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domingo, 12 de agosto de 2018

A REFORMA BUDISTA - OS ENSINAMENTOS DE BUDA



                O elemento mais importante da reforma budista foi seu código social e moral, não suas teorias metafísicas. Esse código moral, considerado em si mesmo, é um dos mais perfeitos que se tem conhecido no mundo. O código budista não contém apenas os cinco grandes mandamentos de não matar, não roubar, não cometer adultério, não mentir, não embriagar-se. Encerra preceitos especiais contra todos os matizes do vicio, contra a hipocrisia, a cólera, o orgulho, as suspeitas, a avidez, as conversações ociosas, a crueldade com os animais. Entre as virtudes, cuja prática recomenda o budismo, não somente encontramos o respeito aos pais, o cuidado dos filhos, a submissão à autoridade, o agradecimento aos benfeitores, a moderação na boa sorte, a resignação nos momento de prova, a igualdade de espírito em todos os momentos; vemos também preceitos que não se encontram em nenhum outro código de moral como, por exemplo, perdoar as injúrias e não devolver o mal com o mal.  
                   Buda não rejeitava a crença na vida futura, que tem proporcionado armas tão poderosas para agir sobre os sentimentos religiosos e o comportamento dos homens. Tendo, para tanto, a convicção de que ele sabia que se esta vida, tarde ou cedo, há de acabar no nada, não valeria a pena ter tanto trabalho e nem teria imposto tantos sacrifícios a seus discípulos. 
              Somos todos parte de um universo em constante mutação. O mal que fazemos a qualquer ser, animal, vegetal ou mineral, repercutirá na nossa form de vida. 
                    Tem-se por certo que Gautama passou seus primeiros anos na abastada corte paterna onde, todavia, não desleixou o estudo das letras e da música. Mais tarde, farto do luxo, e perturbado pelo espetáculo do sofrimento humano, de que seu pai sempre o conservava distante, deixou sua jovem esposa e o filhinho para entregar-se à vida ascética. 
            Segundo os usos hinduístas, ele vestiu o manto amarelo de monge e, aos 29 anos, se tornou discípulo dos brâmanes. Por diversos anos, andou mendigando e viveu na meditação e no jejum, em companhia de outros cinco santos hindus, mas suas doutrinas e a mortificação da carne não lhe pareceram meios suficientes para resolver o problema mais grave da humanidade: a dor. Então, afastou-se dos mestes e decidiu encontrar sozinho o caminho da "salvação".
              A lenda narra que, após muitos anos de solidão, e depois de haver lutado contra o exército de "Mara" (o tentador), a verdade se lhe revelou subitamente, enquanto estava, solitário, às margens de um rio, sob uma árvore, que foi depois denominada "a árvore sagrada de Buda". 
           Gautama, dizem as sagradas escrituras, tinha descoberto não só para si, mas para todos os homens o caminho da perfeição que conduz ao "nirvana", suprema bem-aventurança. 
