1189, chefiada por Frederico Barba Roxa, pelo rei da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão, e pelo rei da França, Felipe Augusto, extinguiu-se com a morte de Frederico e pelo abandono do rei francês em 1192. 
               A quarta Cruzada, que deu-se em 1202, nem sequer chegou à Palestina. Em 1204, o Doge de Veneza, Henrique Dândolo, que assumira o encargo de transportar as tropas, soube habilmente desviá-las para as costas de Dalmácia, dirigindo-se para Bizâncio, onde desbaratou o poder imperial, apoderando-se de uma enorme quantidade de territórios e ilhas. Esta foi a primeira vez que o exército das Cruzadas foi utilizado, não para a sua finalidade, mas para conquista de territórios, como faziam os romanos. A ambição foi mais forte que a fé. 
             Por mais de quatro vezes, entre 1218 e 1270, os exércitos cruzados voltaram a tentar a grande aventura, mas sempre foram derrotados pelos Turcos ou pelas dissidências internas ou, ainda, dizimados por epidemias. 
                Jerusalém permaneceu definitivamente em mãos dos infiéis. Mas aqueles séculos de lutas, grandes acontecimentos estavam amadurecendo. Os rudes guerreiros da Europa tinham entrado em contato com o velho mundo oriental, rico de sabedoria e de história. E, quando regressaram a seus castelos, às cidades fortificadas, ainda ardentes, pelo fogo das facções e dos ódios, traziam ainda na retina aquele mundo lendário, e procuravam estabelecer em seus territórios o fausto do Islão. 
                 Assim, as Cruzadas, fracassadas como expedições militares, constituíram a cabeça de ponte entre o Oriente e Ocidente, restituindo aos jovens povos da Europa as chaves de uma antiga e já esquecida sapiência. 
                   A sétima e oitava Cruzadas foram realizadas pelo rei da França, Luiz IX contra Saladino, o poderoso sultão do Egito. Derrotado e feito prisioneiro pelos muçulmanos, em Mansura, o rei Luiz IX da França, teve de pagar, pela sua liberdade, um enorme resgate: um milhão de bizantes de ouro. Dessa forma terminava a oitava e última Cruzada. Vitimado pela peste que assolava o mundo, o rei morre em Tunis. A partir de então, diante de tantos fracassos, chegou ao fim o sonho de libertar Jerusalém pela força dos exércitos cruzados. Os Templários, que sucederam os  cruzados, cuidavam muito mais dos seus interesses comerciais do que da vida de monges-soldados. Aos poucos, os latinos foram perdendo seu ódio pelo Islã e a tolerância passou a ser uma nova realidade. Terminava assim a ofensiva cristã contra os muçulmanos, sem conseguir enfraquecer a força do Islã.  
                 "Se temos de conviver com religiões, precisamos abraçar a causa com tolerância."



PALAVRAS FINAIS DO AUTOR

FILOSOFIA - DEUS E ESPIRITUALIDADE
Quem somos? De onde viemos? para onde vamos? 

                 A filosofia nasceu com a intelectualidade do homem no momento em que ele se tornou auto-consciente . A transição do "homo sentis" para o "homo sapiens" marca o início da filosofia. 
                A inteligência - inter (entre) legere (ler, ou primitivamente, apanhar, colher). como a própria palavra diz, é uma faculdade tipicamente humana embora em grau bem inferior, também existe em outras formas de vida que conhecemos neste planeta. Portanto, podemos defini-la como a faculdade que lê, apanha ou percebe algo entre as coisas individuais, um nexo oculto que os sentidos orgânicos não percebem. O ser dotado apenas de sentidos orgânicos não percebe senão coisas individuais, concretas, geralmente chamadas físicas ou materiais. Os sentidos só percebem a multiplicidade das coisas, mas não percebem nenhuma unidade no mundo. O homem, embora perceba também essa mesma pluralidade, objetos dos seus sentidos, concebe através dessa pluralidade periférica a unidade central do cosmos. Em poucas palavras: percebe a unidade através da multiplicidade.  Considerando que a multiplicidade é periférica e aparente e a unidade é central e real, só um ser que percebe a unidade pode perceber a realidade do mundo. Portanto, o homem enxerga a realidade do mundo através das suas aparências.  
