Total de visualizações de página

domingo, 2 de junho de 2019

OS CÉTICOS, HERÉTICOS E HETERODOXOS


Clique na foto para ampliar 


O Livro Físico já está á venda na >> www.allprinteditora.com.br

                 Desde a nossa mais tenra idade fomos acostumados a escutar relatos falsificados sobre deus, e á séculos nosso espírito está tão impregnado de preconceitos que acaba protegendo mentiras fantásticas como se fossem um tesouro; a pressão é tanta que desperta em alguns a busca da "verdade verdadeira" e finalmente toda essa deturpação nos parece não ser digna de crédito. "Conheceis a verdade e ela vos libertará". Esta frase famosa é atribuída ao pensador e pregador Jesus de Nazaré. É essa verdade que pouco a pouco está aparecendo diante dos nossos olhos. 
               Às vezes os sábios zombam dos sacerdotes, como quando Chandogya Upanishad assemelha o clero ortodoxo a uma procissão de cães, um a agarrar a cauda do outro e a dizerem piedosamente, "Om, comamos; Om,  bebamos". Outro, o Swasanved Upanischad, anuncia que não há deus, nem céu, nem inferno, nem reencarnação, nem mundo; que os Vedas e Upanishad  não passam de coisa de loucos; que suas ideias são ilusões e suas palavras não contém verdade; que o povo, embriagado pelo floreio retórico, agarra-se aos templos, deuses e "homens santos", embora na realidade não haja diferença entre Vishnu e um cão. E conta a história de Virocana, que viveu como discípulo do grande deus Prajapati durante 32 anos, recebeu muita instrução sobre "o Ego livre do mal, imortal, sem idade, sem dores, sem fome, sem sede, cujo desejo é o Real" e subitamente voltou à terra para pregar uma doutrina escandalizadora: "Só podemos ser felizes aqui na terra se pudermos ajudar-nos a nós mesmos. Aquele que se faz feliz aqui na terra e se ajuda a si mesmo conquista os dois mundos, este e o outro." Talvez os bons brâmanes, que nos preservaram a história da Índia, nos tenham enganado a respeito da unanimidade piedosa e do misticismo desse povo. 
                Realmente, à proporção que os estudiosos vão desenterrando algumas figuras da filosofia indiana anterior a Buda, um quadro vai tomando forma, no qual, ao lado de santos que meditam um Brahman, encontramos uma variedade de criaturas que desprezam os sacerdotes, duvidam de todos os deuses e não trepidam em adotar o nome de Nastiks, ou niilistas. Sangaya, o agnóstico, nem admitia nem negava a vida depois da morte; punha em dúvida a possibilidade do conhecimento e limitava a filosofia a fins terrenos - à procura da paz. Purana Kashyapa recusou-se a aceitar distinções morais e ensinou que a alma é uma escrava do acaso. Maskarin Gosala sustentou que o destino determinava tudo, independentemente dos méritos do homem. Ajita Kasakambalim reduziu o homem a terra, água, fogo, vento e disse: "Os loucos e sábios, na dissolução do corpo, são igualmente aniquilados, e depois da morte cessam de ser. O autor do Ramayana pinta em Jabali um cético que mete a riso Roma por ter rejeitado um reino a fim de guardar um voto. 
 ************************************
                      Jabali, o sábio brâmane e o sofista de palavra hábil, pôs em dúvida a Fé, a Lei e o Dever e falou ao jovem senhor de Ayodhyas: "Por que motivo Roma, teu coração se envolve nas induteis máximas que enganam a ingênua humanidade? Ah, eu lamento os pobres mortais que, tomados por este erro, sacrificam os seus prazeres nesta vida e por fim morrem inutilmente, oferecendo sacrifícios aos deuses e aos padres. Desperdício de comida! porque nenhum Deus ou Pai recebe nossas pias homenagens! E poderá o alimento compartilhado por um homem nutrir outro? Pode o alimento doado a um brâmane servir a nossos pais? Hábeis sacerdotes forjam essas máximas e com egoístico objetivo dizem: " fazei oferendas e fazei penitência, deixai as riquezas do mundo e orai! Nã há além, Roma; a esperança e a fé dos homens são coisas vãs. Procura o prazer do presente, afasta de ti as pobres ilusões."

