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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A RELIGIÃO DOS VEDAS



            Segundo os indianos, "Vedas" é um conjunto enorme de textos, entre os quais se encontram os mais antigos testemunhos de seu passado. A palavra Vedas, significa saber, saber por excelência, o saber sagrado. Esse saber sagrado, segundo acreditam os seus seguidores, é revelação divina e, portanto, santa. Nela encontramos raízes de todos os sistemas religiosos imaginados pelo gênio indiano. 
           A literatura védica, tal como nos é apresentada pela tradição indiana, compreende, de um lado, os livros revelados (sruti), do outro aqueles que não tem caráter divino. 
                A mais velha religião da Índia, encontrada pelos invasores arianos entre os nagas, era evidentemente a adoração animista e totêmica de inumeráveis espíritos moderadores em pedras e animais, em árvores e rios, em montanhas e estrelas. A serpente constituía a divindade simbólica da virilidade; e Bhodi, a árvore sagrada do tempo de Buda, correspondia a um vestígio da mística reverência pela calma majestade das árvores. Naga, o deus-dragão, Hanuman, o deus-macaco, Nandi, o deus-touro, e os Yakshas, as árvores-deusas, passaram para a religião da histórica Índia. E como alguns desses espíritos eram bons e outros maus, só com grande habilidade mágica um podia livrar seu corpo de ser possuído ou torturado, por meio de doença ou mania, por um ou mais dos incontáveis demônios existentes. Dai as encarnações do Atharva-veda, ou Livro da Mágica; era mister recitar fórmulas para ter filhos, para evitar o aborto, para prolongar a vida, para afastar os males, para atrair o sono, para destruir ou atormentar os inimigos. 
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No Atharva-veda, onde encarnações "ferventes de ódio" e "linguagem de ferocidade sem limites" são usadas por mulheres no empenho de alijar, ou torná-las estéreis. Já no Brihadaranyaka aparecem fórmulas para violentar a mulher por meio de encantamento e para "pecar sem conceber".

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                Os mais antigos deuses dos Vedas eram as forças ou elementos da natureza - o céu, o sol, a terra, o fogo, o vento, a água e o sexo. Dyaus (O grego Zeus, o romano Júpiter) fora, a princípio o próprio céu; e a palavra sanscrita deva, que depois significava divina, originariamente só significava brilhante. A licença poética, que dá origem a tantas deidades, foi personificado esses elementos; o céu, por exemplo, se tornou um pai, Varuna; a terra, tornou-se mãe, Prithivi; e vegetação constituía o fruto da união da terra com o céu por meio da chuva. A chuva passou a ser o deus Parjanya; o fogo era Agni; o vento, Vayu; a tempestade, Indra; a peste, Rudra, a aurora, Ushas, o sulco no campo, Sita; o sol, Surya, Mitra ou Vixnu; e a Soma, plana sagrada, de sumo embriagante para os homens e deuses, era também um deus, um Dionísio hindu, que inspirava o homem com a sua essência inebriante. Uma noção, como um indivíduo, começa com poesia e termina com prosa. À proporção que coisas se tornam pessoas, as qualidades  se tornam objetos, os adjetivos passam a nomes, os epítetos evoluem para deidades. O Sol criador da vida transforma-se num deus-sol, Savitar, o Pai da vida; o brilho do sol torna-s Vivasvat, o Deus Brilhante; o sol gerador da vida torna-se o grande deus Prajapati, Senhor de todas as coisas vivas. 