                Muito conhecida é a frase atribuída a Jesus Cristo: "Conheceis a verdade e ela vos libertará". De fato é somente pela verdade que o homem adquire sua liberdade. Quem vive na ignorância ou no erro (inverdade, irrealidade) é escravo. Seu castigo será sempre manter-se no atraso espiritual e continuar sendo explorado por superstições religiosas. Acima de tudo, precisamos amar a sabedoria. E na sabedoria estão todos os homens, seres vivos e a matéria (aparentemente inerte), porque são uma parte do "tudo". A renúncia do "eu", com todos os axiomas intelectuais e teorias é um obstáculo no caminho da perfeição. Uma vida egoísta, na esperança de poder enganar a Deus e crescer espiritualmente, é incompatível com a "realidade". Existe um juiz divinal dentro de cada "ser" inteligente que não pode ser enganado; ele faz parte dos pensamentos mais secretos e no final sempre saberá julgar com absoluta justiça. Portanto, quando alguém rouba, engana seus semelhantes, maltrata indefesos animais, está construindo sua própria decadência espiritual. Ele pode imaginar que, por ninguém mais saber, não será punido. Mas não percebe que sua própria inteligência se encarregará desta tarefa, porque seu juiz interior (a consciência) sempre sabe tudo e um dia julgará. 
                 O mundo, que é "algo", não veio do "nada", mas sim do "tudo". É desse pensamento que surgiu a teoria do Big-Bang (explosão do "tudo" que estava concentrado num determinado ponto. Todos esses "algos", que chamamos mundos, emanaram não da infinita vacuidade do "nada", mas da infinita plenitude do "tudo". É esse "tudo" que as religiões chamam de "Deus". É desse deus que emanam constantemente, os fenômenos, os mundos, os universos - e a Ele retornam sem cessar. 
                 Não vejo como uma modesta sabedoria humana possa, com precisão, definir o que é Deus. Mas, para melhor entendermos, vamos definir Deus como o Poder criador do cosmos. Para os Indus (Pai Brahma); Deus é a Sabedoria Dirigente da Natureza (Filho Vishnu); Deus é amor Perficiente do Universo (Shiva) Destruidor e regenerador da energia vital.
                Todo o universo fenomenal emanou da eterna realidade, Deus, "o tudo" que provocou a Grande explosão. Embora pareça difícil, é preciso compreender que o universo não emanou de Deus como um líquido que emana da um recipiente, mas sim como o pensamento emana da alma. Emanação material implica em separação, afastamento, distanciamento entre aquilo que emana e aquilo do qual emana. Entretanto, não é isto que acontece no mundo da Absoluta Realidade. O pensamento, quando emana da "alma" continua a estar dentro da "alma"; não há possibilidade de separação entre o pensamento e a alma, pois no mesmo instante em que o pensamento fosse separado da "alma" deixaria de existir. O pensamento só é real enquanto permanece na "alma", imanente ao ser. Portanto é a própria "alma" enquanto esta pensa; são inseparavelmente unidos e até certo ponto idênticos. Pois é dessa forma  que o universo fenomenal emana de Deus; é, pois, uma permanente manifestação, revelação ou atividade de Deus. 
                 Deus não equivale a este ou àquele fenômeno, mas sim à essência eterna de cada um.  O íntimo ser de cada coisa é Deus, mas não o seu "existir" perceptível pelos sentidos ou concebível pelo intelecto. No plano do "ser" nada há e nem pode haver fora de Deus, mas, sim no "existir". Uma simples planta que hoje começa a existir como este fenômeno individual, já "era" (ou, mais corretamente),"é" desde toda a eternidade com "realidade", ou parte inseparável de Deus. 
