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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A RELIGIÃO DOS PRIMITIVOS



                É muito interessante observar quais são os aspectos que mais frequentemente assumem as concepções religiosas entre as populações selvagens ainda existentes. 
         1) O Animismo. Deriva de um estado de primitividade mental, muito difuso entre os selvagens, pelo qual todos os seres são dotados de vida ou movimento (astros, animais, rios etc.) Imaginados como dotados de uma alma semelhante àquela humana. Esta concepção pode ser quase comparada àquela que domina o mundo da fábula.
                  Tal é a religião de algumas tribos da Ásia, da África, das Américas e da Oceania. Pode-se, todavia, afirmar que elementos de animismo sobrevivem também nas religiões de alguns povos que atingiram um mais alto grau de civilização. 
                   Na mesma base do animismo, mas em conceitos mais sociais do que religiosos, é o Tabu. "Tabu" é a palavra polinésia com a qual se designa pessoa ou coisa que não deve ser tocada, usada ou ofendida. Tal proibição assume caráter sagrado. Algumas coisas, pessoas, objetos ou animais, são tabus, como: os cadáveres, os feiticeiros, os chefes. A violação do tabu possui consequências nefastas: doenças, desgraças, loucuras, morte. Na base dessa concepção reside o temor do mal que ataca o indivíduo por causas fatais, superiores a qualquer força humana.  
                 2) O Naturalismo. Não difere substancialmente do animismo, mas se volta para a natureza com um conceito mais amplo. Também aqui, o culto é voltado para objetos naturais, que se imaginam animados por espíritos que desencadeiam determinadas forças e provocam determinados fenômenos. O céu é, por exemplo, concebido com um grande ser vivo, que se identifica com a suprema divindade; outra divindade suprema, em certas populações, é. ao invés, a fertilidade da terra produtora de alimentos vegetais. Essas crenças dão origem a várias formas de culto, ora diretamente dirigido ao céu, à terra, ao sol, ora complicado por concepções simbolistas, enquanto o céu, a terra e o sol são considerados como expressão máxima do poder, da fecundidade, da luz, etc. O nascimento é bastante difuso entre as tribos negras, peles-vermelhas, neozelandesas, javanesas  e finezas. 

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Um imaginoso e estranho Culto dos Negrinhos (centro da África) cujos ritos propiciatórios estão voltados principalmente para obter da divindade nas caçadas, nas pescas e nas guerras. Este povo acredita que o espírito supremo, sob a forma de um imenso elefante, seja capaz de manifestar-se como homem  por meio do arco-íris. 
A magia acha-se intimamente ligada ao culto dos primitivos e se prende aos ritos sagrados. Os Lauemburges, habitantes das ilhas dos Mares do Sul, consideram o demônio Tumbaum, que vive na floresta, a causa de todos os males. Como defesa e esconjuro, após tingir-se a testa, entram no bosque batendo castanholas feitas de cascas de nozes. Já os Boximanes da África Meridional, acreditam que uma força sobrenatural contenha a chuva. Para romper o encanto, os feiticeiros realizam danças, que se tornam sempre mais convulsas. Os homens acompanham-nos com canto. É conhecida como "dança da chuva".

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                      3) O Totemismo (de "Totem" = rino, família). Embora obscuro e discutido em suas origens, não difere substancialmente do estado mental do animismo. É uma crença de algumas tribos selvagens, baseada na convicção de que existe um laço de parentesco entre a própria tribo e um determinado tipo de animal ou, em raros casos, de um vegetal. O Totem é considerado como chefe da estirpe da tribo, pelo que esta assume do próprio Totem, toma luto quando o animal morre e chora-o como se fora um parente; sua pele torna-se agasalho ou veste durante as cerimônias sagradas e sua imagem é representada nas armas, nas insígnias e nas tatuagens. O Totem protege, cura, socorre, prediz o futuro, serve de guia e mantém o liame entre os membros da tribo, assegurando-lhe a coesão. Devido a tais características, os estudiosos se acham concordes em atribuir ao Totemismo um valor social superior àquele religioso. 
                     O Totemismo existe entre algumas tribos peles-vermelhas, entre as populações das ilhas do Pacífico, da Austrália e da África. 
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O Totem, mais que uma divindade, representa, simbologicamente, a origem e a unidade moral da tribo. Para a maior parte dos Australianos o Totem é o Canguru e a Ema; para os índios Peles-Vermelhas, é a águia. A imagem do Totem aparece também nas insígnias, nas armas, nas tatuagens e, entre os Maoris, sobre postes esculpidos, que sustentam as choupanas. 