               Por certo tempo o principal deus védico foi Agni - o foro;  era a chama sagrada, o raio que riscava o céu, a chama da vida e dos espíritos do mundo. Mas a figura mais popular do panteão védico foi Indra, manejador do raio e do trovão. Porque Inda trouxera aos indo-arianos aquele benéfico regime de chuvas que parecia mais precioso que o sol; por isso o consideravam o maior dos deuses, invocaram-lhe nas batalhas os raios e trovões e o representavam qual gigantesco herói a comer rebanhos de boi e a beber lagos de vinho. Seu inimigo favorito era Krishna, que nos Vedas ainda surge como simples deus tribal. Vixnu, o Sol que cobria a terra com os seus raios, também fora um deus subordinado, e desconhecedor de que o futuro pertenceria a ele e a Krishna, seu avatar. Um dos valores que para nós tem os Vedas, consiste em mostrar como uma religião nasce; podemos ver ali o berço, o crescimento e a morte de deuses e fés, do animismo ao panteísmo filosófico, e da superstição do Atharva-veda ao sublime monismo dos Upanishads. 
                Esses deuses são humanos no aspecto, nos moveis e quase na ignorância. Um deles, situado pelas preces dum devoto, pondera sobre o que lhe há de dar; "isto é, o que eu lhe darei - dar-lhe-ei uma vaca, ou será melhor dar-lhe um cavalo? Não tenho certeza se ele me honrou com a soma. Alguns deles, entretanto, ergueram-se nos últimos dias védicos a grande significação moral. Varuna, que começou sendo o céu e cujo hálito era a tempestade, desenvolveu-se na imaginação dos seus adoradores como a mais ideal deidade dos Vedas; Observa o mundo com o seu grande olho, "o sol", e punia o mal, recompensava a bondade e perdoava os pecados dos arrependidos. Sob este aspecto foi Varuna o guardião e executor duma lei externa de nome Rita; era Rita no começo a lei que mantinha as estrelas em seu curso; gradualmente também se tornou a lei da justiça, o ritmo cósmico e moral que cada homem tem de seguir para não perder-se na destruição. 
               Como o número de deuses crescesse, surgiu a questão de qual deles criou o mundo. A autoria ora era dada a Agni e Indra, ora a Soma, ora a Prjapati. Um dos Upanishads atribuiu a criação do mundo a um incoercível propriador: 

Diz-se que, na verdade, sozinho ele não tinha prazer; então ele desejou um segundo ser. Ele era tão grande como um homem e uma mulher abraçados. Ele fez esse eu cair (v pat) em dois pedaços; desses pedaços saíram um marido (pati) e uma esposa (patni). Por isso... cada um é como uma metade;... Por isso esse pedaço se enche com uma mulher. Ele copulou com ela. Por isso os seres humanos vieram. E ela ponderou consigo: "Como copula ele comigo depois de ter-me tirado de si mesmo? Vem, deixa que me esconda a mim mesma." Ela tornou-se uma vaca. Ele tornou-se um touro. Com ela copulou ele. E então o gado nasceu. Ela se tornou uma égua e ele um garanhão. Ela se tornou uma jumenta e ele um jumento. Com ela copulou ele e dai nasceram os animais de cascos. Ela se tornou cabra e ele bode. Com ela copulou ele e nasceram cabras e carneiros. Assim realmente ele criou tudo, todos os pares , mesmo as formigas. Ele sabia: "Eu realmente sou esta criação, porque eu emiti tudo de mim mesmo. "E assim surgiu a criação". 

              Nesta passagem temos o germe do panteísmo e da transmigração: O Criador identifica-se com a sua criação, e todas as formas são uma; cada forma já foi outra forma, e distingue-se dela no preconceito da percepção e na superficial separação do tempo. Esta concepção, embora formulada nos Upanishads, não fazia ainda, nos dias védicos, parte do credo popular; em vez da transmigração, os indos-arianos aceitaram a simples fé na imortalidade corporal. Depois da morte a alma entrava na eterna punição ou na eterna felicidade; era lançada por Varuna aos abismos da treva, meio Hades meio Inferno, ou elevada por Yama a um céu em que cada alegria da terra se fazia perfeita e imorredoura. Como o trigo, apodrece o mortal, diz katha Upanishads, "e como o trigo, nasce de novo."