                Uma vez que Deus é a única "realidade", a essência e o íntimo de todas as coisas, podemos concluir que todas essas coisas nunca poderiam "começar" nem "continuar" a sua existência fenomenal sem que a eterna "realidade" lhes desse e conservasse essa existência individual. Portanto, tudo existe graças a permanente imanência da divindade cósmica em todos os seres vivos, materiais e imateriais. Nenhum ser individual pode deixar de "ser", cair no abismo do puro "nada", mas pode deixar de existir como fenômeno individual e voltar a fazer parte do "tudo". Em outras palavras, pode deixar de ser "algo" individual e voltar a ser parte da infinita e indestrutível "realidade", Deus, o "tudo". 
         O Deísmo do século 18 considerava o mundo como criação de Deus no sentido transcendente, e não imanente; segundo os deístas, teria Deus, em tempos pretéritos, criado o universo material e depois abandonado a seu destino, retirando-se, em seguida, para seu palácio transcendente e misterioso, para além das fronteiras deste mundo visível. Se fosse tão simples assim o mundo teria voltado ao puro "nada". 
                A onipresença de Deus não é uma simples coexistência com os fenômenos individuais, como se esses fenômenos existissem e com eles existe Deus. Nenhum fenômeno existiria individualmente sem a imanente presença de Deus; seriam o puro "nada" no plano fenomenal. Como já disse e volto a enfatizar, Deus é o "tudo". Portanto, quando fazemos mal a qualquer ser individual, seja ele vegetal, animal ou mineral, estamos atingindo o "tudo" do qual fazemos parte como seres individuais.
                 Nascer e morrer não são princípios nem fins absolutos; são apenas um começar e acabar relativos. Um ser nasce quando emerge do oceano infinito da "realidade" absoluta e universal, e como onda, pequena ou grande, aparece na superfície visível deste imenso abismo invisível que chamamos de universo, "natureza". Antes de emergir desse abismo o "ser" possui "realidade" universal, depois de emergir possui existência individual, podendo ser objetivo variável por um ou mais dos nosso sentidos. Um ser morre quando abandona a tona perceptível do oceano cósmico (ser individual) e torna a submergir nas imperceptíveis profundezas da eterna "realidade". Portanto, a existência o homem é anterior à sua encarnação, como também será posterior à sua desencarnação.     
               Qualquer "ser" que tenha existido na face da terra é algo que sempre existiu no "tudo" universal (a energia). Se não mais voltou à face da terra como ser individual é porque as condições ambientais não lhe são mais favoráveis, no entanto, continua existindo no "tudo"universal. Partindo dessa premissa podemos dizer que os dinossauros continuam existindo no "tudo" universal, embora sejam apenas uma espécie de energia cósmica, mas pode voltar como "ser" individual em outra forma. Também o homem, algum dia, deixará de existir como "ser" individual, mas continuará no "tudo" universal (energia cósmica - Deus). Ligados a essa realidade, existe algo que para nos é um mistério que nossa pequena inteligência ainda não é capaz de entender. 
                 A "realidade" é pois, a infinita "atividade criadora" é a "Consciência Universal", da qual todos os seres, matriais ou imateriais, recebem sua parcela de consciência individual. Não existe nenhum "ser" que não seja de algum modo consciente; mesmo que seja em tão primitivo grau que, visto da altura da nossa autoconsciência humana, nos pareça inconsciente. Do incessante transbordar da infinita plenitude criadora é que vem o "ser humano"consciente para agir com livre arbítrio. É esse livre arbítrio que determina sua história futura. O futuro poderá ser de ascensão ou descensão, dependendo de sua maneira de agir como "ser"individual. 
                 A consciência humana ainda não está suficientemente desenvolvida para captar os fatos emanados da alma (fatos que chamamos de espírito humano), para então tirar suas conclusões. Os nossos sentidos ainda estão muito dirigidos para a matéria rude. Essa matéria é muito atrativa e é nela que muitos sucumbem. Todo o excessivo acumulo de bens materiais é apenas concentração de matéria nas mãos de um "ser" individual que imagina-se seu proprietário. Mas qualquer matéria também é parte do "tudo" e não pertence a ninguém. 
                    Quando um ser consciente acumula bens desnecessários para sua existência, está tirando dos seres que estão carentes dela. O julgamento e punição serão feitos pela consciência - juiz universal de cada um. A nossa consciência tudo vê, tudo sabe, e dela ninguém escapa. 