            Como os antigos mestres de seu tempo, Buda, ensinava conversando, por meio de preleções e parábolas. Como não lhe ocorreu - como também não ocorreria a Sócrates e Jesus - dar forma escrita á sua doutrina; ele limitava-se a sutras (fios), para tornar fácil a memorização. E, assim preservados na memória dos seus seguidores, esses discursos inconscientemente retratam o primeiro caráter distinto da história indiana; um homem de vontade de ferro, forte, autoritário e orgulhoso, mas de maneiras e de falar suave e de infinita benevolência, Buda dizia "iluminação"; nunca pretendeu que nenhuma deidade lhe houvesse falado. Nos debates mostrava-se mais paciente e cheio de considerações do que qualquer outro grande mestre dos homens. Seus discípulos, talvez idealizando-o, representam-no como rigoroso praticante do ahimsa: fugindo à matança das coisas vivas, afastando-se da destruição da vida. Ele, que fora um guerreiro xátria, depôs a clava e a espada e, envergonhado da rudeza, e cheio de misericórdia, mostra-se compassivo e bondoso para com todas as criaturas que vivem... Gautama, pondo de lado a difamação, fica longe da calúnia... assim vive ele como um conciliador dos que estão divididos, um animador dos que são amigos, um promotor da paz, um apaixonado da paz, um pregador das palavras da paz. Como Lao-Tse e Cristo, ele pagava o mal com o bem, o ódio com o amor; e conservava-se silencioso diante da incompreensão e da violência. "Se um homem me faz mal, retribuo-lhe com a proteção do meu silencioso amor; mais mal me vem dele, mais bem lhe vira de mim." Quando um tolo o maltratou, Buda ouviu-o em silêncio e no fim perguntou-lhe: "Filho, se um homem se recusa a receber o presente que lhe dão, a que fica ele pertencendo? o tolo respondeu: "A quem fez a oferta." "Meu filho, " - disse Buda - "eu declino de aceitar a tua má ação e peço-te que fiques com ela". Ao contrário de muitos santos, Buda tinha senso de humor, e sabia que a metafísica sem sorriso é modéstia.
             Seu método de pensar era único, embora devesse alguma coisa aos "Errantes", ou sofistas itinerantes de sua época. Buda ia de cidade em cidade, seguido dos discípulos favoritos e de milhares de fiéis. Não pensava no amanhã, mas alegrava-se de receber alimento de algum admirador local; certa vez escandalizou seus seguidores comendo em casa duma cortesã. Detinha-se à beira das cidades, armava acampamento nas matas próximas ou margens dos rios. Consagrava o dia à meditação e as tardes à instrução. Seus discursos assumiam o aspecto socrático - parábolas morais, debates corteses ou sucintas formulas de pensamento concentrado. Seu sutra favorito eram "As quatro nobres verdades", em que expunha o pensamento de que vida era dor e a dor vinha do desejo; a sabedoria, pois, estava no sufocar todos os desejos. 

  1. Agora, ó monges, a nobre verdade sobre a dor: nascimento é dor, doença é dor, velhice é dor, mágoa, lamentação, tristeza e desespero são dores.
  2. Agora, ó monges, a nobre verdade sobre a causa da dor: o desejo, que leva ao renascimento, combinado com o prazer e a lasciva, encontrando satisfação aqui e ali, nomeadamente o desejo de paixão, o desejo de existência, o desejo de não-existência. 
  3. Agora, ó monges, a nobre verdade da cessação da dor: supressão completa do desejo; abandono, desinteresse, desapego. 
  4. Agora, ó monges, a nobre verdade sobre o caminho que leva à cessação da dor ou o caminho de oito ramais: vistas justas, intenção justa, falar justo, ação justa, viver justo, esforço justo, atenção justa, concentração justa. 
                   Estava Buda  convencido de que dor e prazer se contrabalançavam na vida humana, de modo que o melhor era nunca ter nascido. "Mais lágrimas tem corrido", dizia ele, "do que toda a água dos quatro grandes oceanos." Cada prazer parece-lhe envenenado pela brevidade. "Que predomina, aflição ou alegria?" pergunta a um discípulo; e a resposta é "Aflição, Senhor". O mal básico, portanto, não são todos os desejos, mas o desejo egoístico, o desejo que procura a vantagem da parte em vez do benefício do todo; acima de tudo, o desejo sexual, porque esse desejo leva à reprodução e a reprodução estende as cadeias da vida a novos seres, a novos sofrimentos. Aqui um dos seus discípulos conclui que Buda aprovava o suicídio, mas Ele negou dizendo: "o suicídio é inútil desde que a alma, não purificada, renasce em outras encarnações, até que alcance o completo esquecimento de si própria.