**************************************

               Quando Buda entrou na virilidade, encontrou as salas, as ruas e até as florestas da Índia ressoantes de disputas filosóficas, com grandes tendências ateístas e materialistas. O último dos Upanishads e os mais velhos livros budistas estão cheios de referências a essas tendências heréticas. Uma grande classe de sofistas itinerantes - o Paribbajaka, ou viajantes - gastavam parte do ano em ir duma localidade a outra procurando discípulos ou adversários filosóficos. Alguns deles ensinavam a lógica como a arte de provar tudo quanto queremos. Outros demonstravam a inexistência de Deus e a inutilidade da virtude. Grandes assistências se reuniram para ouvir essas prelações e debates; grandes salas foram construídas para acomodá-los; e às vezes príncipes ofereciam recompensas aos vencedores de tais juntas de intelectuais. Foi uma época de absoluta liberdade de pensamento e de inúmeras experiências no campo filosófico. 
               Pouco nos chegou do pensamento desses céticos; sua memória nos foi preservada sobretudo pelas diatribes dos seus inimigos. O mais velho de todos era Brihaspati, cujos Sutras niilistas pereceram, salvo um poema denunciando os sacerdotes em linguagem livre de todo o obscurantismo metafísico: 
Não existe céu, nem libertação final, 
Nem alma, nem outro mundo, nem ritos de casta...
O tríplice Veda, o tríplice mandamento, 
E todo o pó e todas as cinzas do arrependimento - 
Isto só serve de meio de vida para 
Homens vazios de intelecto e varonilidade...
Como  pode este corpo, quando reduzido a pó, 
Voltar à terra? E se uma alma fantasma pode passar Dum 
mundo para outro, por que as fortes afeições que o 
Morto deixa neste mundo não fazem seu fantasma voltar?
Os custosos ritos em torno dos que morrem
Não passam de meios de vida, inventados 
pela habilidade dos sacerdotes - nada mais...
Enquanto perdura a vida, vivamos na folga e no prazer; 
Deixemos que o homem tome emprestado de 
Todos os amigos e regale-se em manteiga derretida. 

**************************************
             
                 Dos aforismos de Brihaspati saiu toda uma escola  de materialistas hindus conhecidos pelo nome de um deles, o Charvaskas. Eles riam da ideia de que os Vedas fossem revelação divina; a verdade, diziam, nunca pode ser conhecida, exceto através dos sentidos. Nem na própria razão podemos confiar, porque cada inferência depende, para a sua validade, não só da acurada observação e do correto raciocínio, como também da admissão de que as coisas no futuro se comportarão como no passado; e disto, como iria dizer Hume, não podemos ter certeza. O que não é percebido pelos sentidos, adianta Charvaskas, não existe; portanto, é a alma uma ilusão, e Atman uma mistificação. Não observamos, através da experiência ou da história, nenhuma interposição de forças sobrenaturais nos acontecimentos e coisas deste mundo. Todos os fenômenos são naturais; só os ingênuos os relacionam a deuses e demônios. A matéria ´-e a única realidade; o corpo, uma combinação de átomos; o espírito, mera matéria pensante; o corpo, não a alma, sente vê, ouve, pensa. Quem já viu a alma separada do corpo? Não há imortalidade, não há reencarnação. A religião é uma monstruosidade, uma doença ou uma patifaria; a hipótese de um Deus é inútil para explicação e compreenção do mundo. Julgam os homens e a religião necessária porque, estando a ela afeitos, sentem um vácuo sempre que o crescer do conhecimento destrói a fé. A moralidade também é natural; é uma convenção social e uma conveniência, nada tem de divino. A natureza é indiferente ao bom ou ao mau, à virtude ou a vício; o sol brilha indistintamente sobre os ladrões e os santos; se há na natureza alguma qualidade ética, só pode ser a sua transcendente imoralidade. Não é necessário controlar o instinto e a paixão porque disso se encarrega a natureza -m  são as instruções da natureza ao homem. A virtude é um equívoco; o propósito da vida é viver, e a única sabedoria é a felicidade. 
              Esta filosofia revolucionária dos Charvakas pôs fim à era dos Vedas e dos Upanishades. Enfraqueceu o poder dos brâmanes sobre sobre a mente da Índia e deixou na sociedade indiana um vácuo propício ao surto dum novo credo. Mas o trabalho dos materialistas fora muito profundo - tão profundo que as duas novas religiões que viriam substituir a védica, por mais estranho que pareça, seriam religiões sem deus, religiões ateístas. Ambas pertencem ou fazem parte do Nastika ou movimento niilista; e ambas originaram-se,m não de nenhum brâmane, mas de membros da casta guerreira (xaritas), numa reação contra a teologia e o cerimonialismo sacerdotal. Com o advento do Jainismo e do Budismo, uma nova época iria ter começo na história da Índia. 

************************************

                Quando se fala em nome de Deus, os seres humanos sempre se prostram. Sabendo disso os espertos líderes religiosos, políticos e governantes, se aproveitam da ingenuidade dos seus seguidores para extorquir-lhe e impor-lhes suas ideologia. 
              A virtude, a ingenuidade, a piedade do povo, além do apoio dos reis, acabou se tornando mais opulenta que aristocracia feudal e à própria família real. Os sacrifícios oferecidos aos deuses, já na antiguidade, iam diretamente para as mãos dos sacerdotes; os templos lhes garantiam moradias e as rendas das terras, dos templos e dos serviços eram avultados e sempre isentos de taxas e impostos e seus filhos livres do serviço militar. 

