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terça-feira, 11 de setembro de 2018

SANTO DAIME - VIAGEM ALÉM DA ALMA

              O Santo Daime tem fundamento no sistema religioso, onde as pessoas fazem uso sacramental de uma bebida enteógena (do inglês: entheogen ou entheogenic). Enteogênico é o estado xamânico ou estase induzido pela ingestão de substâncias alteradoras da consciência. A palavra enteógeno significa literalmente "manifestação interior do divino"; se refere à comunhão religiosa sob efeito de substâncias visionárias ou a ataque de profecia e paixão erótica. 
                 Segundo adeptos, a doutrina do Santo Daime é uma missão espiritual cristã; o daimista, ao participar dos cultos e ingerir a bebida da seita, inicia um processo de auto-conhecimento, cujo objetivo é corrigir defeitos e alcançar a perfeição. 
               A poção mágica do santo Daime foi descoberta pelos índios da Amazônia à centenas de anos; considerada pelos Incas como o "vinho da alma", ela ultrapassou as fronteiras regionais e se tornou a fascinação de pessoas cultas como ecologistas, executivos, empresários e artistas famosos. 
                  Ao redor da bebida ferruginosa, que conduz os iniciados a uma viagem pelo astral e ao interior de si mesmos, fundou-se uma religião com alguns adeptos da idolatria à natureza; sincretizada com elementos do culto católico com as imagens, a cruz, o rosário, música e velas. 
                 Orar às divindades e tomar o Daime pode atravessar uma noite inteira. São ocasiões muito especiais para os seguidores da doutrina, que cantam incansavelmente os hinos, ao som dos maracás, dos violões e outros instrumentos. Na letra simples das canções estão os ensinamentos da religião. Os cânticos, a mais constante referência para o povo do Santo Daime, são ensinados na escola e cantarolados durante o trabalho. 
                Após bailarem por doze horas, os participantes do culto - entre eles o padrinho em farda de gala,  saúdam o amanhecer. Os homens e as mulheres ficam em espaço separados. As garrafas contendo o Daime permanecem no altar, entre os utensílios sagrados, como o rosário e a cruz. Do lado de fora da igreja, o céu estrelado compõe o cenário da floresta e renova a "ligação" dos que tomaram o Daime. Antes de tomarem o chá os fiéis passam por um jejum preparatório; depois vem a concentração. As crianças tem lugar próprio no ritual e entram na fila para ingerir o chá; os hinários ficam sobre o altar, iluminados pelas velas. 
              A preparação da bebida também exige um delicado ritual. Tudo começa com a colheita das folhas e do cipó que existe no interior da floresta amazônica. Às mulheres cabe recolher e limpar as folhas, que são consideradas a porção feminina da bebida; aos homens é destinado o cuidado com o cipó. Depois da colheita da matéria prima para a feitura da "ayhuasca", as mulheres da seita, sentadas em círculo, se dedicam a limpar as folhas. Aos homens , cabe a tarefa de buscar o cipó na floresta, socá-lo em pilões até torná-lo maleável para o cozimento. O cozimento do Daime expele vapores inebriantes, sugerindo um ritual de feitiçaria. Constantemente o "padrinho" - uma espécie de xamã - examina a textura do elixir que será tomado à noite pela comunidade inteira. Tudo acontece como num mutirão astro-ecológico. 
                 Dentro da doutrina do Santo Daime, da união da força do cipó com a luz da folha, nasce o efeito divino do chá. É na casa do "feitio", onde é proibida a entrada de mulheres, que o cipó é raspado e socado em grandes pilões, e depois colocado para cozinhar em caldeirões. Uma vez pronto, o Daime é engarrafado e guardado até o momento do consumo. 
               À noite, depois que todos tomaram a poção, o ritual começa. Em meio às mirações - visões provocadas pelo efeito do ayhuasca, desenvolve-se um inebriante bailado, por vezes, quase imperceptível. Do lado de fora da Igreja, o céu estrelado compõe o cenário da floresta e renova a ligação dos fiéis e seu deus. 
               Os seguidores desta espécie de religião trabalham de forma comunitária. Às seis horas da manhã, homens e mulheres já estão em pé. Eles se revesam nos trabalhos comunitários que garantem a subsistência de todos. Plantio de hortas, colheita de produtos agrícolas, trabalhos de carpintaria, marcenaria e construções, além do ambulatório médico, da creche  e escolinha rural, da preparação de alimentos, etc. Essa rotina de trabalho, onde não circula dinheiro, é diária e só interrompida durante o período de preparação do Santo Daime. Durante todo o dia, a vida da comunidade se agita, com mulheres passando as fardas (roupas especiais usadas nas cerimônias), limpando a igreja e arrumando as crianças para a festa. Estas tomam o Daime desde que nascem e participam das festividades ao lado dos adultos; crescem alegres em contato com a natureza, ostentando uma pureza contagiante, longe dos condicionamentos das grandes cidades. 
                O "ayahuasca" segue um calendário preciso, associado às comemorações dos dias dos santos católicos, ou o batismo e aniversário dos padrinhos. Por isso, o momento de festa é aguardado com ansiedade. Para eles, beber o Daime é encontrar-se com as divindades. Mas as crianças que, quando não estão na cheche ou na escola, estão jogando bola, mergulhando nos rios do local, vivem felizes e indiferentes. Porém, na hora do bailado e da cantoria dos hinos, elas entram na fila, de forma bem comportadas. Dentro do costume da religião, bastante conservadora, durante as cerimônias, homens e mulheres não devem se falar e tem seu espaço claramente dividido no salão. As moças e rapazes solteiros, assim como as crianças, também seus próprios lugares. Uma organização respeitada por todos e que acaba por formar um desenho mágico, que, associado aos lentos e ritmados passos da dança e ao cantar dos hinos, completa a sensação de transe e leveza proporcionada pela ingestão da bebida. 
                  Como todas as religiões, o Santo Daime também têm suas seções de cura. Durante esses trabalhos, quando os doentes bebem o Daime e recebem massagens, o ambiente torna-se mais denso. Não há bailados, só a reza e a cantoria dos hinos. E nem todos participam, só os que julgam estar bem para transmitir suas energias aos doentes. Às vezes, o espiritismo toma conta dos trabalhos (realizados numa casa chamada estrela) e o "padrinho" (xamã) incorpora alguma entidade da floresta, sob os olhares assustados dos demais participantes. Em silêncio, todos observam o "padrinho", que parece falar num idioma indígena. Terminada a seção, tudo volta à rotina. Para os participantes de uma comunidade do Santo Daime tudo faz parte dos difíceis caminhos para se chegar a Deus. 
                  A diversidade de formas no culto ao ayahuasca parece indicar que o homem moderno continua construindo Deus à imagem e semelhança de sua cultura. Enquanto para os índios a bebida continua sendo usada para ajudar na caça, aumentando o pode de percepção, e pelos curandeiros, nas curas espirituais, há centros onde a cultura é associada a rituais de candomblé e umbanda. Até hoje, Mestre Irineu, fundador da religião, é adorado, tanto pelos fiéis quanto pelos que seguem seus sucessores.
                O Santo Daime é uma religião brasileira, fundada no Acre; é uma forma de expressão cultural da floresta. Ela funde fragmentos de crenças e culturas afro-indu-americanas com práticas e hábitos do catolicismo popular.  O sincretismo místico do Santo Daime pode ser contrastado pelo uso de símbolos como o sol, a lua, as estrelas e o pentagrama - herança da Índia e do Egito -, enquanto da África encontram-se influências nas danças cadenciadas dos bailados; da religião católica vem os ingredientes das rezas como a ave-maria, as velas, as imagens, as salve-rainhas e a adoração à cruz; da América pré-colombiana herdou o domínio das plantas no ritual. 
                 O efeito da ayahuasca tem grande variação entre os usuários; varia de acordo com a quantidade, com a própria pessoa, com o ambiente no qual ela estará e, sobretudo, com a motivação. Ao que tudo indica, o uso da bebida ayahuasca, ou Santo Daime, provoca alterações mentais, mas que são canalizadas de forma benéfica dentro do ritual, uma vez que é associada à "harmonia com a natureza e paz entre os homens". As alterações mentais causadas pela ação do Daime sobre o sistema nervoso central podem variar da mudança nas percepções (cores mais fortes, sons mais intensos), até juízos falhos (interpretação diferente da ralidade), ou ainda provocar visões sem objetos. O uso do Daime contribui para a ressocialização dos indivíduos, mas existe o risco de torná-lo um vício, uma dependência - (espécie de muleta); a dependência física não é uma característica do alucinógeno, mas pode-se desenvolver uma necessidade psicológica. 
               O uso da ayahuasca, no Brasil, é fortemente legalizado, mas é vetado o comércio e propaganda do mesmo, que só poderá ser utilizado sem fins lucrativos e em cerimônias religiosas. A bebida chegou a ser proibida em 1985, sendo liberada dois anos depois, e ocorreu uma nova tentativa de proibição nos anos 1990. 
                 O novo xamanismo - ou neo-xamanismo - é uma mistura de rituais dos povos nativos de toda a América; consiste numa mistura de cristianismo, hinduísmo, budismo, ioga, meditação e até psicologia junguiana. O objetivo é conectar-se com o sagrado, com o "grande espírito" e com o próprio "eu superior", o "Self" como era chamado por Jung. O guia para este mundo interior consiste em exercer as múltiplas práticas psicodélicas de meditação e rituais que surgiram pelo mundo. As maneiras de chegar lá são diversas, vão desde bater tambor até cantar hinos e ingerir bebidas feitas das conhecidas como "plantas de poder",  dotadas de propriedades psicoativas. Entre as principais plantas estão o "peyote", dos índios da América do Norte; o "wachuma", dos índiuos andinos, que na língua quéchua significa "ébrio consciente"; a "Jurema" da Amazônia, cujo princípio ativo é o DMT (dimetiltriptamina) ; a mais popular é uma mistura de um cipó e uma folha, que também contém DMT, substância cristalizadora das "mirações" - ou visões. 


