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sábado, 4 de agosto de 2018

AS RELIGIÕES DO ANTIGO EGITO *



                 Já no Egito se disse: "No começo era o céu; até o fim, o céu e o Nilo permaneceram as principais divindades egípcias. Todas as maravilhas celestes não eram simples astros, mas formas externas de poderosos espíritos; deuses cuja vontade induzia a complexo de seus movimentos. O céu, uma abóbada, através de cuja vastidão uma grande vaca se situava - a deusa Hator; a terra jazia aos seus pés, e seu ventre revestia-se de fulgor de dez mil estrelas. Ou (porque o mitos e deuses mudam de nome) era céu o deus Sibu, eternamente deitado sobre a terra, a deusa Noite; dessa copula gigantesca nasciam todas as coisas.  Cada uma das constelações era um deus; Sahu e Sopdit  (Órion e Sírio), por exemplo, eram tremendas deidades; regularmente, três vezes por dia, Sahu comia deuses. Ocasionalmente um monstro desse tipo devorava por algum tempo a lua; mas breve as orações dos homens e a cólera dos outros deuses forçavam-no a vomitá-la". Era como a plebe egípcia explicava os eclipses.
                  A lua era um deus, talvez o mais velho dos deuses adorados no Egito; mas na teologia oficial o maior de todos era o sol e, às vezes, adoravam-no como a suprema deidade "Ra" ou "Re", o ardente pai que fecundava a Mãe Terra com os seus raios e calor; às vezes era um divino bezerro, renascido a cada aurora, e que atravessava o céu num bote celeste e afundava o poente, como um velho entra no tumulo. Ou o sol era o deus Horus, que tomava a elegante forma dum falcão, e cada dia voava majestosamente nos céus, em fiscalização dos seus domínios, tornando-se um dos símbolos da realeza e da religião egípcia.  Ra, o sol, era sempre o Criador; no começo, erguendo-se e vendo a terra deserta e nua, inundou-a com seus potentes raios - e todas as coisas vivas surgiram. Os primeiros homens  não passavam de filhos diretos de Ra, e viveram perfeitos e felizes; gradativamente seus dependentes degeneraram, perderam a perfeição e a felicidade; desagradado com aquilo, Ra destruiu a maior parte da raça humana. Sábios egípcios punham em dúvida esta crença popular e afirmavam o reverso; os primeiros homens haviam sido brutos, sem fala articulada e sem nenhuma das artes da vida. Mas no conjunto era uma mitologia inteligente, pois expressava de maneira piedosa e gratidão do homem pela terra e pelo sol.
                A partir de textos das pirâmides, de uma grande variedade de inscrições tumulares, e naturalmente também de papiros e livros de escritores da antiguidade tais como Heródoto, as concepções e crenças dos egípcios estão bem documentadas. Quando o deus Chnum (o que tem cabeça de bode criou o homem, ele o fez em duas partes: corpo e Ka é efêmero, o Ka, imortal. Este Ka é parte do grande espírito universal, das vibrações, por assim dizer, que dão vida a tudo. O corpo é apenas matéria, e, sem Ka, não tem o sopro da vida. O Ka, ao contrário, é espiritual, onipresente e eterno. Ainda assim o ka não corresponde à nossa concepção de alma. 
                Além do Ka, cada pessoa possui também um Ba. Com isso caracteriza-se um estado que se constitui apenas quando ocorre a unificação do corpo e Ka. Poderíamos classificar esse Ba como a consciência, como o conhecimento individual, como a psique ou ainda como o conteúdo de informação de uma vida. Quando o corpo morre, o Ka se une ao Ba. "Ele vai para o seu Ka", diziam os antigos egípcios quando alguém falecia. O corpo é agora um envólucro vazio, e ka e Ba, ao contrário, unem-se , estão eternamente ligados e penetram em uma outra dimensão de deuses e antepassados.
               Tão exuberante era esta piedade que os egípcios adoravam não só a fonte da vida como quase todas as suas formas. Muitas plantas se tornaram sagradas; a palmeira que lhes dava sombra no deserto, a fonte que lhes dava de beber nos oásis, as plantas que misteriosamente floresciam nas areias; eram, com excelentes razões, coisas sagradas, e até o fim os egípcios de alma simples faziam oferendas aos pepinos, às uvas e aos figos. Ainda os mais humildes vegetais tinham os seus devotos. 