             Quando seus seguidores lhe pediram para definir com mais clareza a ideia da "vida justa", ele formulou as "Cinco Regras morais", mandamentos simples e breves, "talvez mais compreensivos e mais difíceis de serem guardados do que os do Decálogo:"

  1. Não matar nenhum ser vivo. 
  2. Não tomar o que não lhe for oferecido.
  3. Não mentir. 
  4. Não beber.
  5. Ser casto.
               Por toda parte Buda introduziu elementos da sua doutrina, estranhamente antecipatórios de Cristo. "Que o homem pague a cólera com a bondade, o mal com o bem... A vitória gera ódio, porque o conquistado é infeliz... Nunca no mundo o ódio curou o ódio; o ódio se cura com o amor. Tal como Jesus, Buda sentia-se incomodado na presença de mulheres, e muito hesitou antes de admiti-las na ordem budista. Ananda, o discípulo favorito, certa vez lhe perguntou: 
  • - Como devemos nos conduzir, Senhor, com relação às mulheres? 
  • - Evitar vê-las, Ananda. 
  • - Mas se as virmos, que devemos fazer? 
  • - Não falar-lhes, Ananda. 
  • - Mas se elas falarem conosco, Senhor, que devemos fazer? 
  • - Conserva-se alerta, Ananda. 
              Seu conceito de religião era puramente ético; Buda ordenou tudo a respeito da conduta e nada sobre adoração e ritual, metafísica ou teologia. Quando um brâmane falou em purificar-se dos pecados com um banho em Gaia, Buda lhe disse: "Toma aqui mesmo teu banho, ó brâmane. Sê bom para com todos os seres. Se não falas falsidades, se não destrói a vida, se não tiras o que não te é oferecido, que coisa ganharás indo a Gaia? Qualquer água para ti vale a de gaia. Nada mais estranho na história das religiões do que Buda a fundar uma religião mundial e, não obstante, recusando-se a discutir a eternidade, a imortalidade ou Deus. Disse ele: "O infinito é um mito, uma ficção de filósofos que não tem a modéstia de confessar que um átomo não pode entender o cosmos. Buda sorri do debate sobre o finito e o infinito do universo, como se estivesse prevendo a fútil astro-mitologia dos físicos e matemáticos que discutem essa questão em nossos dias. Sempre se recusou a dar opinião sobre o começo ou fim do mundo; sobre se a alma é ou não distinto do corpo; sobre se mesmo para o maior santo haverá qualquer recompensa futura. Chama a tais questões, "a floresta, o deserto, o teatro de bonecos, o desvio, o emaranhamento da especulação. E não entra nelas; tais questões só conduzem à disputa áspera, aos ressentimentos pessoais e à aflição; nunca à sabedoria e à paz. A santidade e a satisfação não jazem no conhecimento de Deus e do universo, sim na vida de bondade, sem egoísmo. E então, com escandaloso humor, sugere que os próprios deuses, se perguntados, não saberiam responder a essas questões. 
              Seu primeiro sermão foi pronunciado em Benares, cidade santa dos Hindus, onde o iluminado encontrou seus primeiros discípulos. Com ele, percorreu a Índia setentrional em todas as direções, pregando de aldeia em aldeia, de cidade em cidade. Apesar das perseguições a que foi submetido, muitíssimos foram aqueles que se converteram à sua doutrina. Sua pregação durou 45 anos. 
               Morreu no ano 487 a.C., após haver entretido os discípulos com seu último discurso, a fim de exortá-los a operarem com diligências, para a salvação de todos. 
            Ao elaborar sua nova doutrina, Gautama, tendo sido educado segundo os princípios dogmáticos do Hinduísmo, conservou-se fiel, em alguns pontos essenciais, à religião do Brama. Hinduísmo e Budismo possuem, de fato, muito em comum. 