Outras informações
                O xamanismo é considerado o berço das religiões que começaram a surgir na moderna espiritualidade do homem que busca uma conexão. 
                Nas práticas de meditação, a aproximação ao divino passa a ser um girar psicológico em círculo em torno de si mesmo para descobrir todos os aspectos individuais; isto equivale a admitir que a psique tem um caráter tão real como o mundo exterior e que a experiência religiosa que, por definição, é a apreciação do mais elevado, também atinge os níveis mais profundos da mente humana. 
                  Os rituais, que se baseiam no princípio da intensificação gradual, com o ponto culminante de catarse ou êxtase, fomentam a solidariedade de vida, e o homem atua como centro responsável pelo rito. 
                 A luta universal entre as forças da luz e da obscuridade, ou do bem e do mal, tem inumeráveis representações na iconografia do mundo inteiro. O grande ciclo da vida, do nascimento, da morte e do novo nascimento, constitui o núcleo de todos os cultos religiosos. O comportamento ritual mostra a aplicação da instituição e da emoção humana aos fenômenos não humanos. 
                   Na igreja cristã primitiva, a dança sagrada era executada em coro superior, e o bispo era quem a dirigia. As idéias de alguns seres celestiais que rodeiam o trono de Deus e o louvam com seus cânticos remonta ao Talmude, no qual diz-se que a dança é a principal função dos anjos. Nos primeiros anos do cristianismo, pensava-se que durante o "Serviço Divino", sobretudo na missa, os anjos estariam presentes no coro e com Cristo participariam na representação do mistério. 
                      Em todos os tempos e lugares, as religiões visam poder, domínio e dinheiro; para isso capturam a psique humana aproveitando-se dos medos que sempre estão presente entre os fiéis. O homem percebe sua fraqueza diante dos acontecimentos do dia-a-dia. Sempre confronta-se com o caos da experiência de sua condição, pois sua vida continua dependente da sua capacidade para estabelecer um vínculo duradouro com a fonte do poder universal. Em razão disso, apesar de todo o avanço científico da humanidade, as religiões e seitas continuam dominando o intelecto dos seus seguidores. 
                   Os seres vivos e o universo, o microcosmo e o macrocosmo obedecem universalmente as mesmas leis. As danças rituais e as bebidas são consideradas, pelos crentes, necessárias para mover o cosmos a seu favor. A situação terrena, que implica a divina, mostra o homem como herói de seu próprio drama vital, mas também como outro simples ator na obra mais ampla que regula a vida e a morte. Penetrar no tempo sagrado equivale a penetrar no eterno e intemporal, que, para eles,  é idêntico ao aqui  e agora. Dessa forma, torna-se "um" diante de toda a criação universal que constitui a marca do divino e significa o paraíso para o homem. 
                  A psique humana, como fonte de todos os fenômenos religiosos e culturais, conserva o conhecimento adquirido pelo homem antes do aparecimento da consciência de si mesmo. Se o crente deseja recuperar a integridade, impõe-se a necessidade de estabelecer o vínculo divino e, com a ajuda da mente consciente, compreender as imagens adormecidas em sua psique.  Com rituais e bebidas alucinógenas liberam-se as tensões emocionais e se engendra nova esperança em relação às necessidades humanas que surgem na vida individual e seus equivalentes sazonais da natureza e do cosmos para garantir a felicidade eterna que se alcançará com a transformação final. O rito é, portanto, uma necessidade metafísica, em que se combinam circunstâncias humanas e acontecimentos cósmicos, embora a profunda seriedade da vida ideal possa ficar mascarada pela imitação e pela representação. 
               Para o crente, o ritual religioso impulsiona-o a ultrapassar os confins da consciência e a saltar sobre o abismo inexistente entre a espontaneidade e a reflexão. Com o objetivo de compreender o mundo e harmonizar-se com ele, apenas necessita de conhecer os mitos, participar nos rituais, decifrar seus símbolos e, através deles, se vincula com seu mundo interior e com o divino. A substância divina imaterial, quando se manifesta nas religiões mais íntimas ou mais inferiores, se recobre com a substância material de todas as esferas, através das quais viajou. A luta entre aspectos luminosos e obscuros, como sintomas duais manifestos da unidade que é a vida, se desenvolve em todos os níveis da criação. 
                 Aquilo que compõe a nossa vida é um misterioso padrão de movimento que não somos capazes de definir nem compreender. De fato, o nosso intelecto não é ferramenta adequada para podermos entender a misteriosa dimensão da existência. 


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domingo, 9 de setembro de 2018

SEITAS RELIGIOSAS E SOCIEDADES SECRETAS



               As sociedades secretas são associações ou grupos fechados com objetivos comuns. Antropólogos que estudam o fenômeno chegaram à conclusão de que elas existem a mais de 40 mil anos. 
                  As primeiras sociedades secretas surgiram pela consanguinidade. Elas eram formadas de clãs por parentesco. Essas sociedades antigas se ampliaram com o surgimento das uniões ou casamentos intertribais e, dessa forma, passaram a formar grupamentos mais complexos.  As primeiras sociedades tinham como principal objetivo a autodefesa do grupo e união pela sobrevivência. Com a evolução e tomada da consciência espiritual, surgem as primeiras confrarias religiosas com o objetivo de se comunicar com os espíritos dos ancestrais e também dos animais. À cerca de 30 mil anos a. C. , com o aparecimento do homem Cro Magnon, iniciaram-se as primeiras normas para rituais liderados por feiticeiros que cultuavam suas magias na presença de uns poucos escolhidos. 
                  Com o desenvolvimento, as cerimônias sagradas foram se tornando mais complexas e restritas a um pequeno grupo de pessoas da comunidade. Surgiram assim as sociedades onde só os escolhidos tinham permissão para participar  e conhecer os seus segredos. Os segredos eram partilhados apenas entre os membros e nunca deveriam ser conhecidos por pessoas externas que eram consideradas vulgares, profanas e incapazes de compreender seus mistérios. 
                Nos nossos dias modernos, onde a comunicação de torna cada vez mais veloz, quando se fala em sociedades secretas nos vem logo à mente os grupos, cuja maioria foi formada na idade média, como templários, maçons, rosa-cruzes, iluminatis, entre vários outros. 
           Algumas dessas sociedades deram origem a outras, ou seja, ordem secreta de outras ordens, como acontece na maçonaria. 
                 As associações modernas surgiram com fundo político, econômico, religioso, ocultista ou esotérico. Elas operam no mundo todo e trabalham na incessante busca de poder, dinheiro e domínio sobre todos os habitantes do planeta. 
Além de todas as sociedades secretas, estão entre elas as sociedades com agenda política, como o Coletivo dos Partidos Socialistas, tais como: os Mau-mau, Odessa  e Hashishim, as Organizações do Juízo Final, a Ordem do Templo Solar. ´Há também as sociedades extremistas racistas como a Ku Klux Klan e também as sociedades que acreditam em uma raça perfeita como a Sociedade Thule. 
             Todas as sociedades secretas capturam a mente de seus discípulos e os tornam fanáticos, dependentes e crentes de alcançar seus objetivos políticos ou financeiros, além da eternidade por meio de seus ensinamentos. 
              Ao redor do planeta existem vários tipos de sociedades secretas, mas é muito difícil identificá-las com segurança por serem fechadas e "secretas". Além disso existe uma transmissão fluída entre comunidades religiosas, sociedades secretas, seitas e novas religiões. Isto torna muito difícil uma delimitação entre elas. Em geral, as sociedades secretas são subdivididas em dois grupos principais: políticos e religiosos. Mas muitas pertencem às duas esferas e a maioria são de interesses econômicos, mas sempre demonstram ser orientados para interesses sociais. 
                Além das sociedades com objetivos mais brandos, existem as extremistas. São Sociedades secretas criminosas; elas utilizam o segredo como meio de conquistar poder numa atividade clandestina. São comunidades criminosas que agem à margem da lei e da economia formal para proveitos próprio. O segredo é a condição que garante a sua sobrevivência. Entre as mais conhecidas estão as máfias, as ninjas, tugs, coquillards, yakuza, entre muitas outras de menor expressão. 
                  As Sociedades secretas políticas são associações com a finalidade de obter influência política para concretizar seus objetivos ideológicos. Na maioria das vezes são formadas para lutar contra o estado ou uma situação de dominação, seja política, seja religiosa. É o caso do conhecido como Foro de São Paulo, formados por representantes de partidos e organizações não governamentais de esquerda da América Latina, cujo objetivo é dominar todos os países do bloco, sob orientação "socialista-democrata". No mundo existem muitos exemplos de sociedades secretas com fins políticos: Al-Queda, Mão Negra, Thule, Carbonária, Sainte-Veheme, entre outras. As posições políticas dessas sociedades variam em largo espectro, que inclui partidos, organizações comunitárias sindicais e sociais, grupos étnicos, ambientalistas e guerrilheiros. Esse tipo de sociedade costuma recorrer à violência, e o segredo não é uma finalidade, mas um meio em si, indispensável ao seu projeto. Essas sociedades, na sua maioria, evoluíram de sistemas religiosos e cada uma buscou sua própria formação de acordo com seus principais interesses.
                  As sociedade secretas religiosas são estruturadas em torno de crenças, dogmas, de práticas que associam os homens a uma fé transcendente. Os exemplos mais conhecidos dessa sociedades são o orfismo, o culto orgiástico a Dionísio, os mistérios de Elêusis, Druídas, Essênios, Seitas Gnósticas, Maniques, Shingon, Alauítas, Drusos,Catáros, Opus-Dei, entre outros. 
                  As sociedades secretas iniciáticas são diferentes das sociedades religiosas e tão antigas quanto à humanidade. Elas não pretendem revelar algum saber oculto de ordem divina, mas propõe melhorar seus adeptos e a sociedade onde vivem. Entre elas temos a sociedade teosófica, pitagóricos, templários, franco-maçonaria, xamanismo, rosa-cruz, entre outras. 
             As sociedades secretas sempre exerceram grande fascínio no imaginário humano pelo enigmático, pelo segredo e pela prática restrita. Sempre envoltas em mistérios e conspirações, desde a antiguidade homens e mulheres já participavam das sociedades xamânicas ou de feiticeiros. O cotidiano era dividido entre os cultos oficiais e os misteriosos e impenetráveis. É o silêncio para manter o "segredo" desses grupos organizados que cria toda a aura de mistérios. A mensagem delas é a de que existe algo ou alguém que excede o restrito quadro da humanidade e que somente a sociedade pode possibilitar o contato. 
               Independente da natureza de cada sociedade secreta, todas possuem em comum o segredo, regras rígidas e muitos enigmas a serem descobertos. 
                    Apesar de toda a aura nebulosa das sociedades secretas, muitas surgiram e cresceram com elevados propósitos de ajudar os mais necessitados em geral ou uma categoria de trabalhadores em particular. Todavia, com o passar do tempo e a mudança de seus diretores, em muitos casos se tornam apenas mais uma organização de exploração dos crentes. 
                  A fascinação ainda existe na história dessas sociedades, trata-se da eficiência que cada uma tem para se manter secreta: segrego absoluto sobre o que fazem e o que transmitem para os membros. 