                 Três grandes lutas tem de sustentar o homem até chegar a uma relativa quietação interior: 1 - a luta entre a matéria e o espírito, que é individual; 2 - a luta entre a liberdade e a autoridade, que é social; 3 - a luta entre o intelecto e a fé, que é metafísica. Esta última atinge às mais profundas raízes do ser humano, lá onde ocorre a linha divisória entre Deus e o homem, entre o finito e o infinito. 
                   Se já conhecemos as forças divinas que estão adormecidas no nosso interior e se as aperfeiçoássemos durante o curto período de transição aqui na terra, ao invés de dirigir nossa energia para assuntos terrenos sem importância, evoluiríamos, no decorrer do tempo, e nos aproximaríamos mais da perfeição. Voltaríamos ao "tudo" como seres espiritualmente amadurecidos. Não procuramos essa perfeição pela ignorância que ainda temos sobre as forças secretas da natureza - o "tudo"-, da qual fazemos parte. A "natureza" é uma força criada, temporal, espiritual, corporal e real.. Uma imagem do espírito não criado, interminável, eterno, tanto visível quanto invisível. Todo o universo consiste em "pensamentos materializados" do criador, o "tudo". Não há nada diferente, não havia nada diferente e jamais haverá algo diferente no tempo da eternidade. 
               O homem comum considera a inteligência consciente como o mais perfeito estado do ser humano, o que é, certamente, um grande erro, ou então uma filosofia infantil. Há um estado superconsciente mais perfeito do que o estado comumente chamado consciente. O gênio, nos seus momentos mais fecundos e dinâmicos, não age de um modo plenamente consciente; está "inspirado", isto é, tomado de um espírito criativo que vem do todo, de uma força cósmica que não coincide simplesmente com o "eu" histórico desse indivíduo; é algo que ultrapassa todas as barreiras da sua consciência intelectual. O verdadeiro gênio é, antes de tudo, "atuado" e não "atuante"; é empolgado e arrebatado por alguma potência superconsciente e, quiçá, ultra-personal. Neste sentido, temos exemplos maravilhosos que comprovam este estado de superconsciência; são muitos os exemplos que poderia dar, mas vou citar apenas três casos muito conhecidos: o pequeno gênio Mozart que começou a compor com apenas cinco anos; o famoso pintor Van Gogh, que produzia suas mais brilhantes obras em estado de quase loucura; e também o gênio Da Vinci que tinha múltiplos talentos e parecia estar vivendo fora do seu tempo. 
                Uma das palavras mais felizes e precisas que a língua humana possui é "êxtase". "Ec" ou "Ex" que quer dizer "fora"; "statis" significa o "ato de estar". De maneira que êxtase diz literalmente o estado de um homem posto fora de si mesmo. Todo o homem superconsciente acha-se "fora de si mesmo", porque seu verdadeiro "eu" ultrapassou o âmbito dos sentidos e do intelecto consciente, e entrou numa zona ignota, anônima, vedada a essas faculdades diurnas; entrou na zona noturna que são o domínio da faculdade superconsciente. De per si, é essa zona noturna dos sentidos e do intelecto, mas para estas faculdades inferiores ela é noturna - assim como a luminosidade do dia é escuridão para as aves noturnas, ao passo que as trevas lhes parecem luminosas. Isso pode acontecer quando uma pessoa entra numa espécie de "transe" e escreve ou fala coisas que conscientemente não escreveria. Ela está tomada por uma energia que vem do "tudo", mas esta energia não é parte permanente do seu "eu"; ela vem e depois esvanece-se. Quando a pessoa volta ao estado do seu "eu" não consegue lembrar do que falou ou escreveu. 
                 A alma ou espírito humano, superando os sentidos e o intelecto, entra no reino da superconsciência. Devido ao caráter misterioso desse estado superconsciente, muitos confundem a subconsciência - como se uma luz excessivamente forte fosse idêntica à treva, pelo simples fato de ultrapassar os limites da penumbra. A nossa atual consciência é comparável à penumbra, ao passo que a superconsciência é luz integral. 
