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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

HISTÓRIAS DA CRIAÇÃO, DA TENTAÇÃO E DO DILÚVIO


                Com o despertar da própria consciência, o homem percebe que existe um poder muito superior a ele e sente medo. O começo, tanto do tempo como da criação, desperta sua curiosidade e passa a prestar atenção ao mundo que o rodeia.
             Na sua evolução, o homem vai tomando consciência de sua dependência e de sua própria fragilidade diante universo. Percebe a relação e influência que circula entre o universo e seu corpo. Olha para o céu e busca respostas nas estrelas; seu medo do desconhecido aumenta com a evolução de sua consciência. 
               Quando descobre a possível existência de um deus, curva-se diante dos acontecimentos cósmicos; busca uma revelação divina que nele adquire forma e cor; vê seu corpo como um instrumento para encontro com o divino. 
                 O homem primitivo era, por natureza, andarilho e passava os dias à procura de alimentos. Seus pensamentos voltam-se sempre para o poder superior que existe do qual ele nada entende. Em seu pensamento esse poder toma a forma de um ser humano que passa a chamar de deus que está no céu e governa toda a terra. Surgem os primeiros profetas andarilhos que tentam explicar sobre o poder desse deus, mas logo se colocam como seus representantes na terra; eles dizem ser a ponte que liga o homem comum a esse deus que vive no céu. 
                  As primeiras idéias de religião nasceram das preocupações com os acontecimentos do dia-a-dia de cada homem e da tribo a que pertence. Ainda não existe a ideia de governo, mas deus está vendo e controlando tudo. Dessa forma uma espécie religião primitiva, em nome de deus, passa a governar toda a tribo e garantir a paz e a união entre seus membros. A superstição surge e aumenta na mesma proporção em que o homem primitivo vive uma existência governada pelo acaso. Deus tudo sabe, tudo vê e dele ninguém escapa quando comete alguma coisa errada. Está aberto o caminho para os profetas criarem as primeiras "Leis Divinas".
                   O povo do Egito à 4.000 anos a. C. já tinha forjado uma forma de governo. A população, ao longo do rio, estava dividida em nomes (do grego nomos, ou lei); reconheciam o mesmo totem obedeciam o mesmo chefe, adoravam o mesmo deus e seguiam os mesmos ritos.  Era um povo muito poderoso. Um provérbio árabe diz: "Toda a gente teme o tempo, mas o tempo teme as pirâmides." 
                        A tradição exigia que os governantes egípcios fossem filhos do grande deus Amon; Hatxepsú exigiu ser declarada ao mesmo tempo macho e fêmea. Apareceu logo uma biografia com a de que Amon havia envolvido Ahmasi, a mãe da rainha, numa nuvem de perfume e luz, e fora aceito e copularam; e ao retirar-se anunciou o deus que Ahmasi daria à luz uma filha em quem todo o valor de deus se manifestaria na Terra. Para satisfazer os preconceitos do povo, e talvez o secreto desejo de seu coração, a grande rainha fez-se representar, em todos os monumentos, barbada e sem seios; embora as inscrições a ela se referissem com o pronome feminino, não hesitaram em dá-la como "Filha do Sol" e "Senhor das duas Terras". Quando aparecia em público, vinha sempre vestida de homem e com barba postiça. 
         As histórias da Criação, da Tentação e do Dilúvio foram tiradas das lendas da Mesopotâmia, possivelmente 3.000 anos a.C. 
                 Tudo indica que os judeus se apropriassem de alguns dos mitos da Babilônia durante o cativeiro; e mais provável ainda que os tomassem das antigas fontes semíticas  ou sumerianas, comuns a todo o Oriente Próximo.