                

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

CIÊNCIA CRISTÃ - SISTEMA CIENTÍFICO DE CURA DIVINA


              O sistema científico de cura divina foi descoberto pela senhora Maria Baker Eddy em 1866, quando, milagrosamente se restabeleceu de uma grave doença. Segundo ela tudo aconteceu pela leitura de um capítulo do Evangelho, segundo São Mateus (IX, 1-38). A partir daquele dia a expressão "a tua fé te há de curar", tornou-se a estrela guiadora da vida dessa senhora. Nessa data, sem perceber, estava lançando a pedra fundamental de uma nova religião Cristã. 
               Mary Eddy é a personagem mais empolgante da história religiosa dos Estados Unidos. Nasceu numa fazenda de Bow New Hampshire em 1821, a última de seis filhos.O nome de Mary foi dada por sua avó, pessoa que foi muito importante e em sua vida. 
                Criança de saúde delicada, foi também mimada, era a predileta de toda a família; falava-se até que iriam estragá-la com tantos mimos dos irmãos e irmãs e, em especial da avó que sempre fazia suas vontades prevalecer. 
                     Segundo sua autobiografia, aos oito anos passou a ouvir uma voz chamando-a pelo nome. Sempre que isso ocorria, procurava a mãe perguntando se a havia chamado, e a resposta era sempre a mesma: não lhe chamei. Até que um dia sua mãe lhe leu, na Bíblia, a história do pequeno Samuel. Então lhe orientou que sempre que fosse chamada fizesse como Samuel: "Dizei, Senhor, pois o teu servo te escuta". Conta ela que depois de ter dado esta resposta uma única vez a voz desapareceu para sempre. Este relato foi escrito por Mary Eddy sessenta anos mais tarde. Os estudiosos concluíram que ela devia ter lido esta história quando ainda criança e que tenha se impressionado tanto que a manteve em sua memória. 
                  Na juventude, conta ela,  estudou com a orientação do irmão mais velho durante as férias colegiais. "Adquiri a instrução livresca com menos trabalho que o usual. Com apenas dez anos já estava familiarizada com a gramática de Lindley Murray e o catecismo de Westminter. Recordava as matérias todos os domingos. Meus estudos prediletos eram as ciências físicas, lógica e ciência moral. De meu irmão mais velho, Alberto, recebi lições das línguas antigas, hebraico, grego e latim... depois que descobri a Ciência Cristã, desapareceu-me, como por encanto, tudo o que havia aprendido em  livros escolares. 
                  Após curto noivado, em 1843, Mary Baker casou-se com George Washington Glover, cuja cerimônia foi realizada pelo dr. Corser. O senhor Glover era construtor em Charleston, Carolina do Sul, para onde levou a esposa. Uma de suas primeiras iniciativas foi pedir ao esposo que alforriasse seus escravos, mas não foi atendida.  Nesta ocasião ela teve o primeiro contato com a escravidão e seu impacto foi muito forte. 
                   Em junho do ano seguinte, numa viagem a Wilmington, Carolina do Norte, morre o marido de febre amarela, após apenas nove dias de moléstia.  Sua morte pegou a todos de surpresa e foi um choque para a esposa. Estava grávida e, em setembro nasceu-lhe um filho, mas seu estado de saúde impediu-a de tomar conta da criança. George Glover Júnior era mais do que poderia suportar a mãe e nem pode ficar em casa. A criança foi entregue a uma certa mama, que a levou para localidade, distante cerca de quarenta milhas da casa de Mary. 
              Mary nunca fora uma mulher forte para trabalhos pesados. Sua constituição anêmica, que, desde criança, provocara permanentes atenções de parte de sua família. Assim, não podia por em prática as diversas idéias engendradas pelo seu irrequieto cérebro. Em muitas ocasiões chegou a passar vários meses de cama. Na maior parte do tempo, tinha de ser carregada dum lugar para outro. 
                Como viúva continuava, mas, aos 32 anos, em 1853, outro homem entrou na sua vida; desta vez, um dentista bastante conhecido, dr. Peterson... Tratava-se de um homem muito otimista e bem trajado, fluente, de ombros largos e usando barba. Homem muito asseado e sempre caprichoso no trajar, e mesmo que estivesse passeando em lugares poeirentos usava camisa de linho, luvas de pelica, e uma cartola. 
                 Anos mais tarde, Mary escreve: "A ideia dominante das segundas núpcias era a de reaver meu filho, mas, depois do casamento, seu padrasto não o queria em casa comigo. Consumou-se um plano para nos manter separados. A família, a cujos cuidados estava entregue a criança, mudou-se para longe, para uma região já nesse tempo considerada o Far West". 

                 Ouve um período em que Mary passava a maior parte do seu tempo na companhia de espíritas. Por essa razão muitos dos seus adversários diziam que ela era, na verdade, espírita. Mas os cientistas cristão desmentem categoricamente essa ideia. Ao que tudo indica Mary estava sempre pesquisando informações que poderiam lhe ser importantes, especialmente no campo dos fenômenos espirituais. Numa dessas suas jornadas de pesquisa que aconteceu em 1870, reservou lugar para suas orações na igreja unitária de Lynn. 
                 Existem aqueles que se inclinam a datar o início da Christian Science no ano de 1866, data em que a própria Mary alega havê-lo descoberto, mas, nesse caso precisam explicar o fato de muito posteriormente, em 1872, Mary ter continuado nos louvores ao dr. Quinby e seu trabalho, permitindo a prática duma espécie de mesmerismo nas curas realizadas pelos seus discípulos dessa época. 
               O seu primeiro discípulos foi o sr. Grafts, que era espírita, a quem começou a ensinar em 1866, mas cuja instrução teve de interromper devido aos ciúmes de mrs. Grafts. Todavia ela conseguiu aperfeiçoar seus conhecimentos suficientemente, para que pudesse por em prática suas curas mentais. 
                No período de 1872 a 1875 teve muitas dificuldades e morou em diversas casas e pensões. Finalmente, na primavera de 1875 adquiriu uma casa de três andares, situada na rua Broad n° 8, em Lynn. Para ajudar nas despesas sublocou uma parte dela, ficando com o térreo, onde, manteve uma sala para dar suas aulas. Na verdade, as acomodações eram precárias, mas, mesmo assim lhe permitiu bom desenvolvimento para seu trabalho.  Teve , como consequência, o aumento do número de alunos e condições para finalmente terminar seu livro. 
                 Este livro era a primeira edição de "Science and Health". 
                 A aquisição da nova casa lhe trouxe bons frutos. Além de todo o trabalho que teve para concluir e publicar seu livro, conseguiu formar uma grande classe de alunos e pode até aumentar as taxas de instrução de cem para trezentos dólares. 
                 Entre seus novos discípulos havia um senhor de East Boston, cuja atividade era de agenciador de máquinas de costura que estava doente. Mary curou-o e o persuadiu a tornar-se seu discípulo. Sua experiência comercial lhe seria muito útil, pois estava tendo dificuldade com a venda da primeira edição do seu livro "Science and Health".  Muitos estudantes tinham tentado vendê-lo de porta em porta, mas não obtiveram êxito. Retirou, então, a  representação que havia dado a um tal de Barry e passou-a a um sr. chamado Spoffod.
                  Com essas medidas e ajuda do novo assessor, resolveu a situação de forma satisfatória.  Mary e esse agenciador de vendas, sr. Asa Gilberto Eddy,  ficaram muito próximos e acabaram se casando. O casamento foi celebrado em 1 de janeiro de 1877, cuja cerimônia matrimonial foi oficiada pelo reverendo S.B. Stewart, ministro da Igreja Unitária, de Lynn. 
                 A princípio a senhora Mary não tinha intenção de fundar uma nova religião. Esperava que a própria Igreja Cristã lhe acolhesse com sua revolucionária doutrina. Mas depois percebeu que era inútil persistir nessa ideia que, de fato, estava sendo rejeitada. Sem esperanças tomou a decisão de estabelecer na cidade de Boston a primeira Igreja Científica Cristã. Essa Igreja é hoje um dos monumentos arquitetônicos da Nova Inglaterra.  Posteriormente milhares de igrejas foram erguidas pelos Cientistas Cristãos em todo o mundo. 
                   Sua doutrina espalhou-se fácil e rapidamente. Quando veio a falecer em 1910, foi aclamada por toda parte como uma grande mulher de toda a história universal. 
                  Ela ensinou uma nova fé que atraiu milhões de pessoas infelizes. Deu ao doente e ao defeituoso sua forma que os tornaria sãos. Ela dizia sempre: "Deus é o Pensamento Universal. Afinar o vosso pensamento com o pensamento de Deus e todas as vossas dores serão aliviadas. Sentimos conforme pensamos. Se não pensardes mal, não haverá mal. Se vos concentrardes somente na saúde, nada mais gozareis senão saúde. Há duas espécies de mundo - explicava ela - o real e o irreal. A vida e a saúde são reais; a doença e a morte irreais. A doença é uma miragem e a morte um sonho. Podeis dispor de vossas miragens e de vossos sonhos focalizando vosso pensamento sobre a realidade do amor de Deus por todas as Suas criaturas. Esta é a única verdade. Se aceitardes essa verdade, dizia a senhora Mary Eddy, estareis prontos para entrar no círculo dos eleitos, daqueles que mantém perfeita saúde por meio de perfeita compreensão. E que é a perfeita compreensão? Pode ser reduzida a uma simples regra: Goza melhor a vida quem pensa os mais puros pensamentos. Alimento puro, ar puro, pensamentos puros, são os três requisitos duma mente sã num corpo saudável. Como os antigos relógios do sol, os modernos Cientistas Cristãos devem dizer a si mesmos: Horas non numero nisi serenas (Marco somente as horas ensolaradas da vida). 
               Com palavras de apoio aos doentes e necessitados, Mary Baker Eddy, continua aliviando o sofrimento de milhões de pessoas por todo o mundo. 