************************************

               O grande escritor Heródoto os descreve quase com pavor: 
                São de todos os homens os mais excessivamente atentos a adoração dos deuses, e observam as seguintes cerimônias... Usam trajes de linho, sempre lavados e frescos... São circuncisos, a bem da higiene, achando preferível serem limpos a serem belos. Depilam o corpo inteiro de três em três dias, de modo que nenhum piolho ou impureza se juntassem neles... Lavam-se em água fria duas vezes por dia e três à noite." 
              As morais, portanto, passaram a ser apoiadas pelas sanções religiosas, porque o mistério e o sobrenatural fornecem um suporte que por si mesmas não possuem as coisas empiricamente conhecidas e geneticamente compreendidas; os homens são mais facilmente governados pela imaginação do que pela ciência. 
                   À época em que Gautama Buda se entregou à vida religiosa, o Bramanismo estava passando por profunda crise, porque os homens mais evoluídos tinham começado a duvidar dos poderes supremos dos sacerdotes, porque estes, na verdade, exercitavam artes mágicas que os faziam parecer mais feiticeiros de tribos primitivas do que expoentes de uma civilização superior; pretendiam saber dobrar á sua vontade os deuses, mas, ao mesmo tempo, nem sempre sabiam responder satisfatoriamente aos grandes interrogatórios sobre o bem e o mal, sobre a existência da alma e sobre a eternidade; dúvidas que sempre atormentaram o espírito do homem religioso. Em consequência disso, muitos jovens frequentemente oriundos das melhores famílias, abandonam a religião oficial, personificada pelos brâmanes, e passaram a seguir algum homem que julgavam mais sábio. Um olhar mais atento nos levará a perceber que isto está acontecendo com os jovens de nossos dias. A ostentação e exploração financeira promovida pelas religiões está despertando uma nova visão na juventude mais esclarecida. 

**************************************

                   Há dois mil anos, o antigo geógrafo "Estrabão" expressou ideias muito adiantadas a este respeito, disse ele:
               "Ao lidar com a multidão de mulheres, ou com uma massa promíscua, o filósofo não consegue influenciá-las pela razão, exortando-as à piedade, à fé; faz-se necessário o medo religioso, e este medo não pode ser criado sem mitos e maravilhas. Porque trovões, escudos, tridentes, archotes, cobras, lanças, tirsos (armas dos deuses) são mitos, e isto está em toda a velha mitologia. Mas os fundadores de Estados deram sua sanção e essas coisas, como a papões que amedrontam os espíritos simples. E como esta é a natureza da mitologia, e como eta tem seu lugar no plano da vida social, bem como na história dos fatos, os antigos agarravam-se aos seus sistemas de educação de crianças e aplicavam-nos aos homens de idade madura; e por meio da poesia supunham poder satisfatoriamente disciplinar todos os períodos da vida. Mas agora, depois de longo tempo, a escrita da história e da filosofia vieram para frente. A filosofia, entretanto, é coisa para poucos, ao passo que a poesia é própria para as massas.

****************************************

                   Voltaire, o mais conhecido filósofo francês disse: 
              "E tão grande a fraqueza do gênero humano, tamanha a sua perversidade, que, sem dúvida lhe vale mais estar subjugado por todas as superstições possíveis - desde que não tenham caráter assassino - do que viver sem religião. O homem sempre teve necessidade de um freio e, por ridículo que fosse sacrificar aos faunos, aos silvanos ou às náiades, era mais razoável e mais útil adorar essas imagens fantásticas da divindade do que entregar-se ao ateísmo. Um ateu que fosse razoador (que faz uso da razão), violento e poderoso, seria um flagelo tão funesto como um supersticioso sanguinário. Quando os homens não dispõe de sãs noções acerca da divindade, as ideias falsas superam-lhe a falta, tal como nos tempos de desgraça se fazem negócios com moeda falsa quando falta a moeda boa. O pagão, se cometia um crime, temia ser punido pelos seus falsos deuses; o malabar teme ser punido pelo seu pagode. Em todo o lado onde há uma sociedade estabelecida, é necessária uma religião. As leis exercem vigilância sobre os crimes conhecidos, a religião exerce-a sobre os crimes secretos. Mas a partir do momento em que os homens chegam a abraçar uma religião pura e santa, a superstição torna-se não apenas inútil, mas muito perigosa. Não deve tentar alimentar com bolotas aquele que Deus se digna alimentar com pão. A superstição está para a religião como a astrologia está para a astronomia, a filha louca de uma mão sábia. Essas duas filhas subjugaram, durante muito tempo, a terra toda. 

**************************************
PARA LER O LIVRO DESDE O INÍCIO

Se você quer adquirir algum livro do Romeo 






Nenhum comentário:

Postar um comentário