               O homem possui vários sentidos em seu estado latente, com os quais pode perceber aparições espirituais que não entende. A intuição, por exemplo, está vagamente presente na maioria dos homens, apesar de dominada pelo intelecto. Ela funciona como que (a exemplo) uma antena ou aparelho receptor dotado de extrema sensibilidade; apanha vibrações que não seria possível com o aparelho rudimentar da consciência puramente intelectiva. Todos os sentidos tem uma inteligência além da sua inteligência normal comum. Também a telepatia é um fenômeno que depende do funcionamento da mente. O sistema básico do cérebro para o processamento das informações é o mecanismo empregado na telepatia, na clarividência e na precognição. A informação está construída na própria estrutura do universo. Nossa mente não passa de uma pequenina máquina local, mas existe uma inteligência coerente, de incalculável grandeza, que está por trás de tudo. É difícil saber se esses momentos são conexões com com inteligência de algum "ser" que está no "tudo" e consegue, de alguma forma, se manifestar através de um "ser" individual. O que podemos concluir é que existe inteligência por trás de tudo, que os sistemas materiais são influenciados, transformados, deformados, e que há forte energia invisível sendo empregada.  Poderíamos dizer que somos parte de um sistema de saída e entrada que estabelece comunicação com o sistema universal, o "tudo". Isso nos leva a concluir que nessas ondas energéticas existem sistemas de velocidade acima da luz, e que essas inteligências estão em outros espaços e dimensões; são inúmeros universos paralelos, separados pelas suas velocidades e para atravessar de um território para outro é preciso ultrapassar a barreira da velocidade. É a energia e inteligência trabalhando juntas em certo lugar no tempo e no espaço. A alma existe e é nosso "locus", ela faz parte desse sistema, desta inteligência que permeia o universo. O grande desafio está na alma conhecer a energia que existe nesta galáxia em que estamos vivendo temporariamente e que já foi definida pela física. Quando chegarmos a compreender o sistema físico - a levitação, e desmaterialização, a rematerialização e dominar a energia e a matéria, então teremos terminado o que viemos fazer e seguiremos em frente, rumo a outros mundos; talvez um próximo planeta ou uma outra galáxia. Dessa forma iremos caminhando, aprendendo a manejar os diferentes aspectos do universo, as diferentes velocidades, espaços e tempos que existem. 
                Os jovens de nossos dias estão à procura de um "porto seguro" que deveria estar no centro de todos os ensinamentos científicos, filosóficos ou religiosos. A ciência nos ensina tudo sobre a forma exterior, sua anatomia, sua psicologia, suas relações com o mundo físico. Estes jovens sabem que sua forma exterior morrerá e que o conhecimento sobre a existência limitada do corpo é pequena e sem importância quando comparado ao tesouro do seu ser espiritual "interior". Mas ele procura alguma segurança sobre seu "ser" espiritual, independentemente de sua forma e aparência exterior. Mas a ciência e a filosofia mantém silêncio sobre esse problema e isso leva-o a procurar as igrejas que também não sabem o que dizer.  São inúmeras igrejas, seitas e organizações fazendo afirmações contrárias entre si mesmas. Não tem provas desses testemunhos que pregam e muito menos razão para torná-los aceitáveis ou dignos de crença. Mas, cada uma dessas comunidades clericais ou seitas continuam dizendo possuir a verdade e aquele que não acreditar será "amaldiçoado" eternamente. Continuam agindo como se estivessem na Idade Média.  Dessa forma, o jovem continua perdido nas suas dúvidas. Muitos silenciam a voz da razão e da dúvida entregando-se cegamente a uma crença ou até às drogas. Outros, os intelectuais, concluem que nunca terão respostas para suas perguntas e passam a pensar apenas em si próprios, procurando tornar o mais agradável possível, no sentido material, sua estada aqui nesta vida terrena. 
                Pelo fato do homem ser um "ser" espiritual, o seu cérebro é facilmente condicionado a aceitar cegamente uma doutrina ou dogmas; são levados a crer que determinado sistema -(igreja) - é o único que traz a verdade. É isto que tem permitido a proliferação de diferentes igrejas com fins exploratórios e puramente comerciais. 