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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

AS CRENÇAS RELIGIOSAS EM NOSSOS DIAS


               O ser humano é essencialmente um ser espiritual. Esse sentimento o conduz para o caminho que busca a imortalidade e então se aproxima de alguma crença ou religião. O que é preciso entender é que basicamente toda religião ou crença sempre se submete à lei que domina o universo, e neste planeta todos são parte de um organismo vivo chamado terra. 
              É nas crenças religiosas que o ser humano, motivado pelo medo e a esperança, mostra suas paixões mais primitivas dos instintos naturais. 
                As primeiras idéias de religião nasceram das preocupações com os acontecimentos da vida que buscavam uma solução para problemas pessoais e da tribo nos relacionamentos e na esperança de imortalidade. 
                Os homens incultos são dominados pelas paixões ordinárias da vida, pelo temor de calamidades, medo da morte, fome e outras necessidades básicas e então buscam soluções mágicas em sinais obscuros da divindade. 
            A crença na vida futura, que abre agradáveis perspectivas, é arrebatadora. A superstição aumenta na mesma medida em que o homem vive uma existência governada pelo acaso. Tudo que o enfraquece nas suas disposições interiores, favorece aos interesses supersticiosos. A busca por soluções divinas são mais frequentes naqueles que se sentem impotentes diante dos problemas do dia-a-dia. Assim sendo, o homem passa a frequentar, com mais pontualidade, cultos religiosos nos momentos difíceis e deixa de fazê-lo quando a vida fica mais agradável. O deus criado pela imaginação humana passa a ser visto como um protetor particular, onde as soluções estão à disposição daquele que se prostra de joelhos e pede ajuda. 
                Levados pela fé, o crente imagina que deus ama a lisonja e, com exagerados elogios, tenta todos os meios para obter favores. Esses deuses criados são apresentados como seres semelhantes aos humanos, motivados por amor e ódio, susceptíveis às oferendas, súplicas, pregações e sacrifício. Para facilitar as atenções de deus, criam os semideuses - santos, em algumas religiões - que são mais familiares à natureza humana, e servem para intermediar os pedidos que lhe dirigem. O sacrifício passa a ser visto como uma virtude em si, onde sofrer torna-se o caminho mais curto para o paraíso; sobe escadas de joelhos, se dá açoites, caminha quilômetros sob sol escaldante, pratica o jejum e outras formas de demonstrar submissão e sacrifício para conseguir o favor divino. Assim ele se sente reconfortável, com segurança garantida neste mundo e felicidade eterna no outro. 
               Calcula-se que atualmente, no mundo todo, existe cerca de 10.000  religiões ativas, podem chegar a 60.000 quando são incluídas as seitas e igrejas menos conhecidas. Cada uma delas está convencida de que sua fé e culto são os legítimos e, portanto, os mais agradáveis à divindade. Diante de uma multiplicidade de seitas e religiões, fica impossível o não surgimento de animosidades que se constituem nas mais furiosas e implacáveis de todas as paixões humanas. 
                 O medo é uma poderosa arma no controle das pessoas. A religião surge oferecendo conforto e segurança para o futuro, e quando o crente já está capturado pelas superstições, passa a ser um escravo contribuinte para os desonestos objetivos dos líderes religiosos. Embora a espécie humana seja dotada de inteligência, a razão nem sempre prevalece diante das superstições, e assim ela se torna a maior garantia de prosperidade das religiões e seitas. Elas afundam o espírito humano na submissão e na humilhação mais vil da humanidade. Entretanto, mesmo com todo o caráter dogmático das superstições, a convicção do homem religioso é mais fingida que verdadeira, ostentando uma fé sem reservas, dissimulando entre si mesmo  sua real incredulidade. Pregam o mais absoluto fanatismo que lhes garantem poder e dinheiro. É rotineiro ouvir homens moralmente desqualificados, que se autodenominam bispos,  apóstolos, pastores ou padres, pregando a castidade, condenando métodos anticoncepcionais e outras práticas, enquanto na vida pessoal são os primeiros a ignorar esses absurdos.
               A conduta virtuosa é a prática que devemos à sociedade e a nos mesmos. Considerando que agir com integridade é dever de todo o cidadão, a religião deixaria de ser imperiosa e atraente. Em razão disso, elas acabam criando os mais absurdos dogmas. Muitos descambam para o curandeirismo, falando sempre em nome de Deus e atualmente de Jesus, de quem se dizem representantes na terra.  Aos oportunistas pouco importa se sob a palavra sonora se oculta a hipocrisia e a mentira. Dessa forma, constituem-se as igrejas em verdadeiros parasitas do homem crente, uma verdadeira tarântula, através da qual o clero se constitui em uma minoria de privilegiados que vivem sugando e envenenando a vida daqueles que, iludidos por falsas promessas, mantém os olhos fechados para a realidade. Aos poucos, as religiões e seitas vão se tornando um ótimo e cômodo meio de vida para a maioria dos pregadores que sempre se dizem representantes de deus na terra. Trata-se de um verdadeiro comércio com o qual o povo mais humilde tem sido espoliado através dos tempos. Não é lógico que o homem atual, que já atingiu tão elevado nível de desenvolvimento, que se verifica em todos os setores do conhecimento, permaneça preso a crenças e deuses, mitos e tabus inexistentes.  A realidade objetiva que predomina entre muitos pregadores é a exploração da boa fé dos menos aquinhoados intelectual e economicamente. Quem mais contribui para as campanhas das igrejas são exatamente aqueles que menos possuem, cuja mente encontra-se obstruída pelas idéias e crenças religiosas. Sua pobreza material alia-se à pobreza intelectual. Nessa condição o mais cômodo, para aqueles deserdados, será esperar pela recompensa das agruras da vida no céu, após a morte. Essas promessas são feitas pelos pastores e sacerdotes, a seu modo, a fim de que os pobres vivam de esperanças e não sintam que os ricos pregadores continuam, impunemente, com as mãos em seus bolsos. Esses parasitas são sempre categóricos diante do fiel crente, mostrando-se contudo, reticente em face do conhecimento científico do homem de saber aprimorado. A este falará tudo, mas evitará abordar assuntos referentes à religião ou teologia. O homem simples do povo raramente compreende a finalidade desse tipo de engodo. É a eterna luta do pobre sendo explorado pelo rico. 
                Platão salientou a felicidade que existe na prática da virtude, ensinou a tolerância à injúria e aos maus tratos, e condenou o suicídio. Recomendou o humanismo, a castidade e o pudor, e condenou a volúpia, a vingança e o apego demasiado aos bens materiais. Sua moral baseou-se na exaltação da alma, no desprezo dos sentidos e na vida contemplativa. Quem conhece sua obra pode perceber os traços comuns entre ela e as religiões. Contudo, Platão nunca imaginou que suas palavras fossem utilizadas para a criação de religiões nada divinas. Filon inspirou-se em Platão e, a igreja na obra de Filon, que helenizou o judaísmo. 
                 Mesmo já tendo ultrapassado a época do medo, a raça humana não se libertou do sentimento religioso, porquanto existem os que se valem do nome de deus e das religiões para viverem ociosamente, desfrutando de boa posição e respeito, sem, contudo, dar aos homens qualquer contribuição que lhes aproveite para sua felicidade e bem estar. Apenas a promessa de uma boa vida futura, após a morte. Todavia, até esta lhe será garantida apenas com a condição de suportar, pacientemente, muitos sofrimentos em sua passagem pela terra. 
                Apesar do aprimoramento científico e tecnológico, sempre em expansão, as religiões tão cedo não desaparecerão da face da terra. O poder público apóia a farsa religiosa, e é praticamente controlado por ela. O político que ousar apontar as inverdades, as incoerências e o irracionalismo, nunca mais será reeleito. Diante dessa situação, nada impedirá que continuem angariando mais poder, tanto na mídia quanto no Congresso. A única esperança é a educação. 