                Mais populares eram os animais-deuses; tão numerosos que faziam do panteão egípcio um jardim zoológico. Aqui ou ali, nesta ou naquela era, os egípcios sempre adoraram o boi, o crocodilo, o gato, o falcão, o ganso, o bode, o carneiro, o cão, a galinha, a andorinha, o chacal, a serpente; e permitiam a essas criaturas frequentar os templos, com a mesma liberdade da vaca sagrada da Índia de hoje. Quando os deuses se tornaram humanos, ainda retinham seus duplos animais e símbolos: Amon era representado como ganso ou carneiro, Ra como gafanhoto ou boi, Osíris como boi ou carneiro, Sebec como crocodilo, Horus como falcão, Hator como vaca, o deus da sabedoria, como macaco. Ofertavam-se mulheres como companheiras sexuais  desses deuses, e o boi em particular, como encarnação de Osíris, estava afeito a essa honra; em Mendes, diz Plutarco, as mais belas mulheres realizavam o coito com o bode divino. Do começo ao fim este totemismo permaneceu como elemento essencial da religião egípcia; os deuses humanos chegaram muito mais tarde, provavelmente como um dom da Ásia. 
              O bode e o touro eram especialmente sagrados, como representativos do poder sexual criador; não meros símbolos de Osíris, mas a sua real encarnação. Muitas vezes pintavam Osíris com um enorme órgão, como marca do seu poder supremo; imagens com pênis tríplice figuravam nas procissões egípcias; em certas ocasiões as mulheres carregavam essas imagens fálicas e as operavam mecanicamente, por meio de cordéis. Sinais de adoração sexual aparecem não só nas pinturas e relevos dos templos, em que figuram os órgãos eretos, como na crux ansata - uma cruz com um cabo - signo da união sexual e da viga vigorosa.  
             Por fim os deuses se tornaram humanos - ou, antes os homens se tornaram deuses. Como as deidades da Grécia, os deuses humanos do Egito eram superiores aos homens e às mulheres, concebidos em moldes heroicos, mas sempre de carne e osso; tinham fome e comiam, tinham sede e bebiam, amavam e se acasalavam, odiavam e matavam, envelheciam e morriam. Temos, por exemplo, Osíris, cuja morte e ressurreição eram celebradas todos os anos como símbolo da enchente e da vazão do Nilo. Cada egípcio das  últimas dinastias contava a história de como Set, o perverso deus da seca, encolerizou-se com Osíris por derramar com a enchente a fertilidade sobre a terra, e matou-o, e reinou sobre o dessecado reino de Osíris (isto é, sobre a terra privada duma enchente que não veio) até que Horus, valente filho de Ísis, o derrubasse e banisse; e então Osíris ressuscitou ao calor do amor de Ísis e governou benevolamente o Egito, suprimiu o canibalismo, estabeleceu a civilização e subiu ao céu para reinar eternamente como deus. Equivale a um mito profundo; porque a história, assim como a religião oriental, é dualista - Um relato de lutas entre a criação e a destruição, entre a fertilidade e a seca, entre a mocidade e a velhice, entre o bem e o mal, entre a vida e a morte. 
                 Profundidade também vemos no mito de Ísis, a Grande Mãe. Não significa apenas a leal irmã e esposa de Osíris; em certo sentido o supera em grandeza, porque - como as mulheres em geral - havia vencido  morte por meio do amor. Nem era o solo negro do Delta, fertilizado pelo toque de Osíris; era, acima de tudo, o símbolo da misteriosa força criadora de todos os seres vivos e da material ternura que amamenta as vidas novas. Ísis representava, no Egito -  como Cali, Estar e Cibele na Ásia, Deméter na Grécia e Ceres em Roma - a prioridade e a independência do princípio feminino em criação e transmissão hereditária, e a original função inicial da mulher na agricultura; foi Ísis (diz o mito) quem revelou a Osíris (o homem) o trigo e a cevada nativas no Egito. O povo adorava-a com especial ternura e erguia-lhe imagens, considerava-a Mão de Deus; seus tonsurados sacerdotes exaltavam-na em sonoras matinas e véspera; e no meio do inverno, coincidente a anual ressurreição do sol, os tempos de Horus, seu divino filho e deus do sol, mostravam-na num estábulo, amamentando um bebê miraculosamente concebido. Essas lendas poético-filosóficas afetam profundamente a teologia e o ritual do cristianismo. Os primitivos cristãos muitas vezes se curvavam diante das estátuas de Ísis com o infante ao seio, vendo nelas outra forma do velho e nobre mito pelo qual a mulher (isto é, o princípio feminino), criando todas as coisas, se tornou por fim a Mão de Deus. 