               Na antiga religião védica não havia imagens nem templos; os altares improvisavam-se a cada sacrifício, como na Pérsia zoroastriana, e o fogo sagrado eleva céus a oferenda: aparecem aqui sinais de sacrifícios humanos, como no albor de cada civilização; mas esses sinais são poucos e incertos. Outra vez, como na Pérsia, o cavalo era às vezes queimado em oferenda aos deuses. O mais estranho de todos os rituais era o Ashvamedha, ou sacrifício do cavalo, no qual a rainha da tribo parece ter copulado com o cavalo sagrado depois de morto. (Ponebatque in gremium regina genitale victimae membrum.) A oferenda usual era uma liberação do caldo da soma e o derrame de manteiga liquida no fogo. Esse sacrifício era concebido em termos mágicos; se adequadamente realizado, teria recompensa, fossem quais fossem as virtudes morais do adorador. Os padres cobravam caro pela ajuda aos fiéis na realização desses complicados sacrifícios; se não viam o dinheiro na mão, recusavam-se a recitar as necessárias fórmulas; tinham de ser pagos antes dos deuses. Havia regras estabelecidas por eles quanto à remuneração de cada serviço - quantos cavalos ou vacas, ou quanto ouro era a substância mais adequada a comover o sacerdote ou o deus. Os Brâhmanas, escritos pelos brâmanes, instruíam os sacerdotes quanto aos meios de inverter as orações e sacrifícios feitos sem o devido pagamento. Havia também regras prescrevendo as cerimônias adequadas para cada ocasião da vida, e sempre com a obrigatória presença do sacerdote. Lentamente os brâmanes se tornaram em rica casta privilegiada e hereditária, mantendo a vida espiritual e mental da Índia sob controle ameaçador de sufocar qualquer pensamento e qualquer mudança. 
               O Rigveda exprime uma religião de uma sábia complexidade. Apresentando um esboço muito geral, podemos observar que o Rigveda contém poucos vestígios dos cultos de povos primitivos, tal como o totemismo, o animismo e o fetichismo.  As pedras que esmagam o soma, as armas do guerreiro e o poste dos sacrifícios são divinizados. Grandes deuses são, às vezes, concebidos sob forma animal; Indra como touro, o sol como corcel, o gênio que retém os rios sob forma de uma serpente morta por Indra; entretanto, é difícil distinguir nitidamente a parte da metáfora, da alegoria, ou do velho conto popular. A arte dos sacerdotes formulou um conjunto de crenças, sem dúvida primitivas, nacionais ou locais, populares ou refletidas, e especulam tendo a fantasia como lógica, sobre dados muito diversos. 
                O guerreiro Indra aterroriza os Asura, deidades dotadas de grande encanto oculto e maléfico; Lua com o Sol, rapta as Auroras, multiplica as proezas galantes e, sobretudo, báquicas. Seu elemento é a embriaguez com soma; é o tipo ideal de chefe da clã ariana,  mas também é soberano e demiurgo.  
           O Rigveda contém as amostras mais antigas da poesia indiana. Dele só existe um comentário que tem origem na escola Sakalaka. Compreende 128 hinos (ric, sukta), repartidos por dez livros ou círculos (mandala) de desigual capacidade. Uma outra repartição, mais artificial e bem posterior, divide-o em oito "octoades" (ashtaka) subdivididas cada uma em oito leituras (adhyyaya), que, por sua vez, formam outras seções (carga). 
               Nos livros II a VII, que provém de uma das grandes famílias de rishi, os hinos são classificados por divindades; os de Agni e de Indra estão em primeiro lugar, e em cada série são ordenados de forma decrescente; o numero de estâncias, o número de pés, até o numero de sílabas, tem um papel decisivo, enquanto que os livros se sucedem, segundo o número de seus hinos, mas, desta vez, em ordem ascendente. 
                Nos outros mandala prevalece igualmente esta mesma noção de números, combinando-se e diversificando-se segundo a origem múltipla das coleções que formam estes livros.  
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