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HISTÓRIAS DA CRIAÇÃO, DA TENTAÇÃO E DO DILÚVIO


                Com o despertar da própria consciência, o homem percebe que existe um poder muito superior a ele e sente medo. O começo, tanto do tempo como da criação, desperta sua curiosidade e passa a prestar atenção ao mundo que o rodeia.
             Na sua evolução, o homem vai tomando consciência de sua dependência e de sua própria fragilidade diante universo. Percebe a relação e influência que circula entre o universo e seu corpo. Olha para o céu e busca respostas nas estrelas; seu medo do desconhecido aumenta com a evolução de sua consciência. 
               Quando descobre a possível existência de um deus, curva-se diante dos acontecimentos cósmicos; busca uma revelação divina que nele adquire forma e cor; vê seu corpo como um instrumento para encontro com o divino. 
                 O homem primitivo era, por natureza, andarilho e passava os dias à procura de alimentos. Seus pensamentos voltam-se sempre para o poder superior que existe do qual ele nada entende. Em seu pensamento esse poder toma a forma de um ser humano que passa a chamar de deus que está no céu e governa toda a terra. Surgem os primeiros profetas andarilhos que tentam explicar sobre o poder desse deus, mas logo se colocam como seus representantes na terra; eles dizem ser a ponte que liga o homem comum a esse deus que vive no céu. 
                  As primeiras idéias de religião nasceram das preocupações com os acontecimentos do dia-a-dia de cada homem e da tribo a que pertence. Ainda não existe a ideia de governo, mas deus está vendo e controlando tudo. Dessa forma uma espécie religião primitiva, em nome de deus, passa a governar toda a tribo e garantir a paz e a união entre seus membros. A superstição surge e aumenta na mesma proporção em que o homem primitivo vive uma existência governada pelo acaso. Deus tudo sabe, tudo vê e dele ninguém escapa quando comete alguma coisa errada. Está aberto o caminho para os profetas criarem as primeiras "Leis Divinas".
                   O povo do Egito à 4.000 anos a. C. já tinha forjado uma forma de governo. A população, ao longo do rio, estava dividida em nomes (do grego nomos, ou lei); reconheciam o mesmo totem obedeciam o mesmo chefe, adoravam o mesmo deus e seguiam os mesmos ritos.  Era um povo muito poderoso. Um provérbio árabe diz: "Toda a gente teme o tempo, mas o tempo teme as pirâmides." 
                        A tradição exigia que os governantes egípcios fossem filhos do grande deus Amon; Hatxepsú exigiu ser declarada ao mesmo tempo macho e fêmea. Apareceu logo uma biografia com a de que Amon havia envolvido Ahmasi, a mãe da rainha, numa nuvem de perfume e luz, e fora aceito e copularam; e ao retirar-se anunciou o deus que Ahmasi daria à luz uma filha em quem todo o valor de deus se manifestaria na Terra. Para satisfazer os preconceitos do povo, e talvez o secreto desejo de seu coração, a grande rainha fez-se representar, em todos os monumentos, barbada e sem seios; embora as inscrições a ela se referissem com o pronome feminino, não hesitaram em dá-la como "Filha do Sol" e "Senhor das duas Terras". Quando aparecia em público, vinha sempre vestida de homem e com barba postiça. 
         As histórias da Criação, da Tentação e do Dilúvio foram tiradas das lendas da Mesopotâmia, possivelmente 3.000 anos a.C. 
                 Tudo indica que os judeus se apropriassem de alguns dos mitos da Babilônia durante o cativeiro; e mais provável ainda que os tomassem das antigas fontes semíticas  ou sumerianas, comuns a todo o Oriente Próximo.
                 O mito da Criação tem formas persas e talmúdicas; representam Deus criando um ser duplo - macho e fêmea reunidos pelas costas (como irmãos siameses) depois dividindo por achar que assim seria melhor. No Gênesis (v, 2) encontramos uma estranha que diz: "Macho e fêmea criou Ele, e abençoou-os e chamou-lhes Adão". Com isso podemos concluir que, segundo as informações bíblicas, nossos primeiros pais foram originariamente macho e fêmea. Este fato parece ter ocupado todos os antigos teólogos, exceto Aristófanes. ( Encontrado em Simposium, Platão. 
           O jardim do Éden, do hebraico (Gan Eden) é o local onde ocorreram os eventos narrados no livro do Gênesis (Gen, 2 e 3). ali encontra-se descrito a forma como Deus criou o homem e também o jardim que chamou de Éden; e mandou que o homem cultivasse e cuidasse. A Tentação no Eden  aparecem em quase todos os folclores - no Egito, na Índia, no Tibé, na Babilônia, na pérsia, na Grécia, na Polinésia, no México. Muitos desses jardins possuem árvores proibidas e serpentes ou dragões que roubam a imortalidade do homem, ou eventualmente o paraíso. Hesíodo, poeta grego, que viveu 750 a. C. , em Trabalhos e Dias narra: "Os homens viviam como deuses, sem vícios ou paixões, vexames ou trabalhos. Em feliz acordo com os seres divinos, passam os dias na paz e na alegria... A Terra era mais bela do que agora, e espontaneamente dava abundante variedade de frutos... Os homens consideravam-se perfeitamente moços aos cem anos de idade". 
                Tanto a serpente como o figo foram provavelmente símbolos fálicos; atrás do mito está a opinião de que o sexo e a ciência destroem a inocência e a felicidade, e são a origem do mal.; encontramos essa mesma ideia no Eclesiastes. Na maior parte dessas histórias, a mulher era o gentil agente da cobra ou do diabo, seja Eva ou Pandora, ou ainda a Poo See da lenda chinesa. O Shi-ching, (da lenda chinesa) diz: "Todas as coisas eram a princípio sujeitas ao homem, mas uma mulher nos lançou na escravidão. Nossa miséria não vem do céu, mas da mulher; ela perdeu a raça humana. Ah, infeliz Poo See! Tu acendeste o fogo que nos consome e que sempre aumenta... O mundo está perdido. O vício tudo domina."
              Essas idéias contra as mulheres perduram até hoje. Em muitos lugares, em pleno século XXI, as mulheres ainda são consideradas seres inferiores e prejudiciais ao homem. Ao que tudo indica, ainda levaremos muito tempo para nos livrarmos desses absurdos criados pelas religiões ao longo dos séculos. 
               A lenda do Dilúvio é ainda mais universal. Praticamente todos os povos antigos tinham esta fábula em seu corpo de lendas; poucas montanhas da Ásia não foram o ancoradouro de algum Noé ou Shamash-napishtim. 
              Essas histórias fabulosas eram motivo de alegria e veículo ou alegoria dum pensamento filosófico, ou ético de longa experiência racial. 
               As religiões sempre procuraram mostrar ao crente que o sexo e o conhecimento trazem mais sofrimento do que alegria, e que a vida humana está permanentemente ameaçada pelas inundações, isto é, pelas calamitosas enchentes dos rios que flagelavam as velhas civilizações. Para os escritores dessas lendas era importante manter a massa do povo inculto; dessa forma seria mais fácil mantê-lo sobre seu controle sem o uso de força. Ainda hoje, com todo o avanço científico, os lideres que cultivam a revolta e o ódio não querem que a humanidade se ilumine, que perceba sua verdadeira natureza. Vibrações geradas pelos pensamentos e sentimentos criam uma massa psíquica que alimenta a ignorância. O ser humano passa a ser o cordeiro que segue a sineta do líder sem perguntar para onde vai. O universo é harmonia no mais amplo sentido da palavra; o bem e o mal são apenas modos de ver a harmonia e a desarmonia. 
                Perguntar se tais lendas e histórias fabulosas são ou não verdadeiras, se isso realmente aconteceu, seria propor uma questão superficial e vulgar, seria voltar ao primitivismo humano, pois, está claro que não são o que a história conta. Por outro lado, seria um desacerto não gozarmos de sua encantadora simplicidade e forma narrativa. 
               


terça-feira, 4 de setembro de 2018

AS LEIS DE MOISÉS - OS DEZ MANDAMENTOS


                Indubitavelmente, Moisés foi autor de muitas das leis constantes nos livros atuais. O ser humano, por sua natureza espiritual, tende a aceitar com mais facilidade as leis que tiverem algum mistério divino. 
                  Para Moisés, naquele tempo, seria impossível constituir um estado militar. A Judeia não tinha riqueza necessária nem gente suficiente.
                  Embora reconhecesse a soberania da Pérsia era indispensável dar aos judeus uma unidade nacional e para isso seria necessário a criação de leis com fácil entendimento.
                  Os Dez Mandamentos é título suficiente da fama de Moisés. Eles criou leis sábias para manter as relações sociais entre indivíduos, grupos e tribos antagônicos. 
                 Por muito tempo atribuiu-se a Moisés a autoria dos primeiros cinco livros que deram origem à Bíblia, denominados o Pentateuco, a despeito de conter o último deles a sua morte, mas hoje sabe-se que a atual versão deses livros , e provavelmente os documentos originais dos mesmos, datam de época muito mais recente. 
                 No  êxodo, no Levítico e no Deuteronômio existem inúmeros decálogos. Segundo o professor Charles Foster Kent,  no seu "Student's Old Testament - vol IV" nos informou, constar dez conjuntos dos Dez Mandamentos no êxodo, capítulo 20 a 23, e nos trechos correspondentes do Deuteronômio, além dos encerrados no Código da santificação do Levítico, capítulo 17 a 26. 
                No entanto, o decálogo constante do Êxodo, 20, é o seguinte, na sua forma mais abreviada.
Prefácio - "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. "
  1. "Não terás deuses estrangeiros diante de mim. 
  2. Não farás para ti imagem de escultura...
  3. Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão...
  4. Lembra-de de santificar o dia de Sábado. 
  5. Amarás a teu pai e à tua mãe...
  6. Não matarás.
  7. Não cometerás adultério.
  8. Não furtarás.
  9. Não dirás falso testemunho contra teu próximo.
  10. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a sua mulher... nem alguma coisa de teu vizinho."
                Tanto os católicos quanto os luteranos reduzem os dois primeiros; denominam-no  a cindir um dos demais mandamentos a fim de conservar o total de dez. Ambos escolheram para esse fim o décimo, que se refere à cobiça, mas dividem-no de modo diferente. Enquanto os Luteranos proíbem a cobiça à casa do vizinho pelo nono, e pelo décimo a da mulher, os católicos romanos fazem o inverso. 
                  Poucos cristãos sabem, mas existe outro decálogo; Os Dez Mandamentos do êxodo 34, menos corrente, que podem ser abreviados da seguinte maneira:

  1.  Não adores a deus alheio. (Verso 14
  2. Não farás para ti deuses fundidos. (Verso 17)
  3. Observarás a solenidade dos asmos. (Verso 18)
  4. Todo o Macho que abre o útero de sua mãe, será meu (isto é, todo o primogênito. (Verso 19)
  5. Trabalharás seis dias, e no sétimo cessarás de lavrar e segar. (Verso 21)
  6. Celebrarás a solenidade das semanas nos princípios da colheita de tua messe de trigo; e a outra solenidade quando no fim do ano se recolher tudo. (Verso 22)
  7. Não imolarás o sangue da minha vítima sobre fermento. (Verso 25a.)
  8. Nem da hóstia da solenidade da Páscoa ficará nada para amanhã. (Verso 25b)
  9. Oferecerás as primícias dos frutos da tua terra na casa do Senhor teu deus. (Verso 26a)
  10. Não cozerás o cabrito no leite de sua mãe. (Verso 26b)
              Outras religiões contém prescrições análogas, conforme se verá consultando a Enciclopédia de Religião e Ética.
                  Todas as leis de Moisés eram ensinadas oralmente, e embora o profeta possivelmente soubesse ler e escrever, uma obra escrita para as tribos hebraicas seria perda de tempo. Muito inteligentemente ele preparou suas numerosa leis em grupos de dez. Tratava-se de um processo mais conveniente de ensinar para que seu povo tivesse facilidade de recordar. 
                Os sacerdotes empreenderam a formação dum governo teocrático, baseado, como o de Josias, nas tradições sacerdotais e nas leis dadas como vindas do céu.
               Por volta do ano 444 a. C., Ezra, um culto sacerdote, reuniu os judeus em assembléia e começou a ler-lhes o "Livro da Lei de Moisés". Eram vários rolos de papiro e a leitura durou sete dias; no fim os sacerdotes e os chefes comprometeram-se a aceitar aquele corpo de legislação como a constituição e consciência do país, e, a partir daquele momento, sempre obedecer-lhe. 
                Com uma leitura tão longa, podemos imaginar que continham uma grande parte do Velho Testamento, ao qual os judeus chamavam de Torah, ou lei, mas outros chamaram de Pentateuco (Torah, guia, direção).(Pentateuco, cinco rolos, em grego).
                   O consenso dos eruditos tende a admitir que os mais velhos elementos da Bíblia são as lendas do Gênesis, chamados "J" e "E" respectivamente, porque um fala do Criador como Jeová (Yahveh) e outra lenda como Elohin. 
                O que mais importa é que desde aqueles tempos, o Livro de Moisés, com suas leis se tornou o principal fato da vida judaica; a lealdade dos judeus a esses princípios e as tribulações por que passaram constituem um dos mais impressionantes fenômenos da história. 
                 Essas leis deram origem a muitas controvérsias e discussões e com elas surgiram mais de 50 mil volumes de debates cujos resultados marcaram a história mundial. 
                Os livros que Josias e Ezra deram ao povo hebreu formulavam aquele Código "Mosaico" sobre o qual toda a vida desse povo iria repousar. Era o primeiro passo ensaiado da História Universal para uso da religião como base de governo, e como reguladora de cada detalhe da vida. Dieta, medicina, higiene pessoal, menstrual e do parto, saúde pública, inversão sexual e bestialidade, tudo passou a existir sob orientação divina. No Levítico (XIII-XV) aparecem instruções para o tratamento do mal venéreo, tudo com regras definidas de segregação, definição, fumigação e, quando necessário, completa queima da casa em que a doença se desenvolveu. Isso nos mostra que os hebreus foram fundadores da profilaxia, mas, em matéria de cirurgia só tiveram a circuncisão. Os médicos chegaram a ter tanta importância como os padres, mas acabaram sendo inimigos. 
               A divindade dos códigos de lei  era coisa usual. Como já vimos, as leis do Egito foram dadas pelo deus Thoth, e as leis de Hamurábi pelo deus Shamash; da mesma forma  a deidade deu ao rei Minos (também sobre o monte), as leis de Creta; os gregos representavam Dionísio - " Legislados" - também com duas tábuas de pedra onde as leis estavam escritas.  Também entre os piedosos Persas falava-se que, estando Zoroastro a orar na montanha, Ahura-Mazda apareceu num trovão e lhe entregou o "livro da Lei" . Era natural que, naquela época com tanta ignorância do povo, entender que a humanidade só podia ser regulada por leis divinas; só desse modo as leis seriam respeitadas. 
                O Código centrava-se nos Dez Mandamentos, destinados  a servir à metade do mundo então conhecido. Vamos, a seguir, analisar alguns detalhes de cada mandamento.