              Ra (ou Amon, no sul), Osíris, Ísis e Horus eram os grandes deuses do Egito. Nos últimos tempos Ra, Amon e outro deus, Ptah, combinaram-se como três pessoas distintas duma suprema e trina divindade. Deidades menores existiam inúmeras: Anubis, o Chacal; Shu, Tefnut, Nephethys, Ket, Nut... encheríamos a página se fossemos mencioná-las todas. O próprio faraó era deus, sempre filho de Amon-Ra; e governava não só por direito divino como por nascimento divino, como deidade de ligação entre o céu e a terra. Em sua cabeça se sentava o falcão, símbolo de Horus e totem da tribo; de sua testa saia o uraeus, ou serpente, símbolo da sabedoria e comunicadora de virtudes mágicas. O rei era o sacerdote supremo da fé e caminhava à frente das grandes procissões religiosas. Foi graças a essa associação com os deuses que os faraós dominaram por tanto tempo no Egito e com tão pouco uso da força. 
               Dai serem os "sacerdotes" os sustentáculos do trono e a polícia secreta da ordem social. Eram  a indispensável ponte ligadora dos homens aos deuses. O cargo sacerdotal passava de pais a filhos, de modo que se foi erigindo em classe, a qual, em virtude da piedade do povo e da munificência dos reis, acabou se tornando mais opulentas que a aristocracia feudal e à própria família real. Os sacrifícios oferecidos aos deuses proporcionavam aos sacerdotes alimentos e bebida; os templos lhes ofereciam espaçosas moradias; as rendas das terras dos templos e dos serviços religiosos eram avultada; e o serem isentas de taxas, das corvées e do serviço militar, deixando-os em invejável situação na sociedade. Um pouco deste poder era merecido, pois eles acumulavam os conhecimentos, educavam os meninos e disciplinavam-nos com vigor e zelo. Heródoto assim os descreve: "São de todos os homens os mais excessivamente atentos na adoração dos deuses , e observam as seguintes cerimônias... Usam trajes de linho, sempre lavados e frescos... São circuncisos, a bem da higiene, achando preferível serem limpos a serem belos. Depilam o corpo inteiro de três em três dias, de modo que nenhum piolho ou impurezas e junte neles... Lavam-se em água fria duas vezes por dia e três à noite."
               
               O que, acima de tudo,caracterizava a religião egípcia era a insistência da imortalidade. Se Osíris, o Nilo e toda a vegetação morria e renascia, por que não ser assim também com o homem? A admirável preservação dos cadáveres pela secura do ar levava-os a firma-se nessa fé, que foi dominante no Egito por milhares de anos, e que de lá passou a viver no cristianismo. O corpo, dizia o egípcio, era habitado por um duplo de nome Ka, e também por uma alma que pousava no corpo como um passarinho na árvore. Todos três - corpo, Ka, e alma - sobrevivem à morte, enquanto o cadáver não desaparece na dissolução; mas chegavam a Osíris limpos de pecados, iam viver eternamente no "Campo Feliz do Alimento" - Jardins da maior abundância e segurança. Esses Campos Elísios, entretanto, só eram alcançados por meio do concurso dum barqueiro, o egípcio Charon; mas barqueiro só dava passagem às criaturas que tivessem sido boas em vida. Ou então examinava os mortos, pesando cada coração numa balança em que o peso dum dos pratos era uma pena. Os reprovados no exame tinham de permanecer para sempre em seus túmulos, padecendo fome e sede, sem nunca mais ver o sol. 