                 O mito da Criação tem formas persas e talmúdicas; representam Deus criando um ser duplo - macho e fêmea reunidos pelas costas (como irmãos siameses) depois dividindo por achar que assim seria melhor. No Gênesis (v, 2) encontramos uma estranha que diz: "Macho e fêmea criou Ele, e abençoou-os e chamou-lhes Adão". Com isso podemos concluir que, segundo as informações bíblicas, nossos primeiros pais foram originariamente macho e fêmea. Este fato parece ter ocupado todos os antigos teólogos, exceto Aristófanes. ( Encontrado em Simposium, Platão. 
           O jardim do Éden, do hebraico (Gan Eden) é o local onde ocorreram os eventos narrados no livro do Gênesis (Gen, 2 e 3). ali encontra-se descrito a forma como Deus criou o homem e também o jardim que chamou de Éden; e mandou que o homem cultivasse e cuidasse. A Tentação no Eden  aparecem em quase todos os folclores - no Egito, na Índia, no Tibé, na Babilônia, na pérsia, na Grécia, na Polinésia, no México. Muitos desses jardins possuem árvores proibidas e serpentes ou dragões que roubam a imortalidade do homem, ou eventualmente o paraíso. Hesíodo, poeta grego, que viveu 750 a. C. , em Trabalhos e Dias narra: "Os homens viviam como deuses, sem vícios ou paixões, vexames ou trabalhos. Em feliz acordo com os seres divinos, passam os dias na paz e na alegria... A Terra era mais bela do que agora, e espontaneamente dava abundante variedade de frutos... Os homens consideravam-se perfeitamente moços aos cem anos de idade". 
                Tanto a serpente como o figo foram provavelmente símbolos fálicos; atrás do mito está a opinião de que o sexo e a ciência destroem a inocência e a felicidade, e são a origem do mal.; encontramos essa mesma ideia no Eclesiastes. Na maior parte dessas histórias, a mulher era o gentil agente da cobra ou do diabo, seja Eva ou Pandora, ou ainda a Poo See da lenda chinesa. O Shi-ching, (da lenda chinesa) diz: "Todas as coisas eram a princípio sujeitas ao homem, mas uma mulher nos lançou na escravidão. Nossa miséria não vem do céu, mas da mulher; ela perdeu a raça humana. Ah, infeliz Poo See! Tu acendeste o fogo que nos consome e que sempre aumenta... O mundo está perdido. O vício tudo domina."
              Essas idéias contra as mulheres perduram até hoje. Em muitos lugares, em pleno século XXI, as mulheres ainda são consideradas seres inferiores e prejudiciais ao homem. Ao que tudo indica, ainda levaremos muito tempo para nos livrarmos desses absurdos criados pelas religiões ao longo dos séculos. 
               A lenda do Dilúvio é ainda mais universal. Praticamente todos os povos antigos tinham esta fábula em seu corpo de lendas; poucas montanhas da Ásia não foram o ancoradouro de algum Noé ou Shamash-napishtim. 
              Essas histórias fabulosas eram motivo de alegria e veículo ou alegoria dum pensamento filosófico, ou ético de longa experiência racial. 
               As religiões sempre procuraram mostrar ao crente que o sexo e o conhecimento trazem mais sofrimento do que alegria, e que a vida humana está permanentemente ameaçada pelas inundações, isto é, pelas calamitosas enchentes dos rios que flagelavam as velhas civilizações. Para os escritores dessas lendas era importante manter a massa do povo inculto; dessa forma seria mais fácil mantê-lo sobre seu controle sem o uso de força. Ainda hoje, com todo o avanço científico, os lideres que cultivam a revolta e o ódio não querem que a humanidade se ilumine, que perceba sua verdadeira natureza. Vibrações geradas pelos pensamentos e sentimentos criam uma massa psíquica que alimenta a ignorância. O ser humano passa a ser o cordeiro que segue a sineta do líder sem perguntar para onde vai. O universo é harmonia no mais amplo sentido da palavra; o bem e o mal são apenas modos de ver a harmonia e a desarmonia. 
                Perguntar se tais lendas e histórias fabulosas são ou não verdadeiras, se isso realmente aconteceu, seria propor uma questão superficial e vulgar, seria voltar ao primitivismo humano, pois, está claro que não são o que a história conta. Por outro lado, seria um desacerto não gozarmos de sua encantadora simplicidade e forma narrativa. 
               


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