  1. O primeiro Mandamento - lançava os fundamentos da nova comunidade teocrática, que não repousaria em nenhuma lei civil, mas sobre a ideia de Deus; Este era o rei invisível que ditava as leis, - como ocorre nas leis congressuais da democracia atual - mas ele mesmo impunha as penas.  Os sacerdotes, autores do Código, como os "piedosos inquisidores", acreditavam que a unidade religiosa era condição indispensável para a solidariedade e a organização social. O  Estado hebraico já não mais existia, mas o Templo permanecia em pé. Os sacerdotes da Judeia usaram os mesmos artifícios que, mais tarde, os Papas de Roma usariam: restaurar o que os reis não puderam salvar. Dai o modo explícito e reiterado do primeiro mandamento: "a heresia ou a blasfêmia castigadas com a pena de morte." Foi essa intolerância, mais o orgulho racial, que trouxe a preservação e o martírio dos judeus. 
  2. O segundo Mandamento eleva a concepção nacional de Deus á causa da arte; nenhuma imagem dele poderia ser feita. Se por um lado nos mostra a radicalidade dos judeus,  por outros nos mostra alto nível intelectual, pois rejeitava a superstição e o antropoformismo. A despeito das humaníssimas qualidades do Jeová do Pentateuco, procuraram conceber um Deus livre de forma e imagem. Nada deixavam para a arte e, ao mesmo tempo monopolizava a devoção dos judeus para a religião. Antes, no Templo de Salomão existiam inúmeras imagens de deuses de fora; já no Segundo Templo não havia mais nenhuma. Ao que parece, as antigas imagens foram levadas para a Babilônia e lá permaneceram. Foi por essa razão que os arqueólogos e estudiosos, depois do Cativeiro, não encontraram escultura, pintura ou baixo relevo. As única encontradas eram de antes do Cativeiro. As únicas artes permitidas pelos sacerdotes eram a arquitetura e a música. 
  3. O terceiro Mandamento simboliza a intensa devoção dos judeus. Não era permitido pronunciar o nome de Deus em vão como, também jurar em seu nome. Nas orações, como substituto, era usada a palavra Adonai - Senhor. 
  4. O quarto mandamento santificou o sábado, que posteriormente passou a ser o domingo, como dia de descanso, que, ainda hoje, é uma das mais fortes instituições da humanidade. Tudo indica que o nome - e talvez também o costume - tenha vindo da Babilônia, onde a palavra shabattu aplicava-se aos dias de abstinência e propiciação. O Shabuoth, mais tarde chamado de Pentecostes, celebrava o fim da colheita do trigo; Sukkoth comemorava a vindima; o Pesach, ou Páscoa, era a festa dos primeiros frutos do rebanho; a Rosh-ha-shanah, anunciava o Ano Novo. Só bem mais tarde estas festas foram adaptadas à comemoração dos grandes dias da história dos judeus. No primeiro dia da Páscoa um cordeiro ou cabrito era sacrificado e comido, e o sangue espalhado pelas portas das casas simbolizando parte de deus; mais tarde os sacerdotes ligaram este costume à história da matança que Jeová procedeu nas crianças egípcias. Este costume perdura até nossos dias, e isto mostra a antiguidade, persistência e tenacidade da raça entre os judeus.
  5. O quinto Mandamento santificava a família que na estrutura social vinha logo abaixo do Templo. A família patriarcal judaica era uma unidade econômica e política, composta do chefe, suas mulheres, os filhos solteiros e os casados, com esposas e crianças. A base econômica da instituição estava no cultivo do solo e seu valor politico vinha prover uma ordem social tão forte que o Estado se tornava uma entidade inútil, exceto quando havia guerra. A terra pertencia ao pai e sua autoridade era incomensurável, tanto que os filhos só podiam sobreviver graças à obediência; portanto, o pai era o próprio Estado. Podia vender suas filhas, muitas vezes até como servas, antes mesmo da puberdade; tinha pleno direito de casá-la com quem quisesse. 
  6. O sexto Mandamento consistia num conselho de perfeição. Esse fato levou a muitas mortes descabíveis; em parte nenhuma da história há tanta chacina como no Velho Testamento; seus capítulos oscilam entre matança e compensatória fecundidade. A julgarmos pelos discursos que põem na boca de Jeová, gostavam tanto da guerra como dos sermões. Dos dezenove reis de Israel, oito foram assassinados. Quando invadiam as cidades tomavam logo tudo de bom que encontravam e em seguida sempre as destruíam; todos os homens eram mortos e o solo deliberadamente arruinado à moda daquele tempo. Muito do que se conta certamente é lenda, porque é impossível que, numa disputa, "os filhos de Israel pudessem matar cem mil sírios num único dia. A violência provinha da irrequieta vitalidade, o separatismo provinha da religião. Por outro lado, a turbulência tinha origem na apaixonada sensibilidade que produziu a maior literatura do Oriente Próximo. O orgulho racial dos judeus garantiu apoio à sua coragem e persistência durante séculos de sofrimento.
  7. O sétimo Mandamento reconhecia o matrimônio como a basa da família, tal como o quinto reconhecia a família como a base da sociedade, e dava ao casamento todo o apoio da religião. É completamente omisso quanto às relações sexuais antes do casamento, mas impunham outras regulações à noiva, sob pena de apedrejamento; uma delas era a prova da virgindade no dia da união. O amor entre casais evidentemente existia. A prova disso é que Jacó serviu sete anos para casar-se com Raquel. 
  8. O oitavo Mandamento santificava a propriedade privada, mas, teoricamente a terra pertencia a Jeová; era uma das três bases da sociedade judaica, mantida pela família e pela religião. Até os dias de Salomão, a propriedade era quase toda em terras; a indústria não passava de um pouco de cerâmica e ferraria. O grosso da população entregava-se à criação e explorava a vinha, a oliveira e o figo. Portanto, a agricultura não era coisa desenvolvida. Viviam em tendas mais do que em casa a fim de tomar contas dos rebanhos de ovelhas nas constantes mudanças de pastagens. O Código declarava: "Ninguém oprimirá o seu próximo". A lei mandava que aos servos hebreus fosse restituída a liberdade e as dividas entre os judeus fossem canceladas de sete em sete anos. Cada 50 anos todos os escravos e devedores eram postos em liberdade: "Santificareis o ano quinquagésimo e proclamareis liberdade por toda a terra a todos os seus habitantes. Não foi encontrada nenhuma prova de que esta lei fosse realmente posta em prática, mas as lições de caridade sempre foi ensinada pelos sacerdotes. 
  9. O nono Mandamento, exigidor de absoluta honestidade quanto ao testemunho, punha a religião como apoio da lei. O juramento passou a ser uma cerimônia religiosa e é até hoje utilizado em tribunais. Antes, como era de costume, bastava que o homem, ao jurar, pusesse a mão nos órgãos genitais de outro. A partir de então Deus passou a ser testemunho e juiz. A lei religiosa era a única lei de Israel; os sacerdotes faziam as vezes de juízes e o templo era a corte onde acontecia o julgamento. Quem não aceitasse essas condições era condenado à pena de morte. 
  10. O décimo Mandamento mostra com clareza que a mulher nada mais era que uma parte dos bens do homem. "Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem a seu servo, nem à sua serva, nem a seu boi, nem a seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença. Infelizmente, ainda hoje, muitos homens estão convencidos de que a mulher, sua companheira, é também propriedade sua.
               Se os homens tivesse seguir à risca metade dos horrores do mundo que a religião apresentava, certamente teriam desaparecido. 
                  O Código Mosaico, embora escrito pelo menos quinze séculos mais tarde, não mostrava nenhum adiantamento em legitimação criminal sobre o código de Hamurábi; na organização legal revela um arcaico retorno ao primitivo controle eclesiástico. 
                 Para finalizar, é preciso lembrar que tratava-se apenas de uma lei, uma utopia sacerdotal e não o retrato da verdadeira vida dos judeus. Entretanto, sua influência sobre a conduta do povo foi tão grande que perdura até hoje, onde a cultura e a ciência procuram sempre esclarecer aos que desconhecem a verdade e continuam submetendo-se às imposições do clero e de pastores que se dizem representantes de Jesus ou de Deus. Quando alguém disser: em nome de Jesus, desconfie. 
                  Mas há uma coisa que ninguém pode negar. Esse código permitiu aos judeus manterem-se fiéis às suas tradições  em mais dois mil anos de peregrinação. Nesses séculos todos os judeus permaneceram unidos, num povo forte e aparentemente indestrutível para a felicidade da civilização moderna.