               Os símbolos dos herméticos da antiguidade foram adotados pelas modernas igrejas cristãs. Muitos desses símbolos já existiam desde tempos mais antigos, embora os nomes dos princípios que eles representam tivessem sido modificado repetidas vezes. Na Igreja Católica, a maior do mundo, encontramos símbolos que os egípcios já usavam, como também os antigos brâmanes, e, possivelmente até os povos antigos da enigmática Atlântida, cuja história se perde no noite de um passado distante. Sacerdotes e fiéis curvam-se diante desses símbolos porque lhes foi ensinado que são lembranças históricas da morte de Jesus de Nazaré que viveu a apenas dois mil anos. 
                  As estátuas que representam os deuses gregos e romanos não representavam pessoas, mas sim forças universais da natureza. Encontramos essas mesmas forças no Mahabharata, nos poemas de Homero e em muitos outros livros inspirados. 
                  Quando uma religião entra em decadência, o significado dos símbolos se perde. Isso prova que o "espírito" que deu luz àquela religião, desapareceu. Em todas elas o "saber" é substituído pela crença, pelo conceito. A forma exterior de uma religião desse tipo pode sustentar-se por algum tempo, mas no final ela também desaparecerá. Isso aconteceu com os gregos, com os romanos, com os egípcios, com os hindus e atualmente parece estar acontecendo com as igrejas cristãs. 
                 No momento em que nós, dentro de toda a razão, com a nossa inteligência livre de emoções, estudamos um bom número de sistemas religiosos, comparando seus símbolos e alegorias, seu significado secreto, iremos concluir que todas as religiões sérias possuem uma verdade fundamental comum à identidade da "natureza" e o espírito eterno  que nela age. Este Deus universal, o "tudo" é muito mais ilimitado do que o Deus adorado nas igrejas. Ele não precisa de dízimo e nem  ser chamado, agradecido ou intermediado pelos santos, sacerdotes ou pastores. Ele é a força energética eterna de todo o universo; é tão inviolável quanto à lei mais perfeita. O Deus das religiões é aquele que ora castiga e ameaça, ora perdoa e concede "milagres", ora exige sacrifícios e recompensas, e a quem os homens intimamente respeitam. Mas o verdadeiro Deus não é só da humanidade; é do universo. É uma força eterna, da qual tudo o que existe participa, querendo ou não, porque cada coisa ou ser vivo é parte do "tudo", a sabedoria universal. 
            Sendo Deus e as coisas divinas "algo essencialmente ultra-intelectivo e superconsciente", é natural que essas supremas realidades sejam mais facilmente atingíveis por uma faculdade superconsciente, como é a intuição, do que por uma faculdade consciente, como é a inteligência. 
                Muitas das leis universais ocultas e forças misteriosas são ignoradas pela humanidade. A consciência humana ainda não se desenvolveu suficientemente para captar esses fatos, mas, por enquanto, basta-nos observar que o nosso pequeno planeta está borbulhando de vida inteligente, cuja beleza ultrapassa nossos sonhos mais ambiciosos. Compreender e respeitar isso é tão importante que disso pode depender a nossa própria existência como "seres" humanos. 
                Os maus tratos que os seres humanos tem infligido ao sistema natural do planeta, na verdade, não o estão prejudicando, mas apenas transformando; exatamente como tudo se transforma. Entretanto, essa transformação pode chegar a um tal nível que inviabilizará a existência de certos tipos de vida aqui existentes; isto já está acontecendo. A consequência disso é que o próprio homem, que aqui está existindo na forma que conhecemos, será inevitavelmente transformado. Num primeiro momento (morrerá) irá desaparecer (exatamente como ocorreu com os dinossauros), voltando ao "tudo universal"; num segundo momento, poderá retornar do "tudo universal" e voltar como um determinado "ser" individual, que possa existir nas novas condições de vida deste planeta. 
                 A conclusão final é que Deus é a soma de tudo o que existe no universo, e nós somos apenas uma pequena fagulha desse "tudo".