              De acordo com os sacerdotes, havia bons meios de vencer tais destes - e eles se ofereciam para revelá-los. Um era acumular o túmulo de alimentos, bebidas e servos que cuidassem do morto. Outro era enchê-lo de talismãs gratos aos deuses - peixe, abutres, serpentes, e acima de tudo o escaravelho - um besouro que, pelo fato de reproduzir-se no esterco, simbolizava a alma ressurreta; se esses talismãs fossem devidamente abençoados pelos padres, eles afugentariam qualquer assaltante do túmulo e aniquilariam todos os males. Um meio ainda melhor em adquirir o "Livro dos Mortos", papiros em que vinham orações, fórmulas e encaminhamentos calculados para apaziguar, ou enganar, Osíris. Quando, depois de cem vicissitudes e perigos, a alma do morto alcançava por fim Osíris, tinha de falar deste modo ao grande juiz: 
                  " Ó tu que moves as asas do Tempo,
                     Tu, senhor de todos os mistérios da vida,
                     Tu, guardião de cada palavra que falo -
                     Escuta, tu estás envergonhado de mim, teu filho;
                     Teu coração está cheio de dor e vexame,
                     Porque muitos foram os meus pecados no mundo,
                     E orgulhosa foi a minha maldade.
                     Oh, têm misericórdia de mim
                     E rompe as barreiras que se erguem na minha frente!
                     Lava todos os meus pecados
                     E que eles caiam aos teus pés!
                     Sim, limpa-me da minha maldade,
                     E paga a vergonha que sentes no coração
                     Para que eu e Tu possamos existir em paz.

                Ou era a alma que declarava a sua inocência numa "Confissão negativa": 
                    Salve Grande Deus, Senhor da Verdade e da justiça! Apresento-me diante de Ti, meu Senhor; venho deslumbrar-me com a tua beleza... E trago-te a Verdade... Eu não cometi iniquidades entre os homens; eu não oprimi o pobre...; eu não acrescentei trabalho ao trabalho que para si faz o homem livre...; eu não delinqui, e não cometi abominações contra os deuses; não fiz com que o escravo fosse punido pelo senhor; não causei fome a ninguém, nem fiz derramar lágrimas, nem assassinei ninguém, nem traí a ninguém. Em nada desfalquei as reservas dos templos; não conspurquei o pão dos deuses... Não realizei ato carnal dentro dos recintos sagrados; não falseei a balança; não tirei o leite da boca dos infantes; não cacei com armadilhas as aves dos deuses... Sou puro, sou puro.
               
               A religião egípcia, entretanto, pouco atendia à moralidade; os sacerdotes ocupavam-se em vender talismãs e fórmulas mágicas e a celebrar ritos; não tinham de incutir preceitos morais. O próprio Livro dos Mortos ensina que os amuletos benzidos pelos padres suprimiram todos os obstáculos deparáveis aos mortos no caminho da salvação; e o principal era o repetir as orações, não o levar vida perfeita. Os amuletos e rezas propunham-se a absolver uma infinidade de pecados e a assegurar a entrada no paraíso até o próprio diabo. A cada instante o piedoso egípcio tinha de murmurar estranhas fórmulas espantadoras do mal e atraidoras do bem. Aqui temos uma com que a mãe ansiosa procura afastar do filho os "demônios": 
                 "Vade retro, ó tu que vens das trevas e entranhas rastejante.
                   Vieste beijar esta criança?
                   Não o deixarei, nunca!
                   Vieste para levá-la?
                   Não deixarei que tomes de mim.
                   Tenho contra ti a proteção da erva Efet, que causa dor;
                   das cebolas que te espantam;
                   do mel, que é doce para os vivos e amargo para os mortos;
                   das partes más do peixe Ebdu;
                   da espinha de pesca."