            

domingo, 2 de setembro de 2018

JERUSALÉM - SUA MORTE E RESSURREIÇÃO

               

                  Quando o faraó Necho, a caminho da Síria, tentou passar pela Palestina, Josias, confiante em Jeová, enfrentou-lhe no antigo campo de batalha de Megiddo, onde foi derrotado e morto. Mas, alguns anos mais tarde chagava ali Nabucodonosor; em Carchemish enfrentou e matou o faraó Necho fazendo de Judá uma dependência da Babilônia. Mas os sucessores de Josias tramaram a libertação com a ajuda do Egito. Entretanto, o poderoso Nabucodonosor não se intimidou e, com seu exército invencível esmagou os revoltosos e capturou Jerusalém, depôs o rei Jehoiakim e colocou Zedekiah no trono de Judá; levou consigo dez mil prisioneiros como reféns. 
                     Passado algum tempo, Zedekiah, que também amava a liberdade de Jerusalém, rebelou-se contra Nabucodonosor. Este retorna com toda a sua ferocidade, disposto a por fim ao caso. Retoma Jerusalém, queima todos os alicerces, destrói o Templo de Salomão, mata os filhos de Zedekiah diante dos olhos do pai e a este fura os olhos e leva praticamente toda a população como escravos para a Babilônia. 
                 Durante toda aquela crise , Jeremias, o mais eloquente dos profetas fala sobre a Babilônia como um flagelo nas mãos de Deus; denunciou os governantes de Judá como loucos teimosos e aconselhou a completa submissão a Nabucodonosor, a ponto de, ainda hoje, muitos suspeitarem que Jeremias era um agente pago  pela Babilônia. Em nome de seu Deus, disse ele:

"Eu fiz a terra, o homem e os animais, e agora entreguei todas estas terras nas mãos do meu servo Nabucodonosor, rei da Babilônia... E todas as nações o servirão. A nação ou reino que não servir a Nabucodonosor, rei da Babilônia, e não submeter o pescoço ao jugo, a essa nação eu punirei,"diz o Senhor," com a espada, com a fome e com a peste, até que a tenha consumido pelas mãos dele."

               Como se pode perceber, Jeremias apresenta-se como traidor, mas seu livro de profecias, tomadas pelo discípulo Baruc, é não só dos mais eloquentes escritos de todas as literaturas, como vem marcado duma sinceridade que acaba na dúvida sobre toda a vida humana. Aqui temos uma passagem em que Jeremias se redime perante seu povo dizendo: 

"Ai de mim, minha mãe, porque me deu à luz homem de rixas e homem de contendas para a terra toda! Nunca lhes dei dinheiro à usura, nem os homens me deram a mim em usura; entretanto, todos me amaldiçoam... Maldito seja o dia em que nasci; não seja bendito o dia em que me deu à luz minha mãe."

               Na verdade, a revolta de Jeremias era contra os padres, os profetas e membros do povo, e é bem demonstrada nas suas palavras de indignação, quando ele diz que estes são tão mentirosos e corruptos como os negociantes. Era aquilo um sumário da história humana, insuportável à consciência de Jeremias. 
                 Contra esses abusos, o profeta pregou com fúria. Jeremias amaldiçoou histericamente os judeus e parecia sentir deleite em representar a ruína dos que não lhe davam atenção. 
               Diz a tradição que, na velhice, Jeremias escreveu as "Lamentações", o mais eloquente livro do Velho Testamento.
                 Naquele tempo, como hoje, a ideia era de que o processo de absorção destruiria a unidade e mesmo a identidade do povo judeu.  Eles prosperavam no rico solo da Mesopotâmia, gozavam de considerável liberdade de costumes e culto, aumentavam em número e riqueza em meio à paz forçada que a submissão de Nabucodonosor lhes trouxera. Grande parte do povo aceitava os deuses babilônicos e o modo de viver epicurista daquela grande metrópole. Com a segunda geração dos exilados, Jerusalém já estava esquecida. 
                 Depois de Isaías, um novo autor tentou completar o livro deste que ficara inacabado. Sua  intenção era despertar a religião já evanescente na alma das novas gerações. Nada, porém,  sabemos da história desse escritor, que, com licença admitida na época, preferiu falar sob o nome de Isaías. Podemos ver que escreveu pouco antes de Ciro libertar os Judeus.
                Enquanto na Índia Buda pregava a morte do desejo e na China Confúcio formulava sabedoria para uso do povo, este "novo Isaías" (o autor desconhecido) em prosa majestática, anunciou aos exilados judeus a primeira revelação nitidamente clara do monoteísmo, e ofereceu-lhes um novo deus infinitamente mais rico em amor e misericórdia do que o amargo Jeová do primeiro Isaías. Em palavras, que um futuro Evangelho iria dar como pregações de Jesus, este autor (novo Isaías) anunciava-o como o maior profeta de todos os profetas, falando de sua missão, de não mais amaldiçoar o povo pelos seus pecados, mas enchê-lo de esperanças.

"O espírito do Senhor está em mim; porque o Senhor me ungiu para pregar a boa nova entre os pequeninos; enviou-me para soldar os corações partidos, para acenar com a liberdade a todos os cativos, para abrir a prisão a todos os encarcerados.

                  Este novo profeta descobriu que Jeová não era o deus da guerra e da vingança, mas um pai amoroso; o achado o encheu de felicidade e inspirou-lhe cantos magníficos. E fê-lo predizer o advento dum novo Deus que viria salvar o povo; Assim ele anunciava: 

"A sua voz grita no deserto: Preparai o caminho do Senhor, abri no deserto um caminho para Deus. Cada vale será elevado, e cada montanha e monte será rebaixado; e os tortos se endireitarão, e o áspero será alisado... Atendei, o Senhor deus virá com a mão forte e seu braço governará por ele... Ele alimentará o seu rebanho como um pastor; entre seus braços reunirá os cordeirinhos e os levará em seu seio, e bondosamente guiará as ovelhas paridas."

                Aqui, esse profeta, provavelmente, refere-se ao caminho de Jerusalém à Babilônia. Com suas palavras ergue, então, a esperança messiânica ao nível das idéias dirigentes do povo e descreve o "Servo" que redimirá Israel por meio do sacrifício. 
                A Pérsia, prediz esse segundo Isaías, será o instrumento da libertação dos Judeus. Ciro é invencível; tomará a Babilônia e os libertará. E eles voltarão a Jerusalém e construirão um novo Tempo, uma nova cidade, um novo paraíso.
                  A entrada de Ciro em Babilônia, como conquistador mundial, foi um momento dramático na história de Israel; finalmente deu liberdade aos judeus. Entretanto, alguns profetas ficaram desapontados com sua superior civilização, não destruindo a cidade, respeitando o povo e mostrando cética obediência aos deuses locais. 
              Uma das primeiras medidas de Ciro foi restituir aos judeus o que estava no tesouro público (ouro e prata) que Nabucodonosor saqueara do Templo e mandou que as comunidades, em que viviam os exilados, lhes fornecessem fundos para o retorno à pátria. Este é sem dúvida o sinal de que uma nova civilização estava surgindo.  
                   Os judeus mais novos não se sentiram entusiasmado pela restauração; muitos já estavam radicados ao solo da babilônia e hesitaram em abandonar campos férteis e um comércio florescente  pelo trabalho rude da restauração da pátria (Israel). Só depois de dois anos do aparecimento de Ciro é que os primeiros grupos de entusiastas partiram, numa jornada de três meses, para a cidade que seus pais haviam deixado meio século antes. 
                   Tal como acontece ainda em nossos dias, os judeus em retorno não foram bem recebidos na Palestina. É que outros semitas haviam se estabelecido e ocupado as terras de cultivo. Essas tribos, então locais, passaram a olhar com muito ódio aquele que, "aparentemente" eram invasores. E o retorno dos judeus à sua pátria se teria revelado impossível, se não fosse o apoio do império que os protegia. O príncipe Zeru-babel obteve permissão do rei Persa, Dario I, para reconstruir o Templo; e embora os imigrantes fossem poucos e de poucos recursos, e as obras com frequência se interrompessem com os ataques de pessoas hostis, foram levadas a cabo no período de 22 anos.
                     Lentamente Jerusalém se tornou de novo uma cidade judaica, e o Templo ressoou com os salmos dos judeus remanescentes dispostos a refazer sua pátria. 
               Não resta dúvida de que foi um grande triunfo, que só seria excedido pelos acontecimentos de nossos dias. 



sábado, 1 de setembro de 2018

A COMPOSIÇÃO DA BÍBLIA FEITA PELOS JUDEUS


                 A Bíblia foi criada pelos judeus, que agiram como profetas para dar ao seu povo uma forma de comunicação com o Deus em pessoa imaginado por eles; ao mesmo tempo criaram as leis de Deus que deveriam ser obedecidas por todos. 
               Foi sem dúvida o maior feito deles para o futuro do cristianismo. Naquela época o povo judeu estava derivando da adoração a Jeová para a de deuses. Os sacerdotes ponderaram se já não era tempo duma derradeira tentativa da desintegração da fé nacional. Agindo como profetas, os sacerdotes resolveram dar ao povo uma comunicação de Deus em pessoa, um código de leis que revigorasse a vida moral da nação e, ao mesmo tempo, atraísse o apoio dos  profetas por meio da incorporação de seus pensamentos menos estremados. 
                Depois de conseguirem o apoio do rei Josias já no seu 18° ano de governo, o sacerdote Hilkiah anunciou que havia encontrado nos arquivos secretos do templo um maravilhoso rolo no qual o próprio Moisés sob o direto ditado de Jeová. O suposto achado causou grande sensação; resolveria em definitivo todos os problemas em perpétuo debate. 
                Para discussão e apresentação da grande nova, Josias reuniu no Templo os senhores mais velhos de Judá e lhes leu o que chamou de "Livro da Lei". Conta-se ainda que estavam presentes mil pessoas. Diante de todos, Josias jurou solenemente que a partir de então se submeteria incondicionalmente às leis encontradas. Da mesma forma, fez que todas as pessoas ali presentes se conformassem e aceitassem a nova lei. 
                 Na verdade, não se sabe ao certo que "livro de lei" era esse; alguns estudiosos dizem que pode ter sido do Êxodo ou o Deuteronômio. O livro apenas trazia por escrito decretos, clamores e exortações que durante séculos haviam emanado dos profetas e do Templo. Não há, portanto, razão para invenções. De qualquer maneira, acreditamos hoje que os que possivelmente ouviram a leitura, ou até mesmo os que ouviram falar dela, ficaram profundamente impressionados. 
                 Diante dessa nova condição e apoio  do povo, Josias aproveitou para destruir todos os altares dos deuses rivais de Jeová existentes no reino. O rei Hilkiah ordenou que tirassem do Templo todos os vasos que tinham sido feitos para Baal", suprimiu os sacerdotes idólatras e os que costumavam queimar incenso em louvor a Baal, à lua e os planetas; profanou a Topheth,... para que ninguém fizesse seu filho ou sua filha passar pelo fogo de Moloc; e destruiu os alars que Salomão erguera a Chemosh, Milcom e Astarte. 