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                   4) Fetichismo (do português, feitiço = magia, encantamento, amuleto).
                   Por Fetichismo entende-se o culto dirigido a objetos inanimados: utensílios, pedras, etc. Poderíamos considerá-lo, à primeira esta, como uma forma bastante rústica de religião, mas pesquisas aprofundadas demonstram que tais objetos são adorados não por si mesmos, mas pelo espírito que neles se imagina oculto e que, por meio deles, existe e age. O objeto assume, então, uma importância puramente simbólica, enquanto a adoração vai até a uma força sobrenatural. Portanto, ele acaba por identificar-se com o Animismo, embora o culto se manifeste em formas mais rudes e elementares, supersticiosas. 
                   E voltando a falar da magia que, mesmo não possuindo nenhum conteúdo religioso, sendo até oposta sua concepção, está, porém, é tão estreitamente ligada e entrelaçada ao culto dos primitivos que se pode excluí-la desta discussão. 
                   Enquanto a base de toda a prática religiosa é a submissão à divindade, as práticas mágicas, ao contrário, tendem para absorver as forças sobrenaturais do homem. Na base da magia está, portanto, a convicção de que, sendo as coisas dotadas de poderes particulares, seja possível, por meio de evocações, exorcismos e esconjuros obrigá-las a ceder essas suas forças. 
                  Já se disse supor que todos os povos incultos tenham uma concepção religiosa despida de espiritualidade, mas tal não acontece. É, ao invés, justamente no seio das mais primitivas populações, onde esperamos encontrar as crenças mais grosseiras, que encontramos, geralmente, uma fé ardente voltada para um ser não localizado, tido como imortal, cuja existência seria anterior ao nascimento do mundo, criador do universo e dos homens, onipotente, onisciente e bom, que exige dos seres humanos a observância de um código moral e ao qual eles irão prestar contas depois da morte para serem premiados ou punidos segundo for julgada sua vida terrena. Esta é a fé dos Pigmeus, dos Fueguinos, dos Boximanes, de algumas tribos do Sul da Austrália, da Ártica, da América do Norte e também de algumas de nossas tribos.   
                  Acontece, então, que, entre populações incultas, mas chegadas a um grau um tanto adiantado de civilização, aquele "ser puro", mesmo sendo ainda recordado e venerado, é considerado demasiado alto para poder preocupar-se com os homens. Por esse motivo, eles tem imaginado uma multidão de divindades inferiores, mas acessíveis, a quem se dirigem, mediante ritos propiciatórios, que muito se aproximam da magia. Isso ocorre, por exemplo, entre as Cafres, os Papuas, os Polinésios, os Esquimós e os Tártaros. 


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                    5) A magia do feiticeiro - O primeiro grande texto mágico-religioso conhecido, proveniente da cultura sul-americana, que foi publicado por Wassen e Holmer, lança uma nova luz sobre certos aspectos da cura xamanística, e coloca problemas de interpretação teórica que o excelente comentários dos editores não basta certamente para esgotar. Trata-se de um longo encantamento, cuja versão indígena ocupa dezoito páginas, divididas em quinhentos e trinta e cinco versículos, recolhido de um velho informante de sua tribo pelo índio Cuna Guilhermo Haya; sua tribo habita o território da República do Panamá. 
                        O objeto do canto é ajudar um parto difícil. Ele é um emprego relativamente excepcional, visto que as mulheres indígenas da America Central e do Sul dão à luz mais facilmente  que aquelas das sociedades ocidentais. A intervenção do xamã é, pois, rara e se realiza na falta de êxito , a pedido da parteira. O canto inicia-se por um quadro de perplexidade desta última, descreve sua visita ao xamã, a partida deste para a choça da parturiente, sua chegada, seus preparativos, que consistem em fumigações de favas de cacau queimadas, invocações, e confecção das imagens sagradas ou muchu. Essas imagens, esculpidas nas essências prescritas que lhes dão a eficácia, representam os espíritos protetores, que o xamã faz seus assistentes, e dos quais toma a direção para conduzi-los à morada de Muu, potência responsável pela formação do feto. O parto difícil se explica, efetivamente, porque Muu ultrapassou suas atribuições e se apoderou do purba ou "alma" da futura mãe. Assim, o canto consiste inteiramente numa busca; busca do purba perdido, e que será restituído após inúmeras peripécias, tais como demolição de obstáculos, vitória sobre animais ferozes e, finalmente, um grande torneiro realizado pelo xamã e seus espíritos protetores contra Muu e suas filhas, com a ajuda de chapéus mágicos, cujo peso estas últimas são incapazes de suportar. Vencida Muu deixa descobrir e libertar o purba da doente; o parto se dá, e o canto termina pela enunciação das precauções tomadas para que Muu não possa evadir-se após seus visitantes. O combate não foi empenhado contra a própria Muu, indispensável á procriação, mas somente contra seus abusos; uma vez que estes foram retificados, as relações se tornam amistosas, e a despedida de Muu ao xamã quase equivale a um convite para vê-lo novamente.



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Prática essencial de cada culto é o sacrifício que é consumado com a mudança de animais, com a oferta de primícias ou, também, simbolicamente. Os Pigmeus acham que tudo pertence a Deus, porque Ele tudo criou; por isso lhe são ofertadas, em holocausto, todas as primícias. O coração do animal é atirado na floresta, para que ele o receba. Os índios Omaba dos Estado Unidos oferecem uma mecha de cabelos, cantando: "Deus da guerra, Deus do trovão, diante de Ti, em teu alto reino, passam os cabelos como uma sombra..."
     A fé ardente dos índios Pawnees (Estados Unidos) manifesta-se com um fervor que atinge o êxtase. Eles tem visões que supõem reais, ainda que sobrenaturais e sagradas. Segundo os Pawnees, as visões baixam à terra por ordem de Deus e depois retornam ao seu posto após terem proporcionado alegria e conforto aos homens. A tribo aguarda-as cantando hinos sacros.
Desde os trabalhos de Cannon, percebe-se mais claramente sobre quais mecanismos psico-fisiológicos estão fundados os casos, atestados em inúmeras regiões do mundo, de morte por conjuro ou enfeitiçamento. Um indivíduo, consiste de ser objeto de um malefício, é intimamente persuadido, pelas mais solenes tradições de seu grupo, de que está condenado; parentes e amigos partilham desta certeza. Desde então a comunidade se retrai; afasta-se do maldito, conduz-se a seu respeito como se fosse, não apenas já morto, mas fonte de perigo para seu círculo; em cada ocasião e por todas as suas condutas, o corpo sugere a morte à infeliz vítima, que não pretende mais escapar àquilo que ela considera como seu destino inelutável. Logo, aliás, celebram-se por ela os ritos sagrados que a conduzirão ao reino das sombras.

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