                 Os próprios deuses usavam de magias uns contra os outros. A literatura egípcia está cheia de mágicos - que secam lagoas com uma palavra, ou soldam pernas quebradas, ou ressuscitam os mortos, etc.  O rei tinha-os na corte para guiá-lo; e ao próprio rei era atribuído mágico poder sobre as chuvas ou a enchente do rio. A vida andava cheia de talismãs, encantações, adivinhações; em cada porta ficava um deus para afugentar os maus espíritos e os ataques do azar. As crianças nascidas no dia 23 do mês de Thoth iriam seguramente morrer cedo; as nascidas no dia 20 de Choiakh ficariam cegas. Cada dia do mês, "diz Heródoto", é consagrado a algum deus; e de acordo com o dia do nascimento de cada pessoas o deus determina o que lhe vai acontecer, como vai morrer e que tipo de pessoas será. No fim, a ligação entre a moral e a religião desaparece; o caminho para a salvação não é a vida perfeita, mas sim a mágica, o ritual, a generosidade para com os sacerdotes. Diz um grande egiptólogo: 
                  "Os perigos do além multiplicavam-se, e para cada situação crítica os padres entravam com um encantamento de efeitos infalíveis. Afora os muitos truques que habilitavam os mortos a alcançar o além, havia os que não o deixavam perder a cabeça, o coração, a boca; outros que os habilitavam a lembrar-se do nome, a comer, a beber, a não comer as próprias dejeções, a impelir que a água de beber se transformasse em fogo, a fazer luz das trevas, a escapar às serpentes e monstros hostis... Assim, o desenvolvimento moral do Egito foi sustentado pela ganância e corrupção dos padres".

               Tal era o estado da religião no Egito quando Ikhanaton, poeta e "herético", subiu ao trono e inaugurou a revolução religiosa que destruiu o império do Egito. 
                  Uma documentação realmente interessante quanto à religião dos egípcios, situa-a no início da Primeira Grande Dinastia, mas os estúdios já puderam estabelecer que o culto religioso dos faraós mergulha suas raízes no período pré-dinástico (além de 4.000 anos a. C.), quando os egípcios, ainda divididos em um grande número de pequenos grupos ou "nomes", eram governados por chefes hereditários, com autoridade patriarcal. 
                  Nos hieróglifos contidos nas pirâmides egípcias, está exposta, em síntese, toda a teoria religiosa do Antigo Reino do Egito.

           Naquele tempo, eles acreditavam em um único Deus supremo, Amon, que era identificado com o Sol, nascido do Oceano primordial e criador da terra. 
                Durante o Antigo Reino, que teve início no ano 3.238 a.C. com a dinastia, a concepção monoteísta foi enriquecida por obra dos Colégios Sacerdotais, que divulgaram, cada qual no próprio âmbito, doutrina entre si diferentes sob certos aspectos, mas assaz semelhantes na concepção geral. Eles ensinaram a adotar o deus primogênito Atim, junto a outras divindades menores. 
                 Esta concepção originou uma forma de rude politeísmo. Os atributos de que o deus Atum era dotado foram convertidos em uma multidão de outras divindades, nem sempre representados sob aspecto humano, mas geralmente eram forma de animais,  plantas ou monstros simbólicos, que tiveram cada qual seu próprio culto. Foram também objeto de veneração algumas concepções abstratas, como a Retidão, a Magia, o Destino etc. Finalmente, foram recebidos no rol dos deuses, personagens que em vida gozaram de larga fama. 
              Mais tarde, sob o modelo do consórcio humano, foram constituídas famílias divinas, das quais as mais conhecidas são as trindades: Amon-Mut-Cbons, Ohtah-Sechmet-Nefeterá e Osíris-Ísis-Horus. 
                A começar da V dinastia, foi reconhecido oficialmente aos Reis o direito de pertencer à estirpe do Deus solar, Ra.  Acreditava-se que os reis, depois de mortos, subissem ao céu para se reunirem ao disco solar de onde tinham nascidos. 
               Nas pirâmides erigidas por alguns reis da VI dinastia, foram encontradas paredes em que havia muitos hieróglifos, pelos quais foi possível estabelecer quanto era venerado, desde os tempos do Antigo Reino, o culto aos mortos. 
                Notícias sobre a religião durante o Reino médio (da IX à XVII Dinastia) chegaram até nós em composições literárias conhecidas pelo nome de Profetas, as quais atestam um enfraquecimento do sentimento religioso e recomendam um retorno ao culto das divindades. Neste período histórico, nota-se, todavia, uma religiosidade de conteúdo mais elevado. A humanidade foi definida como "rebanho de Deus", criados á sua imagem. Deus mora no céu. Ele não abandona os homens, ouve quando eles choram; cria os governantes para proteger os fracos e emprega a Magia como arma a opor aos sinistros eventos. O culto aos mortos torna-se, neste período, mais profundo, e Osíris, sobreano do Além-túmulo, que pesa as almas e as julga, assume grande importância.