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A REFORMA PROTESTANTE

           

                 O Renascimento trouxe consigo o reflorescimento da inteligência humana, porém não pode escapar ao perigo que traz consigo uma espécie de eclosão, que é o progressivo alheamento das aspirações profundas, primitivas e puras do coração. Muitos pensadores, aproveitando-se daquele momento, desejavam que os verdadeiros anseios se fundissem num funesto materialismo. 
                 Enquanto Carlos V e Francisco I  batalhavam pela glória da própria coroa e pela posse de algum pedaço de território, conservando o mundo em armas e saqueando as pacíficas cidades da Itália e de Flandres, outra tempestade, e muito mais grave, se adensava sobre a Europa; uma guerra curialesca e togada, combatida por homens mais afeitos à pena e o papel do que à espada, mas anunciadora de grandes e sangrentos eventos. 
                Entre o mundo germânico e o latino, jamais houvera muita amizade, mesmo no campo religioso; muitos bispos alemães mal toleravam a autoridade de Roma, seja por cego nacionalismo seja por contrastados interesses políticos. O fausto da corte pontifícia irritava a muitos, que viam nisso uma evidente discordância dos preceitos evangélicos; a rigidez dogmática do catolicismo, ainda não liberto de idéias medievais; o absoluto princípio de obediência e de hierarquia, que constitui a inabalável estrutura da Igreja, pareciam algo incômodo a quem da própria Igreja não lhe sentia íntima grandeza. Todos esses fatores e outros de caráter mais pessoal, agiram quase que inconscientemente  sobre aquele obscuro monge agostiniano, Martinho Lutero, um jovem de trinta e cinco anos, de quem, improvisadamente, se começou a falar em fins de 1517. 
                 Quem realmente quiser  compreender a reforma protestante ou reforma luterana e calvinista, é indispensável, antes entender a crise cristã e o seu desenvolvimento durante o papado de Leão X. 
                Martinho Lutero, desde muito tempo, antes das suas proposições heterodoxas, havia suscitado algumas apreensões entre seus superiores. Em sua viagem a Roma em 1510, tinha experimentado a indiferença, a frivolidade dos sacerdotes, e os vícios da corte pontífice. Contudo, Lutero não tinha, a princípio, idéias de reformas; queria endireitar, corrigir, suprimir os abusos,  porque, na origem desses abusos, pensa encontrar um erro, um "pecado espiritual", a doutrina maldita da salvação pelas obras. Por essa doutrina, diz ele, a igreja impõe fardos arrasadores sobre os ombros de seus fiéis, e como estes não podem suportá-los, lhe propõe a substituição desses fardos por obras impossíveis; mentiras para convencer os fiéis a suportarem tudo silenciosamente as tradicionais mordomias e ambições do clero. É esta mentira que Lutero denunciará no primeiro grande fato da reforma luterana; o negócio das indulgências. 
               Este comércio começou em 1515. Apesar de toda a costumeira extorsão que a Igreja impunha a seus fiéis, a ambição papal agigantou-se e necessitava de muito mais dinheiro; a construção da Igreja de São Pedro era um dragão a devorar as finanças da Igreja. Para pagar essa enorme construção, o Papa Leão X organizara, especialmente na rica Alemanha, pátria de Lutero, a venda de "indulgências plenárias" que asseguravam aos compradores o perdão de todos os seus pecados e das penas temporais por esses pecados; a absolvição, uma vez na vida, e em caso de morte, de qualquer espécie de pecado; a redução de pena para as almas no purgatório. Sobre esta frutífera venda, alguns príncipes alemães cobravam comissão. Lutero, como sacerdote, pudera constatar no confessionário, o perigo espiritual que trazia esse mercado; discutia e duvidava da legitimidade da doutrina de salvação em que tal comércio implicava. 
                 Lutero não suportava mais os abusos cometidos por alguns pregadores dominicanos, atacou publicamente a doutrina das indulgências papais, estendendo aos poucos suas críticas a outros dogmas e anunciando princípios que sacudiam as próprias bases do edifício católico. Em 31 de outubro de 1517, sobre a porta da capela do castelo de Wittenberg, apareceu afixado um amplo manifesto; eram as "95 teses", que resumiam a doutrina do monge rebelde, suficientes para fazer acusar de heresia seu autor.
                A reação das autoridades eclesiásticas e do próprio Pontífice, logo informado do acontecimento, foi rápida e decidida; Lutero foi chamado a retratar em bloco suas posições. Mas, por detrás de Lutero, alinhavam-se os poderosos senhores que tinham a intenção de apoderar-se dos bens eclesiásticos; também o povo se exaltava com aquela vaga aura e socialismo que pairava nas doutrinas luteranas, muitos estudiosos e teólogos alemães, a quem pesava a dependência espiritual da Igreja Romana. 
                Martinho Lutero tinha, física e moralmente, o estofo inconfundível de chefe e de combatente; maciço de corpo, sanguíneo, egocêntrico, eloquente  e até mesmo presunçoso, tão poderoso no ataque quanto agudo e genial na discussão; o monge rebelde sentiu-se perfeitamente à vontade no papel de reformador. Quando Leão X o ameaçou de excomunhão, caso não se retratasse de suas afirmações, ele queimou o documento pontífice na presença do povo. Esse ato teve um incalculável alcance; o cisma estava declarado e o ex-herege tornou-se mito e fundador de uma nova religião (ou seita) que já contava com numerosos adeptos, em toda a Alemanha. Acenar aqui e acolá, ainda que superficialmente, à substância teológica da doutrina não é, naturalmente, possível; basta dizer que ela negava a autoridade da Igreja romana sobre textos sagrados, confiando a interpretação ao leitor (na realidade, Lutero impunha sua interpretação). seduzia os sacramentos, a liturgia, a veneração pelos santos a simples superstição, afirmava unicamente que a fé em Cristo bastava para garantir o "Paraíso", mesmo ao mais impenitente e calejado pecador. "Seja pecador e peque fortemente, mas creia fortemente", escrevia Lutero ao seu discípulo Melantone. A perturbação das consciências, entre essas teorias, era enorme; já o próprio Imperador Carlos V, embora ameaçado, não pode assumir uma atitude decidida, visto que grande parte de seus súditos estava contra a Igreja, com interesses pessoais. Muitos príncipes, que ate tinham abraçado as novas doutrinas, "protestaram" publicamente em 1524 contra o edito, daí veio o nome de "Protestantes" dado aos Luteranos. 
                  Martinho Lutero estava, no entanto, muito ocupado em esclarecer seus pensamentos (o que, na realidade, jamais conseguia); escrevia volumes e opúsculos eficazmente polêmicos, embora persuasivos, e dedicava-se àquela esplêndida tradução da Bíblia, que foi a base de toda a literatura alemã, até então praticamente inexistente. Além de ter sido o criador da literatura, Lutero foi autor de muitos belos cânticos religiosos.  
                 Uma grande voz cristã acabara de se levantar. Falava de Deus, de seu amor, da salvação, da Igreja, de uma maneira diferente, que não lançava as almas numa angústia invencível e eterna. Aquela voz, como poderia ser diferente, provocou ecos em toda a vida religiosa cristã. 
                        É a fé de Lutero que temos de conhecer se quisermos conhecê-lo. 
                 Nos últimos anos, Lutero viveu pacificamente, sempre escrevendo e pregando, rodeado de filhos (casara-se em 13 de janeiro de 1525) e de discípulos, protegido pelas armas e pelo prestígio do "leitor" da saxônia. Morreu em 1546, em Eisleben; um ano antes, Paulo II instalara o Concílio de Trento, que, além de reconduzir a Igreja a uma vida mais consentânea com os princípios do Cristianismo, iria opor uma válida defesa para aqueles que ficou conhecida como heresia luterana. Infelizmente, porém, a unidade dos católicos fora irremediavelmente partida e o protestantismo crescia a olhos vistos.  
               A originalidade de Lutero é seu protestantismo, isto é, a decisão de colocar o problema humano do destino em função apenas de Deus; isto é, não apenas a decisão de colocá-lo nestes termos, com inflexível rigor contra o humanismo puro do Renascimento e o humanismo desvitalizado do catolicismo; é a convicção crua, firme, mantida ante todos os  crentes e entre si mesmo, de que esse problema único está resolvido plenamente no Evangelho de Jesus Cristo, alcançado apenas pela fé do crente. 
                Hoje, a igreja que leva seu nome, no mundo inteiro, com milhões de fiéis, e todos os cristãos que pertencem a qualquer uma das correntes religiosas oriundas da Reforma sabem quanto devem a esse genial iniciador. Nisso concordam tanto aqueles que tentam denegri-lo como aqueles que o exaltam. Não se pode duvidar de que os objetivos de Lutero era o bem de todos, baseado nos reais princípios do Cristianismo. Infelizmente, a igreja Protestante (evangélicas), no decorrer de seu desenvolvimento, foi absorvendo pessoas inescrupulosas, verdadeiros estelionatários (vendilhões do tempo), cujos objetivos são unicamente explorar os menos favorecidos intelectual e financeiramente. 
                    A Igreja Protestante ou evangélica não tem a organização da Igreja Católica com um centro de poder e normas para criação de novos templos (igrejas). Milhares de igrejas, que se denominam Protestantes ou Evangélicas, estão espalhadas pelo mundo todo, e muitas praticando toda a espécie de atitudes frontalmente contrárias aos princípios cristãos. Mas precisamos ser sábios para separar o "joio do trigo". Muitas são aquelas que procuram conduzir seus fiéis, sem explorá-los, nos princípio que Cristo pregava sem lhes cobrar dízimos. Cabe aqui lembrar que foi justamente contra atitudes como essa que resultou na cisão da igreja católica provocada por Lutero. 


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No Brasil, onde as igrejas ainda tem isenção fiscal, muitas são utilizadas para a sonegação; Hoje facilmente encontramos, casas comuns, estacionamentos, depósitos etc. com uma placa de "Igreja", cujos nomes são os mais estranhos. É um problema de difícil solução porque o poder também está dominado por supostos religiosos que usam a igreja para se elegeram, tanto que existe "bancadas evangélicas" até mesmo em câmaras municipais.
Qualquer pessoa pode criar uma pseudo "igreja" que, teoricamente, é "sem fins lucrativos", mas que na verdade esconde interesses financeiros e de poder dos espertalhões. São falsas igrejas religiosas que exploram seus fiéis de maneira a fazer inveja ao próprio Papa Leão X.