  1. A ideia da reencarnação (cujo conteúdo, no Budismo, é espiritualmente mais elevado);
  2. A doutrina do "Karma" (os homens progridem ou regridem espiritualmente, na vida futura, segundo suas ações; 
  3. O conceito de que a salvação consiste no desapego às coisas do mundo, sede da ignorância e da dor; 
  4. Para atingir a paz, é necessário vencer os desejos e as paixões; 
  5. Toda coisa terrena é aparente e caduca; 
  6. O princípio da tolerância, da violência e da compaixão por tudo quanto vive. 
                A novidade da pregação de Gautama consistia no ensino aos homens uma doutrina de redenção, no sentido de que cada um pode, durante o decurso da vida, aspirar a atingir um estado de total compreensão, de anulação da dor e, portanto, de bem-aventurança (nirvana), desde que se adapte a realizar o esforço necessário. 
             Além disso, em antítese com o sistema hinduísta das castas, ele ensinava aos homens que todos somos iguais no espírito e que cada qual traz em si o germe do conhecimento; que o "eu espiritual" não é todo uno com a matéria, que desta nós podemos nos liberar, partindo os vínculos que a ela nos mantém acorrentado. 
              Para atingir este ideal, é necessário seguir o "caminho do medo", isto é, um sábio sistema de vida, que se destaca de todos os excessos, porquanto cada extremo provoca, por antítese, seu oposto. 
          As colunas da doutrina budista são as quatro nobres verdades: 
  1. Verdade da dor ( a dor é universal e acompanha o homem durante toda sua vida); 
  2. A causa da dor reside na expiação ao gozo, ao desejo de felicidade; 
  3. O modo de iluminar a dor consiste em dominar seus próprios desejos; 
  4.  A estrada que conduz ao nirvana tem oito olhos. 
              Estes são: 
  1. Modo reto de pensar; 
  2. Reta aspiração;
  3. Reta palavra;
  4. Reta ação; 
  5. Retos meios de existência; 
  6. Reto esforço;
  7. Reta recordação;
  8. Reta concentração. 
                Como o homem está ligado á roda da reencarnação, o "nirvana" pode ser alcançado através de muitas vidas, mas sempre seguindo "o caminho do meio", o óctuplo atalho e as três direções: moralidade, concentração e sabedoria. A moralidade regula a morte; o viver de acordo com a moral e a concentração conduzem à sabedoria, a qual permite distinguir o que é ilusório daquilo que é verdadeiro. 
             O Budismo, portanto, mais do que uma religião, é uma filosofia e uma regra de vida. Ainda hoje, o verdadeiro Budista é considerado aquele que segue os ensinamentos de Buda.  Seu ato de fé consiste em empenhar a si mesmo para todo o conhecimento da verdade. "Trabalha para tua paz..." disse o iluminado. "...os Budas são apenas mestres. Cada qual é o refúgio de si mesmo, e ninguém pode esperar a salvação vinda do outro". 

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O monge é o Budista ideal. Seu dever religioso é aquele de seguir a doutrina que lhe indicou Gautama. Ele veste manto amarelo, anda descalço e traz uma tigela destinada a receber as esmolas, ou seja, oferta de comida. Porque, alimentar os monges, é obra de misericórdia, cabe pronunciar o agradecimento a quem faz a oferta. 
Na Ásia são numerosíssimas as esculturas que representam o Buda, mas elas não são reproduções fieis do seu semelhante, porém símbolos idealizados de Gautama, que os adeptos desta religião consideram a encarnação da eterna sabedoria. 
Os Budistas que vivem na Ásia setentrional seguem, de preferência, a corrente mahayanica, baseada na fé em um redentor divino, misericordioso e onipotente, de quem Buda seria a encarnação terrena. Em Kamakura, no Japão, os crentes desta religião são muito devotos de uma estátua de Buda Amitabha (Buda da infinita luz), de 15 metros de altura. 
A cerimônia do natal budista é celebrada com grande solenidade. Esta festa, tal como o nosso Natal, é dedicada especialmente às crianças, que trazem uma flor de lótus na mão, flor dedicada a Buda.
Numa outra cerimônia religiosa, o simulacro budista é levado em procissão, pelos fiéis, que, em longa embarcação, atravessam as águas do rio Iravadi. 
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