            Durante o período do Império (1571 x 633 a.C.), que se estende da XVIII à XXV dinastia, floresceram especialmente as lendas divinas e prevaleceu o sentido da caridade e misericórdia. Luminosíssima é a figura do faraó Amenófis IV, que tentou revolucionar completamente o sistema religioso, substituindo o grosseiro culto de Amon por aquele originário monoteísta do único Deus primogênito. Não quis que o povo se ajoelhasse á sua passagem, opôs-se à poligamia e estabeleceu leis profundamente humanitárias. Mas foi combatido de tal forma que o assassinaram, porque considerado insano de mente e perigoso.
                Desde último período das grandes dinastias conhecemos também as práticas diárias de culto, às inscrições encontradas em Abidos, no tempo de Setos I. O rito consistia principalmente na cerimônia da purificação do oficiante. Eram abertas as portas da "naos" (espécie de tabernáculo) onde era conservada a imagem divina; seguia-se a adoração, o incensamento e a unção com óleos sagrados. Aberto uma segunda vez o tabernáculo, era apresentada ao Deus a estatueta da deusa da Retidão; depois, a imagem divina era revestida pelo oficiante com faixas brancas, verdes e rubras, maquilada, aspergida de perfume e fechada. A seguir, sinetadas às portas da "naos", o oficiante retirava-se, tendo o cuidado de não dar as costas e de cancelar as pegadas no chão. 
                 Na hierarquia sacerdotal masculina, o mais alto grau era reservado ao rei; a rainha ficava à testa das sacerdotisas. 
                 Os grandes sacerdotes, cada qual era em seu templo próprio, consideravam-se representantes do soberano e seu cargo era hereditário. Seguiam-se três classes de sacerdotes: os "puros", os "cerimoniais" e os "servos". 
                Durante o período da decadência, e sobretudo durante o domínio grego, afirmou-se o culto de algumas divindades mediterrâneas. Remonta a esse tempo o culto de Ápis (simbolizado pelo touro sagrado de Mênfis), que foi acumulado à aquele de Osíris, recebendo o nome de Serápis (Osíris-Ápis). Mas o culto a Serápis foi superado por aquele a Ísis (deusa da agricultura, da navegação, da justiça e da medicina) que era festejada com hinos famosos e reproduzida em uma infinidade de imagens. Os ritos egípcios foram recebidos com desconfiança na Roma republicana, mas, na época imperial, o rito de Ísis chegou até ao Palatino. 
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Na  religião egípcia não existiam  lideres. A história quase esqueceu seu principal gênio que até tentou fundar uma religião. Akhenaten (Akhenaton). Tal como Jesus Cristo, ele não tem vasto registro histórico. Da mesma forma foi talvez, o primeiro pacifista, o primeiro monoteísta, um príncipe realista, humanista, herege, e, porque não dizer, o primeiro democrata.
Um homem sábio que nasceu fora do tempo. Tinha uma mente muito avançada e intelectualizada para seu tempo.
É surpreendente que uma civilização altamente evoluída na arquitetura, arte, literatura e mecânica, tenha se mantido tão primitiva na religião.
A mais antiga religião egípcia de que temos notícia, remonta a quatro ou cinco mil anos antes de Cristo; trata-se do animismo, com tendência para o politeísmo. E foi nesse estágio que se manteve por milênios, praticamente sem nenhum progresso.
O espírito de conservação era tão arraigado em sacerdotes e a massa popular, que recebia, destes, pouco apoio para novas formas de religião. Como nos diz Max Müller em seu livro Religions of the Past and Present. 
A religião de Akenaten representa um ponto luminoso no meio das trevas do politeísmo supersticioso do Egito, no segundo milênio a.C.; teve alguns discípulos, que o abandonaram e fugiram logo após sua morte. Mas com o trabalho de arqueologia foi possível ler as cartas originais deste rei e pode-se acessar os lugares onde ela frequentava, como também os túmulos dos seus parentes mais próximos e até mesmo contemplar seu corpo mumificado.

Os egípcios não acreditavam somente na imortalidade da alma e na sua vida futura, mas também na ressurreição dos corpos justos. Consideravam, por isso, a possibilidade de conservar intactos, com a mumificação, os corpos para aquele longínquo evento. A primeira tentativa de embalsamamento parece remontar à II Dinastia. 


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